Em Irreversible, o filme é contado da frente para trás, numa estrutura fragmentada que se assemelha a Memento. Contudo, se no filme americano isso cumpre a sua função ao envolver-nos na complexidade e na construção das imagens e sequências da memória, num genial desafio de conexões, aqui, Gaspar Noé apenas pretende (e consegue) deitar-nos num autêntico poço sem retorno, lançar-nos numa estrada de nojo e violência que vemos destruir tudo o que nos é querido, deixando-nos a assistir, completamente impotentes, estátuas da incompetência. Porque tudo de horrendo já se passou e nós apenas caminhamos para trás, para quando tudo era flor e perfume, sabendo que para trás não interessa e que queremos voltar para a frente e evitar mais mutilações de corpo e alma. Esta cena é um climax que acontece a meio do filme, um momento de autêntica claustrofobia selvagem, de terror de carne e sangue, naquele profundo e gélido corredor vermelho infindável. E a câmara permanece estática, como nós, sem poder fazer nada, enquanto todo o mal do mundo se materializa à nossa frente, numa das mais nojentas acções que o ser humano pode ter.
Um aviso sério para o facto de este vídeo não ser aconselhável para pessoas sensíveis. Além disso, esta não é a cena completa, apenas um excerto - essa, dura cerca de 10 excruciantes minutos.
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Ora aqui estão apontamentos sobre um filme genial, genial, genial. Obra-prima com todas as letras. Não é um murro, é um buraco no estômago!
ReplyDeleteCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Senti-me genuinamente mal no final do filme, exactamente por esse sentimento de horror e impotência que tão bem descreveste...Mas à sua tão peculiar maneira, e apesar de absolutamente incómodo e repulsivo, permanece como algo deveras genial...e provocatório...e arrisco essencial!
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