
The American, de Anton Corbijn, acaba por ser uma surpresa agridoce. Por um lado, é uma lufada de ar fresco no thriller de espionagem americano, por outro, é uma lufada de ar fresco que não consegue ser o grande filme que podia ter sido, graças aos buracos que deixa destapados.
Na verdade, para além do título, a única coisa de "americano" que este filme tem é a nacionalidade de Jack/Edward. De resto, tudo é europeu: os locais, uma pequena aldeia situada nas montanhas, no centro de Itália; o ritmo pausado e lento; a atmosfera calma e isolada; a temperatura outonal; um George Clooney perturbado consigo próprio. E tudo isto ergue com mestria um argumento que quer falar não sobre mais uma missão, mais um eloquente assassinato antes da reforma, mais dinheiro, mas sim sobre o conflito interno de um homem que se tem de ir destruindo a ele próprio, tornando inviável o triunfo dos seus sentimentos, enterrando-o cada vez mais no gelo do metal das armas que segura.
Enquanto seguimos este seu percurso, são-nos dadas pistas sobre o que se passará à sua volta, na conspiração em que participa. E a câmara misteriosa, a montagem irreverente (exemplo: os sucessivos aprés-telefonema), a música que oscila entre o familiar que a ele nada diz e o tenso, vão colocando tudo em causa, aproximando-nos do cenário da mosca no centro da teia de aranha, em que não é possível confiar nos poucos que o circundam. E tudo isto tão subtilmente. E eis que explode o climax, que nos faz respirar com sereno alívio por aquela personagem que só queria calor humano e uma lareira. Mas eis que explode o anti-climax, que nos encerra num aperto por tudo ter sido em vão, por se desvanecer uma felicidade, tão nova neles que até parecia indiferente, por outra coisa não esperarem que a sua dissolução.