Foi longe da beleza visual de Fellini, da serenidade de Antonioni ou do surrealismo de Buñuel que vi aquela que me pareceu uma grande abordagem ao poder do sonho, desta vez com Christopher Nolan. Não sendo um filme que, como fazem as obras dos autores que mencionei, nos envolve de forma artisticamente crua e quase perfeita, é, como conjugação entre a exploração dos mistérios da condição humana e o puro entretenimento, fascinante.
A Origem é um thriller psicológico ao jeito do que já vimos no, para mim ainda superior Memento. Há a equipa dos bons, a (ou "as") equipa dos maus, há o plano, com muita acção, tiros, explosões e perseguições, há os previsíveis acidentes de percurso e há, concebida com uma originalidade desafiante, a controladora atmosfera psicanalítica. Uma viagem pelo mundo dos sonhos e pela sua representação, confusão e fusão com a realidade e pelo subconsciente, o mais profundo e impenetrável guardião de segredos que comporta a natureza humana e e a actividade cósmica, o núcleo fundamental da personalidade (o id de Freud), a origem de todas as ideias (o erro de Descartes ?).
Está sempre presente a intenção de vender o produto, de agradar às massas e daí que surja toda a clara trama hollywoodesca, um claro apelo ao pathos, como é evidenciado pela luta de Cobbs, que, ao contrário da sua equipa, não é apenas psicológica mas também emocional. Não é por isso que deixa de nos prender à cadeira, de nos impressionar pela fantasia em que vivemos ou pela sinceridade do sonho como fundamental meio de auto-conhecimento - o que é a realidade ?
A fotografia é belíssima, a começar pela imagem inicial do embate bruto das ondas contra as quase frágeis rochas, o mar que representa tudo aquilo que o Homem não sabe que é, e cujo vislumbre apenas faísca no limbo do ser e do não ser, da percepção e da ilusão, mas que nos envolve e erode de forma inevitável. Nota muito positiva para os efeitos poderosos da arquitectura dos sonhos e, especialmente, para uma montagem incrivelmente inteligente, emocionante, arrebatadora (como a cena inicial em que Cobbs é "empurrado" para a banheira e o que se passa no sonho), sempre acompanhada por uma música épica e uma câmara que pauta um ritmo ofegante e excitante.
Gostei das interpretações dos actores, especialmente das de Di Caprio e de Lewitt.
Ai! Só vejo esse amanhã :)
ReplyDeleteHopefully, vai sobreviver as minhas (elevadas) expectativas.
Gostei da crónica, muito em concordância com o que já li serem os pontos fortes do filme.
Veremos. Amanhã já digo qualquer coisa.
O filme é mesmo espantoso e genial, mesmo de Nolan.
ReplyDeleteAbraço
Cinema as my World
Chateia-me mas não tenho nada a acrescentar 8-)
ReplyDeleteGostei muito do filme e da crítica!
Beijinhos
PS: estou a pensar largar o pseudónimo, vais ter de te preparar para esse momento.
Pois, como dá para ver pela minha crítica no blog, gostei muito do filme. Custa-me um pouco ter que me juntar ao grupo e embandeirar nos elogios, como a maioria dos críticos tem feito, mas a verdade é que o filme merece.
ReplyDeleteClaro que tem as suas falhas - a caracterização das personagens é gritantemente redutora (então a de Ellen Page tira-me do sério; acho que ela faz um excelente trabalho em tornar o papel que lhe deram em algo menos que uma banalidade) e as cenas de acção têm vários erros (a edição nunca foi o ponto forte dos filmes do Nolan) mas é um excelente filme, o primeiro (vá, o segundo) bom filme de 2010.
Com sorte, vamos ter o one-two-three punch agora seguido: Ghost Writer (B+), Inception (A-) e Toy Story 3 (A? Será?). Esperemos que sim.
Esperemos que sim. L´´a estarei amanh~~a, no Toy Story x)
ReplyDeleteRegressada neste exacto momento do cinema, mais precisamente da visualização deste tal Inception. Foi surpreendentemente bom visto que ia sem expectativa alguma. Acho que é melhor ir preparada para o pior quando as opiniões alheias tomam proporções gigantescas (o msn está habitado por degredos fanáticos deste filme há quase uma semana).
ReplyDeleteEnfim,vou tentar não me prolongar. Concordo praticamente com tudo o que foi dito acima. A fotografia e realização estiveram deveras ao nível da história que nas mão erradas teria todas as probabilidades de se auto-estrangular e acabar um grandessíssimo nojo, como costuma acontecer nos blockbusters dos últimos anos.
Apesar do bom desempenho do cast principal acho que é um filme que cansa após umas 4 ou 5 vezes. A Marion Cotillard também não me inspira grande confiança. O prémio de performance vai definitivamente para o Gordon Levitt que me parece ser a futura continuação do legado do Heath Ledger (vamos lá admitir que eles têm a cara chapada um do outro tá? Dou-lhe mais uma década de filmes e o puto fica no ponto xD).
Renuncio o Toy Story 3!
Na-Chan: Só posso concordar com tudo o que dizes, especialmente, e já há tempos que andava a pensar nisso, em relação à parecença do Lewitt com o Ledger.
ReplyDeleteE, apesar de conhecer o teu (não) gosto por Toy Story, continuo a aconselhar.
Concordo e identifico-me. Brutal e impressionante é o que me ocorre dizer. Grande grande filme na realização, na banda sonora, na montagem, nas interpretações (nem todas mas enfim), e sobretudo no argumento. De uma inteligência e de um poderio cativante extraordinários. Eu vejo um clássico instantâneo.
ReplyDeleteTive a ver assim por alto a tua lista de críticas e gostei, embora possuas muito cinema que me escapa, como por exemplo o espanhol. De Almodôvar não vi mesmo nada, tenho de começar a corrigir.
abraço
JORGE: Hoje ainda não consigo ver um clássico, quem sabe, daqui a uns anos, quando olhar para trás. Fico muito contente com o teu interesse e espero continuar a ter-te por cá. O cinema que vejo, acredita, ainda é uma mísera gota no universo que quero ver. E, sim, tens mesmo de ver Almodóvar. É fenomenal.
ReplyDeleteBest movie of the year. Period.
ReplyDeleteSubscrevo integralmente. 4*
ReplyDeleteRoberto Simões
CINEROAD