Sunday, November 14, 2010
EFF'10: The American (2010)
Esperava ver um filme tipicamente americano, com tiros e jogos de espiões espalhados por noventa minutos de forma completamente formatada, com um protagonista ultra-confiante e bonitão, que acabaria por fugir com alguma mulher, no final. Confesso que não tinha visto o trailer e que era isso que o poster e alguns screens me diziam.
The American, de Anton Corbijn, acaba por ser uma surpresa agridoce. Por um lado, é uma lufada de ar fresco no thriller de espionagem americano, por outro, é uma lufada de ar fresco que não consegue ser o grande filme que podia ter sido, graças aos buracos que deixa destapados.
Na verdade, para além do título, a única coisa de "americano" que este filme tem é a nacionalidade de Jack/Edward. De resto, tudo é europeu: os locais, uma pequena aldeia situada nas montanhas, no centro de Itália; o ritmo pausado e lento; a atmosfera calma e isolada; a temperatura outonal; um George Clooney perturbado consigo próprio. E tudo isto ergue com mestria um argumento que quer falar não sobre mais uma missão, mais um eloquente assassinato antes da reforma, mais dinheiro, mas sim sobre o conflito interno de um homem que se tem de ir destruindo a ele próprio, tornando inviável o triunfo dos seus sentimentos, enterrando-o cada vez mais no gelo do metal das armas que segura.
Teve de matar uma mulher, com a qual formava uma imagem de ternura invejável, como nos é apresentado nos primeiros minutos do filme. Uma morte não encomendada, simplesmente automática, seca, em função de um injectado instinto de sobrevivência. E é a partir daí que o vemos partir para longe, muito longe, onde se deve esconder e trabalhar numa última missão, em que apenas terá de garantir as condições para a matança, em vez de a protagonizar. Mas, então, penetra na melancolia do topo da montanha, do céu nublado, das ruas desertas de dia e de noite, faz o seu trabalho em apatia e não consegue evitar a procura do contacto físico-emocional na primeira mulher que, prostituta ou não, o acolhe nos braços.
Enquanto seguimos este seu percurso, são-nos dadas pistas sobre o que se passará à sua volta, na conspiração em que participa. E a câmara misteriosa, a montagem irreverente (exemplo: os sucessivos aprés-telefonema), a música que oscila entre o familiar que a ele nada diz e o tenso, vão colocando tudo em causa, aproximando-nos do cenário da mosca no centro da teia de aranha, em que não é possível confiar nos poucos que o circundam. E tudo isto tão subtilmente. E eis que explode o climax, que nos faz respirar com sereno alívio por aquela personagem que só queria calor humano e uma lareira. Mas eis que explode o anti-climax, que nos encerra num aperto por tudo ter sido em vão, por se desvanecer uma felicidade, tão nova neles que até parecia indiferente, por outra coisa não esperarem que a sua dissolução.
Nestes termos, tudo está bem construído, e constitui a lufada de ar fresco. Mas demasiadas questões ficam por responder, tornando inconsistente este encadeado percurso emocional e respectivas motivações. Para quem trabalhava ele afinal ? Porque haveria alguém de o querer matar, para não poder arriscar na cena inicial e para ser o alvo principal durante o tempo todo ? Porquê todo aquele esquema, porque não uma morte à primeira opção ? Porquê o Padre e a sua história de vida, qual a sua relevância ?
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Em parte desiludiu-me. Não há dúvida que Corbijn é um excelente cineasta: aquela fotografia, os planos,... É um filme belíssimo. Mas no fim de contas há muito que se passa e ao mesmo tempo não se passa nada. E nem é uma questão de ritmo, é sim uma questão de argumento com algumas lacunas (propositadas), mas que no fim de contas não resultam assim tão bem.
ReplyDeleteJOÃO: Obrigado. Sim, vê porque, apesar de tudo, vale a pena. Quanto ao estilo, essa parte foi muito boa.
ReplyDeleteTIAGO: Precisamente isso. A fotografia é muito bonita, os planos resultam na perfeição. E também me parece que as lacunas são propositadas, mas não resulta de forma alguma.
Pois, do CONTROL gostei bastante, mas bem que o trailer não deixa adivinhar assim grande pedaço de cinema. Hmmm. Hei-de vê-lo um dia destes.
ReplyDeleteCumps.
Roberto Simões
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