Monday, May 16, 2011

Como anda Cannes'11, incluindo Tree of Life


Depois da aplaudida estreia de Midnight in Paris, de Woody Allen, na abertura do festival de Cannes'11, no passado dia 11 de Maio, já é altura de passar a revisão à opinião geral que se vai formando, particularmente construída pela prestigiosa crítica internacional que todos os anos se concentra religiosamente às portas e nas cadeiras das sessões.

No segundo dia destacou-se We Need to Talk About Kevin, adaptação do livro de Lionel Shriver, vencedor de um dos mais importantes prémios literários no Reino Unido, o Orange Prize. É a história de uma mãe, interpretada pela maravilhosa e granjeadora de excelentes críticas no papel, Tilda Swinton (recentemente a prestar visita a Portugal, gravando um anúncio publicitário nos Restauradores, em Lisboa), que tem de lidar com a dor e angústia de uma relação com o filho, responsável por um massacre na escola, que tira a vida aos colegas e professores. O trabalho da realizadora, Lynne Ramsay ("Morvern Callar", "Ratcacher") foi particularmente elogiado, com garantia de força e intensidade visual e temática.

Restless, o primeiro filme de Gus Van Sant desde o Oscar pick Milk, conhece observações que foram apontadas ao filme de 2008, de mãos dadas com o mainstream (como também já tinha sido "Good Will Hunting", em 1997), eventualmente desiludindo os religiosos fãs da sua obra mais reflexiva, social e alternativa ("My Own Private Idaho", "Gerry", que muito deve a "Werkmeister Harmonies", de Tárr ou "Elephant"). As maiores reticências ficaram para o argumento, demasiado simplista e linear, talvez demasiado doce em contraste com a sua visão mais amarga dos anteriores filmes de culto. Bem recebido foi o trabalho do cinematógrafo Harris Savides, e as prestações dos protagonistas Mia Wasikowska e Henry Hopper (filho do falecido Dennis Hopper). A história é a de uma peculiar história de amor entre uma jovem doente terminal e um rapaz que gosta de assistir a funerais acompanhado do seu amigo fantasma, outrora um piloto japonês da II Guerra Mundial.

No terceiro dia chegou Habemus Papam, julgado como uma inteligente, "bem escrita, e surpreendente comédia mainstream do realizador italiano Nanni Moretti, sem descurar as várias considerações filosóficas. Michael Picolli (actor de culto, tendo trabalhado com alguns dos mais importantes realizadores da história do cinema, nas mais diversas correntes e estilos) é, contra a sua vontade, o recém-eleito Papa (de onde vem a expressão latina do título). Moretti interpreta o psiquiatra que o irá a ajudar a ultrapassar o pânico, criando uma aparentemente incrível história sobre poder, fragilidade e solidão que, se obviamente caiu mal colo da igreja, chega a ser acusado de não ser suficientemente irreverente. A sensibilidade do filme também mereceu destaque, com referências à fotografia e à direcção artística.

Das possíveis surpresas, Toomelah, da Austrália, surge com problemas de ritmo e energia, Miss Bala, do México, sobre tráfico de droga, consegue mais algum interesse mas sem fugir a vários clichés e o mais interessante parece ter sido Hard Labor, na secção Un Regard, o primeiro trabalho de Juliana Rojas e Marco Dutra, do Brasil, que traz a interessantíssima conjugação do terror e das dificuldades económicas.

No quarto dia chegou, com a presença de Johnny Depp e Penélope Cruz, a maximizar o mediatismo do festival junto de um público mais vasto, a quarta parte da saga Pirates of the Caribbean (On Stranger Tides) e dividiu opiniões. No entanto, as mais positivas ficam-se por "um bom filme" ou "um bom regresso de Jack Sparrow", por vezes "um filme divertido", com elogios à visão do novo realizador, Rob Marshall e não conseguem fazer frente às acusações de repetitividade, aborrecimento, previsibilidade e falta de mecanismos narrativos capazes de prender o público à cadeira.

A grande surpresa do dia veio de Michael, realizado pelo director de casting de Michael Haneke, Marcus Shleinzer, também austríaco. Um filme cru e realista, que vincadamente dividiu opiniões, como faz sempre o realizador de "The White Ribbon", retrato de uma relação entre um pedófilo e uma criança, ora congratulado por ser "um triunfo de um cinema difícil", ora acusado de ser completamente sem escrúpulos.

Os irmãos Dardenne fizeram furor no quinto dia e já há quem profetize a sua terceira Palma de Ouro ("Rosetta", em 1999) e "L'enfant", em 2005). Com Le Gamin au Veló, protagonizado com vigor e poder por Cécile de France e Thomas Doret, é a história de um pequeno rapaz de procura apoio numa mulher, depois da morte do seu pai. O filme foi considerado "fresco" e capaz de tocar a esfera mais mainstream.

Talvez a maior revelação do festival seja The Artist, do francês Michel Hazanavicius. A história passa-se na Hollywood de 1927 a 1931, em plena studio era, e retrata a queda de uma estrela de cinema e a ascensão de outra, respectivamente, ele e ela. Até aqui, já me soava a algo suficientemente interessante. Partindo, depois, de um belíssimo poster, chega a noção do arrojo do realizador: este é um filme sem som e foi considerado como uma peça extremamente divertida, emocionante e capaz de captar todos os trejeitos do cinema mudo, em óbvia e respeitosa homenagem aos filmes da altura. Para já, o filme será distribuído em França pela Warner Bros. France e nos EUA pela Weinstein Company. Após a sua estreia, é já considerado um fortíssimo candidato a vencer a Palma de Ouro e a chegar aos Óscares em 2012.

Na quarta feira, chega Melancholia, de Lars von Trier, do qual já há um novo clip.



Para terminar, relembro que hoje é o grande dia; provavelmente o dia mais esperado neste edição do festival. Ao fim de muitos anos de tropeções de produção, Terrence Malick chega com Tree of Life, cujas imagens deixam antever um incremento de intensidade e beleza na forma como o autor filma a natureza e a faceta mais bonita deste nosso mundo. Deixo-vos o novo clip, que é o mais próximo que a maior parte de nós estará de ver o filme esta noite.

Os cerca de 3000 mil jornalistas que estão presentes no festival, no âmbito das sessões a eles especialmente dedicadas, já viram o filme e as apreciações são múltiplas e divididas. Como exemplo, talvez sirva a divergência nacional entre Vasco Câmara e João Lopes: o primeiro condena o filme por fazer uso da voz off para passar o que de outra forma não consegue; o segundo acredita que é imperativo a Palma calhar ao norte-americano, considerando o filme "uma experiência inédita".



1 comment:

  1. A Lightbox é uma Produtora de audiovisuais que se encontra, actualmente, a gravar o terceiro filme da saga Balas e Bolinhos.

    Interessa-nos o vosso contacto no sentido de, pontualmente, vos enviar algumas informações que possam ser do vosso interesse.

    Como tal, solicito que um e.mail para onde possa enviar essas informações.

    Entretanto, se quiser saber mais sobre nós:
    www.lightbox.pt
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    Fico a aguardar uma resposta.

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