Depois do sucesso que já havia granjeado por parte do mundo cinéfilo, com o documentário Lisboetas, premiado na primeira edição do IndieLisboa, um ano depois do também documentário A Cidade dos Mortos, que esteve há pouco tempo no circuito comercial e que não tive a oportunidade de ver, Sergio Trefaut, brasileiro, chega pela primeira vez a uma ficção a sério. Confessando que cheguei à sala de cinema com poucas expectativas, também confesso que saí de lá completamente embasbacado, depois de um dos melhores filmes portugueses que já vi.
A estética é minimalista, branca brilhante, polvilhada de subtis cinzentos e definidos e estruturais negros. A geometria cumpre a mesma função, sempre muito concreta, ora bem recta, ora lindamente oval. A difícil tarefa de contar uma história consignada a um tão pequeno espaço (praticamente foi aquela sala de interrogatório), foi aqui levada a cabo por uma abstracção geral da localização - não ao jeito dreyeriano ou godardiano, na montagem e nos saltos, mas sim nos olhares e na utilização da cor (por exemplo, aqueles constantes frames brancos, que ao início custaram a assimilar, mas que rapidamente faziam parte da beleza do interregno que aquela mulher vivia).
A história não tem segredo de maior e é baseada num caso verídico. O poder está no bailado linguístico que Tréfaut conseguiu criar, dando particular credibilidade e força ao diálogo em português, algo que dificilmente se vê fazer. Depois, a estratégia foi contar os acontecimentos basicamente através das reacções das personagens e teve a sorte de ter Maria de Medeiros a fazer uma das interpretações da década (se contarmos como pertencendo à década passada, que daqui a uns anos não acontecerá); Isabel Ruth absolutamente maravilhosa e Diop também muito bem.
Tenho dúvidas de que seja um filme que vá conhecer muito sucesso no circuito comercial. Apesar da forma como me afectou, não deixa de ser uma peça difícil e muitíssimo pouco convencional. Mas este sim, é um filme português que eu espero que corra muitos festivais.
Aguçaste-me a curiosidade.
ReplyDeleteGlad !
ReplyDeleteObrigado pela passagem :D
Confesso que fiquei um bocado desiludido. Gostei das interpretações, da utilização do preto e branco e mesmo da forma de filmar, mas houve um ou outro pormenor que não gostei, sobretudo a repetição de alguma das cenas. Não estou a falar das que são duplicadas e nos permitem ver a cena a partir das perspectivas de duas personagens diferentes, mas de uma ou outra que são mesmo repetidas.
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