Saturday, November 13, 2010

EFF'10: A Espada e a Rosa (2010) & Masterclass: John Malkovich e Stephen Frears


Desilusão atrás de desilusão, é o que tem sido último cinema português que tenho visto. Com uma sinopse extremamente interessante, uma surpreendente participação em Veneza e, uma vez mais, apelidos de "brilhante", "genial" e "divertido", A Espada e a Rosa consegue ser mais um filme que me deixa profundamente indignado pelas opções do ICA e até do FICA (não acredito que alguma vez recuperem o dinheiro).

Com música divertidíssimas e espasmos de diálogos brilhantes, a primeira longa-metragem de João Nicolau é um filme com uma fotografia feia, que não faz sentido absolutamente nenhum, em que os eventos não se encadeiam mas se sucedem (o que causa "desinteresse"), sob uma filosofia completa e deliberadamente non-sense e punch-stupid, cheio de personagens parvas (levadas a cabo por más interpretações, no geral), com um final que é pior do que tudo o resto. Segundo percebi, a intenção era a de criar uma coisa utópica, sem rumo, completamente inconvencional, eventualmente com ramagens da nobre História de Portugal e da popular cultura lusa (os Descobrimentos; o Benfica).

Um filme que a mim não disse nada, um filme de que não precisávamos e um filme em que não pode ser gasto dinheiro do Estado.

Contas feitas, o saldo da noite acabou por ser extremamente positivo. John Malkovich é um incrível bem falante, calmo, sereno, bem articulado, inteligentíssimo, conhecedor do seu meio. Frears também esteve bem e os dois envolveram-se num óptimo debate sobre o seu trabalho em conjunto, que acabou por ser continuado por algumas perguntas da audiência.

As duas melhores saídas do actor foram a sua resposta ao comentário de Frears, quando contou que, quando o abordou pela primeira vez, lhe perguntou porque é que no cinema nunca conseguia ser bom actor (ao contrário do que acontecia no teatro) e a sua resposta à surreal última pergunta, sobre se havia uma realidade paralela congoscível dentro de si, quando interpretava.

Quanto à primeira, uma resposta artística e intelectualmente brilhante. Explicou que, no teatro, os actores têm momentum. Estão em cena constantemente, estão no controlo de cada momento presente, de cada momento futuro e estiveram já no controlo de cada momento passado - estão livres para viver a personagem sem restrições, numa continuidade de personificação. Frears acrescentou, mais tarde, que um bom actor não é sempre bom; está a ser bom. O truque é apanhá-lo nesse momento. Ora, no teatro, diz-nos Malkovich, o actor sabe sempre onde é que se situa na linha da interpretação, sabe sempre se está a ser bom, e pode manipular isso. Já no cinema, tudo está partido em partes, segmentos e, por isso, perde-se esse momentum, essa coerência fluída - diz até que chega a, antes de filmar uma cena, interpretar, primeiro, alguns minutos das cenas anteriores.

Quanto à segunda, uma resposta de um humor genialmente cáustico. "Sim, sim, já há daquelas câmaras que engolimos e que gravam imagens do nosso corpo e que depois são expelidas através do devido mecanismo.". Palmas.

John Malkovich voltará a estar hoje no Festival, para apresentar a sua colecção de moda e amanhã, para ver Mistérios de Lisboa, de um realizador com quem já trabalhou várias vezes. Deixo-vos com uma entrevista, no âmbito do EFF'10, em que fala sobre cinema, festivais, moda e Portugal, onde tem negócios, onde já pensou viver e, especificamente, sobre Manoel de Oliveira, com quem já rodou "O Convento" e "Um Filme Falado".

Entrevista John Malkovich.

1 comment:

  1. Pedro Emanuel CabeleiraNovember 15, 2010 at 10:10 PM

    E assim assino por baixo esta observação a mais um filme português. Um filme que anda perdido no meio dos oceanos e não consegue encontrar o seu destino, como quase todos os filmes realizados em terras lusitanas.

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