«A cultura tem de deixar de ser tão mariquinhas. Eu não gosto de choramingões, e há trinta anos que vejo gajos a choramingar e a traírem-se uns aos outros, a andar de punho cerrado e por trás a lamber o cu ao ministro ou ao secretário de Estado. Por isso, sabes o que te digo, eu caguei. Podes mesmo escrever, eu caguei para isso, cago para a política cultural. [...] Há coisas que não deviam ser subsidiadas, pura e simplesmente, ponto. Estão a tirar o lugar a outros. Os critérios não existem: são do compadrio [...] Cá temos pouco dinheiro e pouca atenção. Historicamente, o PSD sempre teve muito pouca sensibilidade cultural, o que é curioso porque o Durão Barroso sempre gostou das artes performativas. Vi-o muitas vezes, tal como ao Paulo Portas, em espectáculos, mas nunca vi gente de esquerda.»
Tuesday, July 12, 2011
Miguel Guilherme, sobre os subsídios
«A cultura tem de deixar de ser tão mariquinhas. Eu não gosto de choramingões, e há trinta anos que vejo gajos a choramingar e a traírem-se uns aos outros, a andar de punho cerrado e por trás a lamber o cu ao ministro ou ao secretário de Estado. Por isso, sabes o que te digo, eu caguei. Podes mesmo escrever, eu caguei para isso, cago para a política cultural. [...] Há coisas que não deviam ser subsidiadas, pura e simplesmente, ponto. Estão a tirar o lugar a outros. Os critérios não existem: são do compadrio [...] Cá temos pouco dinheiro e pouca atenção. Historicamente, o PSD sempre teve muito pouca sensibilidade cultural, o que é curioso porque o Durão Barroso sempre gostou das artes performativas. Vi-o muitas vezes, tal como ao Paulo Portas, em espectáculos, mas nunca vi gente de esquerda.»
Saturday, July 9, 2011
Miguel G. Mendes takes the wheel of The Gospel According to Jesus Christ

Miguel Gonçalves Mendes spent four years with Nobel Prize for Literature winner José Saramago and his wife, Pilar del Rio, times out of which he shaped one of the most beautiful, complete and sensitive films the Portuguese cinema has ever seen. That is José and Pilar, a 125-minute documentary that strewed all over the world in film festivals and that has recently inspired a popular movement asking the Portuguese Institute of Cinema to pick it up for the country's submission for the Academy Awards' Best Foreign Movie categorie.
Although in film one shall never consider the closing of a cycle, for each film sprawls itself throughout the history, this project is actually coming to a point of recognized accomplishment and well deserved sense of fulfillment. And within the next months, because we still have to wait to see how it goes (if it goes) in the other side of the Atlantic, it is time for new adventures.
"It is the most cinematic of José Saramago's novels, the one with the adequate structure for film." states Miguel seconds after announcing he's preparing the adaptation of The Gospel According to Jesus Christ in a production with an international cast and crew, still unannounced.
"This film is about how cruel the mankind can reach, whether it is because of power, money, relationships or some god.". Among the other homonyms adaptations of the writers work we count George Sluizer's La Balsa de Piedra (2002), Meirelles' Blindness (2008) and António Ferreira's Embargo (2010).
Sunday, July 3, 2011
Querem "José e Pilar" nos Óscares ?

José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, foi o documentário português mais visto de sempre e o filme português mais visto do ano. A isto se junta a boa recepção junto da crítica nacional e internacional e do público, sempre afável e carinhoso para com o filme. Pessoalmente, considero-o uma das melhores peças já produzidas pelo nosso cinema.
Portugal detém o recorde de maior número de submissões ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro sem qualquer nomeação. Nos últimos anos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana tem revelado uma abertura maior a nível internacional, pelo que achamos que José e Pilar seria a escolha ideal: co-produção entre a JumpCut, a O2 (de Fernando Meirelles) e a El Deseo (de Pedro Almodóvar), com uma figura internacional reconhecida e acarinhada - José Saramago, o primeiro Nobel da Literatura português - teve muito sucesso na bilheteira e crítica do nosso país, recebeu nomeações na Academia Brasileira de Cinema, em festivais internacionais e recebeu excelentes críticas da Variety, Cahiers du Cinema, entre outras.
Foi hoje mesmo lançada uma petição online que tem o objectivo de recolher o máximo número de assinaturas possível para ser apresentada ao ICA (Instituto do Cinema e Audiovisual), que deverá escolher qual o filme português a ser candidato a uma nomeação para Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Apoiem esta iniciativa assinando AQUI e quem sabe estejam a assinar o vosso nome naquele que pode vir a ser um marco histórico para o cinema português. E depois não deixem de acompanhar o estado de coisas no blog oficial do projecto José e Pilar nos Óscares, http://joseepilaraososcares.blogspot.com/
Friday, July 1, 2011
Fernando Pessoa wrote for the screen
Foram compilados e estão prontos para ser divulgados uma série de argumentos cinematográficos da autoria de Fernando Pessoa. Sob o título de Film Arguments, escritos em três línguas, o poeta português terá desenhado um conjunto de curtas histórias para cinema, ainda na altura do cinema mudo. São descritas pelos tradutores da obra em que serão lançados (Patrício Ferrari e Claudia J. Fisher) como thrillers, com toques de comédia, baseados em trocas de identidade, ressonância temática dos seus conhecidos e deliciosamente complexos versos. Além disso, terão sido encontrados planos do escritor para a criação da sua própria produtora cinematográfica, a Ecce Film, cujo logotipo terá sido desenhado pelo próprio. A obra, Obras de Fernando Pessoa, chega às livrarias a 08 de Julho.
Friday, June 17, 2011
"José e Pilar" amanha na Cinemateca; DVD e CD

É já amanhã, dia 18 de Junho (Sábado), que se comemora o ano da morte de José Saramago, numa comemoração que se quer tão digna e marcante quanto o seu próprio Ano da Morte de Ricardo Reis. A partir das 14h30 de amanhã, poderão comprar na bilheteira da Cinemateca Portuguesa os bilhetes para o filme (que variam numa escala entre 1,25€ e 2,5€), que passará no auditório principal às 21h30, que darão ainda acesso à festa oficial na discoteca LUX, na mesma noite. Paralelamente, e pelo mesmo propósito, dá-se o lançamento do DVD e da Banda-Sonora oficiais do filme nas FNAC de todo o país, este último contando com inéditas reflexões proferidas pelo próprio José Saramago.

José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes
Saramago apenas começou a escrever aos sessenta anos e, desde então, lançou mais de trinta livros e foi condecorado com o prémio máximo na área da literatura, o Prémio Nobel em 1998. Aqui, corremos pelos últimos anos da vida de um dos mais importantes autores da história da lusofonia e antes andássemos apenas, pois tudo passa demasiado rápido - quem era, afinal, o homem por trás de tão sagazes parábolas, por trás do sensacionalismo da imprensa na sua aguda relação com a vida política portuguesa ? Miguel Mendes leva-nos até Lanzarote, à sua casa e biblioteca, traz-nos a Lisboa e à Azinhaga, leva-nos a Madrid e à Finlândia, enfim, uma série de rotas, como a que escrevia na altura: A Viagem do Elefante ("Sempre chegamos ao sítio onde nos esperam."). A sua relação com Pilar, seu grande suporte para a vida e para a escrita, a quem dedica tudo, faz todo o sentido - a cumplicidade, a admiração mútua, a coordenação de esforços, a paixão pelos ideais e a incessante discussão ordenada entre eles e para com o mundo. A naturalidade das conversas, dos olhares e das reflexões (belíssimas !) são captadas com exímia sensibilidade e os enquadramentos intrigados e a montagem narrativa tornam José e Pilar duas personagens de uma ficção real, com direito a plot conjunto e a um subplot para cada um deles. O filme, co-produção com a O2 de Fernando Meireles ("Cidade de Deus") e a El Deseo de Augustín e Pedro Almodóvar ("Habla Con Ella"), teve estreia comercial em Espanha, Brasil e em Portugal bateu o record de tempo de filmes portugueses em sala: cinco meses. Não hesito em afirmar que é uma das melhores peças que o nosso cinema já produziu.
Saturday, June 11, 2011
Guião e notas de Monteiro, em Recordações da Casa Amarela

Um grande achado de Paulo Soares. O guião de Recordações da Casa Amarela de João César Monteiro teria sido, por si só, uma descoberta surpreendente, mas esta vai mais longe e deixa-nos as notas e os rabiscos que fez o a meu ver melhor argumentista que o cinema português alguma vez teve. Deixo o link.
A huge discovery by Paulo Soares. João César Monteiro's Recollections of the Yellow House screenplay alone would've been a surprising dig, but this one goes further and unveils us the notes and sketches drawn by who I consider to be the greatest screenwriter the portuguese cinema has ever had. Have the link.
Monday, May 9, 2011
IndieLisboa'11: Viagem a Portugal (2010) (dia 4)

A história não tem segredo de maior e é baseada num caso verídico. O poder está no bailado linguístico que Tréfaut conseguiu criar, dando particular credibilidade e força ao diálogo em português, algo que dificilmente se vê fazer. Depois, a estratégia foi contar os acontecimentos basicamente através das reacções das personagens e teve a sorte de ter Maria de Medeiros a fazer uma das interpretações da década (se contarmos como pertencendo à década passada, que daqui a uns anos não acontecerá); Isabel Ruth absolutamente maravilhosa e Diop também muito bem.
Sunday, May 8, 2011
IndieLisboa'11: cobertura (dia 3)

Friday, April 29, 2011
Sala Manoel de Oliveira
Friday, April 22, 2011
Ruiz volta a filmar em Portugal - será desta ?
Na altura escrevi no blog sobre a minha grande expectativa em relação a "Mistérios de Lisboa", produzido por Paulo Branco, escrito por Carlos Saboga, protagonizado por portugueses, apesar de ser realizado pelo chileno - obra lusitana, portanto. Questionei-me sobre se não seria o nosso primeiro grande épico. Da mesma forma, também na altura própria, manifestei o meu grande desagrado em relação ao filme, com os argumentos que apresentei neste mesmo espaço.
Chegou à poucos dias a notícia de que Raul Ruíz voltará a filmar em Portugal, de novo sob a alçada de Branco (que entretanto também está de volta de "Cosmopolis", de Cronenberg), o filme de título "As Linhas de Torres Vedras", sobre as invasões francesas em Portugal. Será este o título original e terá como tradução inglesa "The Lines of Wellington", e contará com monstruoso (para a nossa realidade) orçamento de quatro milhões e meio de euros.
Volto a ter grande expectativa e volto a depositar neste filme a esperança que depositei no outro, que, ainda assim, foi bem recebido. Com tamanho orçamento, não há razão para não se fazer um grande filme e estou certo de que o realizador estará à altura. A minha grande dose de cepticismo vai, enfim, para o argumentista, o mesmo, que também escreveu "Milagre Segundo Salomé", cuja crítica também já aqui deixei. Espero que, no mínimo dos mínimos, se dedique a uma exaustiva pesquisa ao estilo kubrickiano.
Wednesday, April 6, 2011
Bananas da Colômbia
Só porque o senhor era genial, porque me tenho lembrado dos seus magníficos diálogos nos últimos tempos, porque ainda não tinha tido lugar por aqui, porque me apeteceu.
Thursday, March 24, 2011
Rita Blanco no próximo filme de Michael Haneke

Além disso, vai contracenar com a internacionalmente conceituada actriz de culto, Isabelle Huppert. Uma notícia extraordinária para o cinema português.
Saturday, December 11, 2010
Cento e Dois Anos
Friday, December 3, 2010
Fá-las curtas !
"De acordo com Jorge Wemans, director de programas da RTP2, trata-se de um concurso inédito em Portugal, inspirado num modelo canadiano (Fait ça courts no original), que será apresentado “tipo taça de Portugal”, começando com 16 equipas que concorrem umas contra as outras, em pares, que se vão apurando sucessivamente como se fosse para os quartos de final, meia final e final.
Os telespectadores serão conduzidos pela actriz e apresentadora Filomena Cautela através dos bastidores da rodagem de cada curta, revelando em estilo “making of” todos os passos dados pelas duplas de argumentistas e realizadores até ao produto final.
Cada programa acompanha duas equipas em competição, mostrando a forma como trabalharam e as curtas-metragens que realizaram.
Para realizar os filmes, os jovens concorrentes contam com todos os meios necessários fornecidos pela organização, desde equipamento, a cenários, passando pelos actores, mas têm de cumprir determinadas regras para se manterem em concurso.
As duplas têm três dias para preparar e finalizar cada curta-metragem, que terá uma duração de dois a três minutos.
“No primeiro dia tomam conhecimento do cenário (igual para as duas duplas a concurso em cada programa) e dos atores com quem vão trabalhar. Nesse mesmo dia escrevem o guião para filmarem no dia seguinte. No último dia editam as imagens”, explicou António Borga, da produtora responsável pelo concurso, a Valentim de Carvalho.
Para realizar os filmes, os concorrentes contam com todos os meios necessários fornecidos pela organização, desde equipamento a cenários, passando pelos actores.
Entre os atores que irão participar nas curtas-metragens estão Filipe Duarte, Catarina Wallenstein, André Gago, Sandra Celas, Gonçalo Waddington, Vítor Norte, São José Correia e Cucha Carvalheiro, que, segundo António Borga, “têm aderido entusiasticamente a esta ideia”.
O júri que irá avaliar semanalmente os trabalhos das duplas é constituído por dois realizadores: Joaquim Leitão e João Garção Borges.
As 16 equipas concorrentes já foram escolhidas, a partir de 78 candidaturas aceites, e durante o concurso serão submetidas à avaliação de um júri, que determinará quais as que seguem em frente e quais as que ficam para trás.
Um dos grandes objectivos deste programa, segundo Jorge Wemans, é promover a realização de curtas-metragens em Portugal, um desígnio que a RTP2 tem vindo já a cumprir com o programa Onda Curta."
Saturday, November 13, 2010
EFF'10: A Espada e a Rosa (2010) & Masterclass: John Malkovich e Stephen Frears


Com música divertidíssimas e espasmos de diálogos brilhantes, a primeira longa-metragem de João Nicolau é um filme com uma fotografia feia, que não faz sentido absolutamente nenhum, em que os eventos não se encadeiam mas se sucedem (o que causa "desinteresse"), sob uma filosofia completa e deliberadamente non-sense e punch-stupid, cheio de personagens parvas (levadas a cabo por más interpretações, no geral), com um final que é pior do que tudo o resto. Segundo percebi, a intenção era a de criar uma coisa utópica, sem rumo, completamente inconvencional, eventualmente com ramagens da nobre História de Portugal e da popular cultura lusa (os Descobrimentos; o Benfica).
Um filme que a mim não disse nada, um filme de que não precisávamos e um filme em que não pode ser gasto dinheiro do Estado.
Contas feitas, o saldo da noite acabou por ser extremamente positivo. John Malkovich é um incrível bem falante, calmo, sereno, bem articulado, inteligentíssimo, conhecedor do seu meio. Frears também esteve bem e os dois envolveram-se num óptimo debate sobre o seu trabalho em conjunto, que acabou por ser continuado por algumas perguntas da audiência.

Quanto à primeira, uma resposta artística e intelectualmente brilhante. Explicou que, no teatro, os actores têm momentum. Estão em cena constantemente, estão no controlo de cada momento presente, de cada momento futuro e estiveram já no controlo de cada momento passado - estão livres para viver a personagem sem restrições, numa continuidade de personificação. Frears acrescentou, mais tarde, que um bom actor não é sempre bom; está a ser bom. O truque é apanhá-lo nesse momento. Ora, no teatro, diz-nos Malkovich, o actor sabe sempre onde é que se situa na linha da interpretação, sabe sempre se está a ser bom, e pode manipular isso. Já no cinema, tudo está partido em partes, segmentos e, por isso, perde-se esse momentum, essa coerência fluída - diz até que chega a, antes de filmar uma cena, interpretar, primeiro, alguns minutos das cenas anteriores.
Quanto à segunda, uma resposta de um humor genialmente cáustico. "Sim, sim, já há daquelas câmaras que engolimos e que gravam imagens do nosso corpo e que depois são expelidas através do devido mecanismo.". Palmas.
John Malkovich voltará a estar hoje no Festival, para apresentar a sua colecção de moda e amanhã, para ver Mistérios de Lisboa, de um realizador com quem já trabalhou várias vezes. Deixo-vos com uma entrevista, no âmbito do EFF'10, em que fala sobre cinema, festivais, moda e Portugal, onde tem negócios, onde já pensou viver e, especificamente, sobre Manoel de Oliveira, com quem já rodou "O Convento" e "Um Filme Falado".
Entrevista John Malkovich.
Wednesday, November 10, 2010
EFF'10: Encontros de Escolas de Cinema (2ª Sessão)

Decorreu durante a manhã de hoje a segunda sessão dos Encontros de Escolas de Cinema, que consistem na apresentação em público de algumas curtas-metragens de escolas de cinema de toda a Europa, em que o fomento das relações entre umas e outras é o principal objectivo.
Pude assistir a três trabalhos do INSAS (Institut Nationale Supérieur des Arts du Spectacle), da Bélgica; a três trabalhos da ECAM (Escuela de Cinema y Audiovisual de Madrid), de Espanha; a um trabalho da FAMU, da República Chega, Praga e, por fim, um trabalho da ESTC (Escola Superior de Teatro e Cinema), de Portugal.
Houve apenas uma delas, logo a primeira, de que posso dizer que gostei muito: Sredni Vashtar, do ISNAS, realizado por Alana Obsbourne. Contava uma história muito interessante, de um miúdo com fragilidades físicas reais ou, eventualmente, forjadas por uma mãe possessiva, que viva numa assustadora e gigante mansão, e que via, dia após dia, a sua infância ser-lhe negada, por não lhe permitirem sequer sair de casa. É num estábulo que encontra o espaço para ser criança e viver as suas fantasias, que, retratadas de uma forma realmente bonita e fantasiosa mas ao mesmo tempo levemente perturbante, acabam por causar a misteriosa morte da matriarca. A fotografia e o trabalho de concepção visual da cenas foi muito bem conseguido.
De resto, não gostei de nenhuma em particular e todas pecaram pelo argumento. Los Planes de Cecília, de Belén Goméz, da ECAM, evidencia o talento para o marketing, mas a história foi bastante má. Formol, também da ECAM, de Noelia Rodriguez Nesa, tornou-se aborrecida pelo tema pouco interessante e pela demasiada duração que lhe foi dada (15min), mas a tentativa experimental em que consistiu não resultou mal. Roma Boys, de Rozálie Kohoutóva, da FAMU, desinteressou-me por completo no seu tema e na forma de o contar - uma realizador/argumentista narra a sua ideia para o seu próximo filme (um amor homossexual entre romenos), enquanto vemos esse mesmo filme, o que acaba por lhe tornar o trabalho fácil mas ineficaz, já que, por exemplo, em vez de criar situações de tensão, apenas refere que "há tensão". Porém, houve quem tivesse achado bastante graça e tenha visto aqui um certo experimentalismo.
Infelizmente, o grande destaque, que o é pela negativa, vai para Quando o Inverno chega, de Jorge Jácome, da ESTC.
Saturday, October 30, 2010
Mistérios de Lisboa (2010)
Porém, não é (só isto) que faz um filme. Logo na área da realização, encontrei algumas falhas que considero graves e outras que, acreditando terem sido intenção do director, resultaram mal para mim.
Falo de uma cena, na festa em que uma das mulheres recebe um bilhete e desmaia, em que no establishing shot vemos muitas pessoas (e a existência de um grupo alargado é algo que se depreende intuitivamente), em que as quatro ou cinco personagens que interessam surgem de repente num bocado do salão, mas um grande bocado sem ninguém, dando uma noção de perfeito ensaio, tirando qualquer credibilidade ao plano. Ou falo das cenas em que era claríssimo que a música que passava (um ponto positivo do filme) era diferente da que os músicos tocavam no ecrã. Ou falo dos planos experimentais ou talvez não, em que João/Pedro está doente, e que em nada combinam com o resto do tom do filme. Ou falo da cena (esta insere-se naquelas que foram intenção mas de que não gostei) em que Alberto de Magalhães rasga o bilhete, num plano totalmente contra-picado, e, lá em cima, toda a gente olha, em roda, feitos parvos.
Em primeiro lugar, uma telenovela autêntica. Não é totalmente culpa do guionista, mas sim do próprio Camilo Castelo Branco, que assim escreveu a sua obra. De qualquer forma, passado para cinema, é uma autêntica e completamente desinteressante telenovela. Ou seja, o que se passa é uma conjugação de uma série de acontecimentos relativos a um certo número de personagens aparentemente desconexas, cujos caminhos acabam por se ligar de forma inexplicável, inevitável (a ideia romântica do destino), inexorável (o eterno sofrimento que comportam) e irritantemente melodramática.
Em segundo lugar, e creio que isto tem mais a ver com preferências pessoais, é uma estrutura narrativa que nada aprecio - os chamados "folhetins". Episódios sem grande ligação, que só acabam por fazer certo sentido no final, com relações causa-efeito ora inexistentes, ora forçadas, ora simplesmente estúpidas e chatas.
Em terceiro lugar, a introdução de momentos pseudo-engraçados (os arrotes do pirata/Alberto; o criado deficiente; o Marco D'Almeida), que foram completamente escusados. Não tiveram qualquer tipo de piada e só tiraram ainda mais qualidade ao filme.
Em quarto lugar, para mim o ponto mais crítico do filme, já que é o único que considero "deprimente": os diálogos. Uma tristeza. E, aqui sim, tal e qual como em Salomé. Personagens, em pleno século 18 ou 19, que dizem coisas como "Que seca !", "Que horror, meu amigo !", que se tratam constantemente por tu, e muitas, muitas outras coisas de que nem me lembro. Confesso, e até me senti estranho com isso, que, aqui, mandei valentes gargalhadas.

Não deixem de ir ver o filme. A maior parte das pessoas com quem já falei sobre ele ou gostou ou adorou. Opiniões. O balanço que faço, no entanto, não poderá nunca ser positivo. O facto de terem sido 272 minutos só tornou a coisa mais entediante.
Tuesday, October 19, 2010
Nova proposta de Lei para aumentar os fundos do Cinema e Audiovisual
Podem consultar informação bastante detalhada na edição do jornal "Público" do dia 15 de Outubro (Sexta-Feira) ou nos links que deixo: anúncio da proposta; reacção das televisões e operadoras.
Friday, October 1, 2010
Embargo (2010)
Andava a acumular-se a lista de filmes portugueses que tinha de ver, algo que me deixou muito contente - num só mês, Setembro, estão cinco filmes portugueses nas salas. O trailer de Embargo, baseado na obra homónima de José Saramago, era demasiado delicioso, não podia mesmo deixar passar.
O bom trabalho desta película começa na direcção artística e na fotografia. Sob um filtro entre o amarelado e o acastanhado, um quase-sépia, mais suave e gasto, entramos no Portugal da década de 70, em plena crise petrolífera. O uso das cores é complementado por uma mise-en-scene desértica, deslavada, velha, por vezes podre, usada, enferrujada, e tudo contribui para a divertidíssima atmosfera seca e poeirenta em que se desenvolve o filme. A câmara, num estilo que gosto muito, seguidora, atenta, e sempre com leves movimentos, raramente estática, capta muito bem o calor e aridez da paisagem, ora seja humana e mal tratada, tão pobre como as pessoas que não têm pão nem leite graças à impossibilidade da distribuição, ora seja natural e inultrapassável. Para isto não pode deixar de contribuir a iluminação e a caracterização dos actores, que resultam num belo trabalho de retrato do calor insuportável, do sufoco, do suor que se vive e sente ali, em tamanha claustrofobia - sem meios para sair da escassez, sem caminhos para sair dali (o filme passa-se em poucos quilómetros quadrados), sem hipótese de sair do carro.

A banda sonora que nos acompanha é um dos pontos mais fortes desta obra. Adequadíssima, e geralmente bem colocada (apontaria duas ou três excepções), alia-se ao argumento para fazer crescer aqui uma ironia tão seca como os cenários, que não gera gargalhadas mas que torna inevitáveis os esgares de sorriso de orelha a orelha.
Mas, como vinha sendo dito, o grande destaque vai para o maravilhoso argumentos e para os seus diálogos. Com uma primeira parte que admito ter sido mais parada (o que cansou algumas pessoas que viram o filme comigo), Tiago Sousa, o guionista, conseguiu fazer uma apresentação muito coerente e serena - funcionou mesmo, para mim - da personagem principal, imersa numa ingénua e por vezes melancólica esperança de resolver os seus problemas financeiros e pessoais, primeiramente com mínima dignidade, mais tarde com resignação e desespero total face ao desastroso circunstancialismo - este é inexplicável e não há interesse na sua explicação. Foi evolutivo, fluído. A originalidade da premissa foi, de resto, bem estruturada, bem aproveitada e resultou num produto final hilariante, com diálogos excelentes, tornando esten um dos meus filmes portugueses de eleição.

Não posso deixar de destacar a magnífica prestação de Filipe Costa e os poucos minutos de José Raposo. Algumas críticas também não posso deixar de apontar, no geral, nomeadamente no que toca a alguns pontos da montagem (com cortes bruscos e, a meu ver, pouco significativos, ou sem grande timming) e a alguns grandes planos que foram feitos, para mim sem grande significado, apenas desequilibrando a estética das cenas.
Wednesday, September 29, 2010
Ante-cinema.com já viu "Marginais"
"Mais um filme português ...
Quando estamos num país como Portugal e falamos de cinema, o primeiro nome que vem à cabeça de qualquer compatriota é, na sua maioria, o de Manoel Oliveira. Lá fora, um nicho muito especifico do nosso cinema é apreciado e aplaudido por meia dúzia de críticos, e talvez elogiado em dois ou três festivais internacionais. Para contrariar esse nicho de que falo em cima, surge uma geração de realizadores que procura arrebatar o culto do ‘blockbuster’ em Portugal e, porque não, fazer-nos gastar uns trocos para além do que já gastamos a ver o filme ‘tuga’, em pipocas e Coca-Cola. É daí que surgem os ‘Leoneis Vieira’, os ‘Antónios-Pedros Vasconcelos’, e os ‘Fernandos Fragatas’.
Em Marginais surge-nos um jovem realizador chamado Hugo Diogo, que depois de três anos conseguiu acabar um filme que teve problemas a vários níveis, parecendo destinado a nunca ver a luz ao fundo do túnel. Com um elenco composto por algumas caras conhecidas, e outras completamente a fazerem a sua estreia, Marginais é um filme ao estilo da narrativa de Guillermo Arriaga, não no que se refere à estrutura não linear, mas especificamente numa narrativa que converge o destino de todos os personagens. Temos o personagem Carlos, interpretado pelo conhecido actor de telenovelas José Fidalgo, que gere um ginásio destinado essencialmente ao treino de artes marciais, aplicadas posteriormente em lutas ilegais, onde Cão (Hugo Caroça) é o seu braço direito. Maria (Patrícia André) é a mãe solteira vitima de violência doméstica por parte do pai, que mantém uma relação dupla com Carlos e com o seu irmão Lucas (Fernando Martins). Para completar o leque de histórias temos a filha de Maria, Ana (Inês Guimarães), que para sobreviver às negligências da mãe, mergulha no seu mundo de ingenuidade, procurando companhia e afecto no vizinho de cima, um individuo estranho mas gentil.
O grande problema desta nova vaga que tenta assolar o cinema português é muito fácil de identificar. O problema está na carga brutal de influências que todos estes realizadores tentam a todo o custo introduzir nos seus filmes. Esquecem-se é que estamos num país em que as verbas utilizadas e os apoios existentes na execução do cinema em Portugal são escassos, e dificilmente haverá probabilidade de se fazer algo como vemos em Hollywood. Nos mais recentes como Arte de Roubar (2008), de Leonel Vieira, tudo o que vemos é um filme de Quentin Tarantino caso ele quisesse fazer uma cópia cocaínada e rafeira dos seus próprios filmes, e obviamente as referências de outros realizadores não acabam por aí. Fernando Fragata fez a versão telenovela de Twilight Zone (1954) com Contraluz (2010), e Hugo Diogo tentou fazer uma espécie de Clube de Combate (1999) com tons melodramáticos, onde tudo em Marginais cheira, e soa, a forçado.
Não demora muito tempo a perceber porque é que Marginais não é de todo um bom filme. Os três anos que passaram desde as filmagens e os problemas que originaram este atraso no lançamento do filme são óbvios. A longa-metragem sofreu processos de pós-produção que são evidentes durante o próprio visionamento, a nível de argumento, que parece por alturas adoptar estilos completamente diferentes, nomeadamente cenas com diálogos extensíssimos, com conteúdos a levantarem questões existencialistas, como depois temos cenas de acção baratas, com diálogos e interpretações irritantes, intervaladas por ‘bits’ musicais de artistas de hip-hop português. Porquê? Para criar ritmo num filme demasiado forte e dar tempo ao espectador para respirar?! Não creio. Tapar buracos parece-me a justificação mais plausível para esta ‘estranha’ abordagem, que se de facto queria primar pela originalidade, então prima pelo absurdo completo.
Se o argumento não funciona, pois a história, os personagens, e tudo aquilo que compõe um argumento não cativa minimamente, reinando o cliché total, então no mínimo se o filme é de acção, espera-se que haja acção. No entanto, as cenas das lutas ilegais roçavam a coreografia total, sem nenhum sentido de realidade, de brutalidade, de veracidade nas sequências, sendo que o principal problema está directamente relacionado com a pobreza dos efeitos sonoros criados para este filme. O Touro Enraivecido (1980) seria um exemplo a seguir no que toca a efeitos sonoros. Em termos de cinematografia, até podemos dizer que a fotografia não está má de todo, proporcionando tons apelativos, capazes de nos envolverem com o ambiente que o filme pretende. A banda sonora, falando especificamente da composição, entra em total desacordo em determinadas sequências do filme, ajudando a que o ‘overacting’ dos actores seja por vezes muito doloroso para o espectador aguentar sem pôr as mãos à cabeça.
Resumindo, Marginais vai directamente para a prateleira dos filmes portugueses que tentaram imitar alguém, ao invés de criarem algo verdadeiramente genuíno. Se estes filmes são incentivados pelo Estado, e o resultado final passa pela experiência de Marginais, então é preciso reavaliar seriamente a quem é que o dinheiro anda a ser distribuído. Para ser criada uma estrutura comercial, que produza filmes aspirantes ao estatuto de ‘blockbuster’, é preciso primeiro um esforço, uma união que passa por muito mais que apenas imitar as cenas ‘cool’ dos filmes de Hollywood. É preciso solidez em todos os aspectos, porque só os grandes como Michael Mann, James Cameron, John McTiernan e uma porrada deles conseguem, mas depois de um produto consistente, prontíssimo a deixar a sua marca." "