Dancer in the Dark é uma estória de sofrimento e sacrifício pessoal, na esfera da maternidade e do sonho/ambição, aqui retratada de forma peculiarmente paradoxal, pois todo o melodrama, intenso e emocional, é filmado de forma rotineira, pouco preocupada, com uma arrogância própria face aos dilemas da vida. É isto assim graças ao falso cumprimento do famoso Dogma 95, que, se já não havia sido respeitado à risca em "Os Idiotas", muito menos o foi aqui - desta vez, existem cenas de violência, trabalho de luminosidade, música não-diegética, efeitos em computador e câmara estática.
Por entre uma câmara instável, aparentemente amadora, com pouca saturação, através de uma tentativa de reduzir os efeitos pós-produção ao mínimo, assistimos à magistral performance da cantora islandesa Björk, uma mãe pobre e cega, que luta para se sustentar a si e ao filho, procurando juntar dinheiro para lhe pagar uma operação aos olhos, que o resgate do destino que ela já arduamente trilha, e que enternecedoramente mantém acesa a chama de um dia vir a ser uma estrela de um musical.
Sucedem-se os acontecimentos dramáticos que acabam por destruir a vida de Selma, acompanhados por momentos musicais belíssimos (não de uma forma complexa, gloriosa e musicalmente épica, mas sim de forma simples e passageira), em que as cores gastas dão lugar a uma luminosidade extra e em que a câmara finalmente estabiliza por uns segundos, produzindo-se, desta forma, um acumular de tensão sofrível, efemeramente amparado pela resistência da esperança e da ingenuidade da personagem principal, e, sendo a emoção despertada me nós, espectadores, amparado também pela nossa própria piedade. No entanto, o crescendo sente-se, e não sendo aflitivo, não deixa de ser perceptível, culminando numa última cena aterradora, comovente e gritante, que opõe a melodia da vida e do triunfo do amor ao vácuo do silêncio mórbido e repentino.
Ainda assim, não é o meu favorito do autor.
Adoro este filme. Foi o único que conseguiver dele.
ReplyDeleteOh Diogo, andáste desaparecido tantos dias porquê?
Acabei por ter uns imprevistos dias de férias aqui pelo meio e o acesso à internet era complicado (só deu mesmo para vir escrever sobre o Hable Con Ella), ahah :p
ReplyDeleteFinalmente tenho tempo para dar um saltinho aos blogues ;)
ReplyDeleteEu adoro este filme. E adoro a Björk. E entre ela e a Ellen Burstyn (REQUIEM FOR A DREAM) eu ia ter grande dificuldade para me decidir a quem dava o prémio de Melhor Actriz.
Este filme é fantástico. Ponto final. E gostei da crítica.
Abraço,
Jorge Rodrigues
Concordo. É um dos filmes maiores da década, mas claramente não é para todos. É, com certeza, o filme que mais me repugnou, me indignou e me emocionou.
ReplyDeleteCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «
AH, que falha. Nem falei da Björk. Para mim, um das maiores interpretações femininas a que já assisti.
ReplyDeleteCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «
JORGE: Concordo na indecisão, mas continuo a preferir a islandesa.
ReplyDeleteROBERTO: Dos do ano 2000 ou de Lars ?
Não o vi, ainda nem conheço nada do Lars von Trier, que se diz ter uma obra bastante controversa, mas tenho curiosidade!
ReplyDeleteCATARINA: Aconselho, tem obras fantásticas. E a que vem aí promete imenso, e para isso basta o título: "Melancholia" (se conhecesses a sua obra, percebias ;) ).
ReplyDeleteAinda ando para ver, penso que gostarei.
ReplyDeleteAbraço
Cinema as my World
Gosto da Bjork e da música. De resto, o filme é claramente fraco. Ainda bem que o Lars von Trier fez, ainda na década passada, uma obra-prima chamada Dogville ;)
ReplyDeleteDe sempre! Uma das maiores interpretações femininas da História do Cinema ou, pelo menos, de todos os filmes que vi até hoje e dos quais tenho memória ;)
ReplyDeleteCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
FLÁVIO: Não o classificava como "fraco", mas é dos menos bons. É o que menos gosto, fora Epidemic. Sem comparação, lá está, com Dogville ;)
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