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É indiscutível a enorme influência socio-psicológica que o cinema tem e sempre teve na sociedade - é um veículo movimentador de massas. Porém, é com o alastrar da filosofia neo-realista que as luzes se começam a focar em problemas sociais, económicos e políticos de forma crua, realista, com um tom documentarista. A gritar "Intervenção!". É precisamente desta corrente que emerge Panahi, com uma filmografia dedicada à defesa dos Direitos Humanos, com particular intensidade no que toca aos direitos das mulheres, e é exactamente isso que deixa os dirigentes iranianos receosos.
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A cena inicial é curta mas esclarecedora. Solmaz (Solmaz Panahi) (nunca a chegamos a ver) é uma rapariga que acabou de dar à luz uma menina, quando o ultrassom havia revelado que seria um menino e quando toda a família do noivo exigia um menino. A consequência será o divórcio e o desrespeito.
Segue-se a jornada de Nargess (Nargess Mamizadeh) e Arezou (Maryiam Palvin Almani) que, acabadas de sair da prisão, tentam arranjar dinheiro para comprar um bilhete de autocarro para fugirem daquela cidade e voltarem às origens da segunda, o que seria o começo de uma nova vida. Esta é presa por tentar vender um colar, exactamente para arranjar dinheiro, mas Nargess, ainda que a muito custo (não tinha identificação para provar que era estudante, podendo assim viajar sozinha, nem ia acompanhada de um homem), compra um bilhete. Infelizmente, não chega a embarcar na viagem, com medo da polícia que revistava as bagagens (podia ter de voltar para a prisão).
Falhados os seus intentos, Nargess vai procurar Patri (Fereshte Sadre Orafaiy), também acabada de sair da prisão. Não chega a conseguir falar com a amiga, já que esta se vê forçada a fugir de casa quando os irmãos, dois "brutamontes", chegam para "falar" com ela. Patri vai ter com Ellah (Ellah Saboktakin), enfermeira e igualmente ex-condenada, implorando-lhe que o seu marido, médico, a ajude com um aborto que não pode fazer, por não ter a autorização de nenhum homem (pai ou marido). Sem sucesso, acaba a deambular pelas ruas, sem poder ir para um hotel por não ter identificação, deparando-se com uma mãe que abandona uma criança, esperando que alguém a adopte e lhe garanta uma vida melhor e uma prostituta que vê ser presa.
Pelo meio, assistimos a inacreditáveis obrigações das mulheres, como a de terem de se cobrir com um manto para entrar em certos sítios.
A cena final é de uma mestria incalculável. As várias mulheres que ficámos a conhecer estão na prisão e alguém telefona a perguntar por uma tal de Shomalz (da cena inicial). No final de contas, estamos presos num círculo vicioso de onde não parece haver maneira de sair - uma constante violação à dignidade humana das mulheres que parecem condenadas à opressão.
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