Saturday, May 29, 2010

Quentin Tarantino - Top 7


Bem sei que sete é um número estranho. Mas sendo esse o número de filmes que Quentin Tarantino realizou enquanto profissional, faço o jeitinho de não me reduzir a uns meros cinco, ou tentar alargar para dez.


6. Deathproof / À Prova de Morte (2007)
Um dos mais recentes, que tenta recuperar os clássicos road movies dos anos 70, com um argumento dividido em duas estórias quase totalmente autónomas: numa, Stuntman Mike (Kurt Russel) persegue um grupo de raparigas, à noite, com o objectivo de as matar, provocando um sádico e intencional acidente de carro; noutra, que se passa depois da primeira, Stuntman Mike persegue um grupo de raparigas, (...). Ia repetir-me, praticamente, à excepção da parte final. O único mérito parece-me ser salvaguardado por um diálogo hilariante e pela melhor colisão de automóveis em movimento que alguma vez vi (é na primeira perseguição; que perfeito que ficam as várias cenas, com os vários ângulos, mostrando, sem espinhas, a brutal morte que cada uma das raparigas tem). A segunda perseguição também fica particularmente interessante com a participação da dupla de cinema Zoe Bell, a fazer dela própria, numa cena bastante arrojada e a pancada no fim também sabe bem, para quem consegue gostar do estilo de Tarantino. De resto, achei pouco estimulante. Além disso, começa por ser interessante a edição propositadamente deficiente, até com alguns minutos do filme a preto e branco, mas é algo que acaba por ser esquecido, perdendo-se alguma da sua essência.



5. Jackie Brown (1997)

É uma boa estória, com muita acção, diálogos com muita piada (mais uma excelente interpretação que Tarantino arranca a Jackson), e muito interactiva - consegue pôr o espectador a querer prever qual será a próxima manobra, e de quem, ou de que forma é que X vai enganar Y.
Um filme sobre meio milhão de dólares e sete pessoas que entram numa corrida para ficar com eles. Jackie (Pam Grier) é uma hospedeira de voos de pouca categoria, que movimenta o dinheiro (em sentido físico e não electrónico) de Ordell Robbie (Samuel L. Jackson) entre os EUA e o México. Ordell é um traficante de armas que pretende juntar um milhão de dólares no México, altura em que se reformará. Pela altura em que assistimos ao filme, vive com Melanie (Bridget Fonda), uma rapariga que passa o dia a ver televisão e a fumar erva, que lhe faz coisas como atender o telefone (que cena genial, logo no início) e que serve para sexo. A estes dois junta-se Louis (Robert De Niro), acabado de sair da prisão, prestes a começar a trabalhar nuns esquemas de Ordell. A certa altura é-nos introduzido Max Cherry (Robert Forster), fiador de fianças a quem Ordell recorre para tirar Jackie da prisão (uma prisão que apenas durou algumas horas) e a dupla Ray/Mark (Michael Keaton e Michael Bower), dois polícias que escondem o verdadeiro objectivo de deitar abaixo o traficante de armas através da prisão da personagem que dá nome ao filme. A certa altura, é tempo de esquecer o milhão e mandar vir o que há: meio milhão.
Deu para perceber a sopa ? Não adianta falar sobre a trama em si. Digamos que todos eles têm um momento em que, consigo mesmos, se regozijem de alegria por terem conseguido o dinheiro. Mas nunca é bem assim.



4. Reservoir Dogs / Cães Danado
s (1992)
Reservoir é o filme que lança definitivamente Tarantino, depois do primeiro fracasso com My Best Friend's Birthday (uma curta, ainda amadora), com a introdução daqueles que serão os ingredientes principais dos filmes que se seguem, presentes em quase todos: violência, crime (mais ou menos organizado), pop culture, diálogos brilhantes e com grande peso para as estórias, (mais do que a imagem) e narrativa não linear. Por ter sido o primeiro a juntar tudo isto, e apesar de ter sido bem recebido pela crítica da altura, foi considerado por muitos como demasiado chocante. Vários relatos há de personalidades do mundo do cinema que saíram da sala a meio, deixando aquela particular admiração para um certo número de fãs que vai tornar este o primeiro grande filme de culto do realizador.
Seis homens, com um plano para assaltar uma loja de diamantes em bruto, vêem-se em maus lençóis quando um deles perde as estribeiras e desata aos tiros, provocando o fracasso da operação. Os sobreviventes, um a um, vão chegando ao armazém onde haviam combinado encontrar-se no final da missão, acabando por se aperceber que a sua vida está mesmo complicada: dois deles morreram, um deles est
á gravemente ferido, um deles é louco e um deles (este não se sabe quem) colaborou com a polícia para os apanhar.
Uma tensão crua e bicuda, muito bem const
ruída através da localização espacial claustrofóbica e de um conjunto de reacções precipitadas e impulsivas de vários criminosos que, antes de profissionais, são seres humanos que também temem pelo seu "coiro". Interessante twist final, mas que podia ter sido levado mais além.




3. Kill Bill: Volume 1 (2003)
& Kill Bill: Volume 2 (2004)
Em primeiro lugar, não consigo contar estes dois como filmes diferentes. Ainda que o sejam, contam a mesma estória, dividia em dois.
Basicamente, temos uma noiva, Beatrix Kiddo (Uma Thurman, vénia para ela), que foi brutalmente espancada durante um ensaio do seu casamento. O noivo e os amigos morreram. Agora, assistimos a uma estória de vinganç
a bruta e crua, em que ela fará tudo o que for preciso para matar todos os que lhe fizeram mal. (humoristic thing: ela tem um papel quadriculado, num cadernito, onde tem apontados os nomes daqueles que tem de matar, e vai riscando).
O interesse vai sempre subindo a pique, continuando nesse sentido no segundo volume. Ou diria, especialmente no segundo volume. Entram em jogo componentes que muito mais nos envolvem, por tudo fazer mais sentido, por todo o background de Beatrix ter de significar qualquer coisa (aquele click em que me apercebi de que os treinos do murro na madeira lhe iam servir para sair do caixão), pela maior intensidade dramática que acrescenta (a sua filha e o amor que no fundo sente por Bill, o que vai culminar num final perfeito). Apenas duas notas menos boas: penso que Ellen era uma personagem que merecia melhor desenvolvimento (apesar de ter protagonizado uma sequência muito boa, matando Budd com a cobra e ficando sem o segundo olho) e o facto do director, a certa altura, se ter esquecido que a noiva levou um tiro de shotgun no peito.
Provavelmente o filme que melhor retrata o realizador no que toca à comunicação visual*, fez-me também aperceber-me de uma coisa: é preciso gostar do seu humor negro, muitas vezes alcançado através do recurso a situações que ficam no limite entre o extraordinário e o ridículo. Ora, nesta obra, pensei por várias vezes que o que estava a ver era uma ridícula genialidade (tem de se saber entrar no jogo, e tem de se gostar de jogar).
Por mim estava perfeito assim, mas não posso deixar de ficar expectante quanto ao terceiro volume, que aí vem em 2014.
Por último, deixo uma breve nota para o facto de ter cortado com o conceito de crime organizado à volta de uma certa quantia de dinheiro, com várias personagens a disputa-lo, que até agora vínhamos a ver, estancando o vício que poderia ter vindo a dar azo a uma filmografia enjoativa.


*a maior importância dada a este aspecto pode confirmar-se pelo facto de um capítulo do primeiro filme ser em manga style. Delicioso, o pormenor.




2. Inglorious Basterds / Sacanas Sem Lei (2009)

Chamem a polícia. Este filme foi totalmente roubado na última edição da entrega dos prémios da Academia, quando perdeu Melhor Filme e Melhor Argumento Orignal para o The Hurt Locker. Bem, começo condicionado pelo meu certo fanatismo por filmes ligados a esta época e a acontecimentos históricos que a rodeiam. Porém, julgo que um filme em que o Hitler morre queimado numa sala de cinema é qualquer coisa que merece ser visto, logo a priori, pela originalidade. Violência, sangue, humor e um evento final (o final da II Guerra) para o qual vão contribuir dois planos de acção diferentes (o plano dos EUA, levado a cabo por Aldo e os seus soldados; o plano de Shoshana), bastante bem desenvolvidos, com suspense, piada e conflito permanente.
Aqui a vénia não pode deixar de ser distribuída para outra pessoa, que não o guionista/director: Christoph Waltz. A primeira cena do filme é cinema do mais bem feito que há, de uma mestria, de uma subtileza incríveis, com uma extraordinária intensidade dramática, sempre com o seu tom cómico. Para mim, marcou o filme e seria difícil não gostar a partir daí. O que é verdade é que Waltz, como Hans Landa, rouba completamente o espectáculo a Brad Pitt ou qualquer outro - dei por mim quase colado ao ecrã de cada vez que o homem falava, babado com qualidade da forma como expressava as suas impressões, fazia os seus avisos, maravilhado com a forma como manejava três línguas de forma perfeita, sempre expectante de ver algo acontecer.




1. Pulp Fiction (1994)

As pulp magazines eram umas revistas bastante populares nos anos 20, que contavam histórias particularmente caracterizadas pela sua ultra-violência. Portanto, quando no início somos confrontados com a definição de pulp, directamente retirada de um dicionário, não se pense que se refere à "espécie de líquido", ainda que também pudesse ser uma referência ao banho de sangue a que assistimos. Um dos melhores argumentos que já vi. Uma estória de tráfico de influências, traição e lealdade entre manda-chuvas e employees, corrupção ao jogo, coacção, dinheiro, violação, tortura, tiros, muitos tiros. Um autêntico Grand Theft Auto.

Para mim o ponto alto dos diálogos de Tarantino, enquanto importância e brilhantismo. Assistimos a longas conversas, dissertações filosóficas, em que ficamos a conhecer, compreender ou odiar as personagens ou até a assistir às radicais mudanças da sua personalidade ou estilo de vida. Posso dizer que os dois segmentos em que S. L. Jackson cita o 21:17, da Bíblia, da primeira vez para o mal, da segunda para o bem, são dos mais fantásticos pedaços de conversação a que já assisti num filme - e são monólogos. Além de tudo isto, a sequência desordenada dos "capítulos" dá-lhe um subtil toque de mestre e, a mim, de fullfilment, quando começo a sentir a estória toda a ficar bem preenchidinha - revigorante.

Não posso deixar de destacar as excelente prestações de quase todos: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis (apesar de este ter apenas sido ele próprio, quase) Maria de Medeiros.

3 comments:

  1. Muito bem, eu apoio vivamente tal ordem.

    Claro que eu não consigo gostar mais de Pulp Fiction do que Kill Bill mas isso é porque eu ADORO a Uma Thurman e The Bride é uma criação sensacional.Para mim seria a única troca que faria, Pulp Fiction por Kill Bill. :)

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  2. Tens um blog muito bom, os meus parabéns! Adoro igualmente o Tarantino, e concordando com o comentário acima, a unica troca que faria era Pulp Fiction por Kill Bill. E secalhar Inglorious Basterds por Reservoir Dogs ;)

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  3. Os meus parabéns pelo blogue, Tarantino é o meu realizador de eleição e, apesar de não concordar com o top a 100%, tens o PF em primeiro o que já
    é excelente ;)

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