Sunday, November 21, 2010

Harry Potter and the Deathly Hallows- Parte 1 (2010)

Há duas coisas que sempre vão toldando a expectativa com que vou vendo os filmes, um por um, um após o outro, ano após ano: a por vezes inconsciente ânsia de ver numa tela o fantástico mundo que ocupa um lugar de ouro no meu universo imaginário e os trailers, sempre tão bem feitos, que fazem fazem parecer tal evento um acontecimento gigante e glorioso. Tem sido por isso que, desde há dez anos, venho saindo cada vez mais desiludido da sala de cinema, cabisbaixo, irritado com o tratamento que vem dando às coisas.

Apesar de ontem não ter assistido a nada perfeito, estou muito contente por poder dizer: até hoje.

Em termos de adaptação literária, com alívio por fazerem um filme de duas partes e pena por não o fazerem com cinco ou seis, não consegue deixar de pecar por ter de abarcar uma monstruosidade de histórias, historinhas, lendas, mitos, descobertas, de e para tantos personagens diferentes, em tantos locais diferentes, com tantas coisas paralelas a acontecer. Continuo a insistir que Severus Snape é uma peça fundamental em toda a história, principalmente nos últimos dois livros, sendo que só apareceu uma vez, durante um minuto (segue as opções do sexto filme, que lhe tirou qualquer protagonismo, que poderia utilizar agora). Na verdade, acho que mesmo em termos cinematográficos teria contribuído para a atmosfera mais adulta e terrorífica que este volume adquiriu, deixando para trás as réstias do carimbo de filme juvenil que ainda o marcavam muito.

Sendo impossível contornar esta insuficiência de argumento, a diferença para com os outros filmes é o facto deste conseguir introduzir, fora Snape, tanto quanto é essencial e motivador das acções, percursos e relações dos três jovens feiticeiros. Se em "Harry Potter e o Príncipe Misterioso" há uma frustradíssima tentativa de pegar no aspecto humano da equipa, nomeadamente através do amor entre Ron e Hermione e entre Harry e Ginny, aqui é com grande sucesso que Yates revela os laços do trio como grande força motriz para Harry e para toda a restante empresa. Não descura o fantástico da magia e imprime uma maior carga psicológica nas próprias personagens, algo que até então nunca tinha saltado dos livros. Na verdade, o realizador consegue uma montagem manipuladora, grande condensadora temporal, que lhe permite enveredar por esses caminhos e ainda assim ter espaço para comunicar ao espectador as pistas sem as quais não existira sequer história.

Quem também merece grande destaque é o nosso caro Eduardo Serra. Não tenho dúvidas de que o verdadeiro ponto forte do filme é a belíssima imagem, que não se resigna a essa classificação, impondo-se também como uma imagem inteligente. Grandes e fabulosas são as paisagens a que recorre Yates, mas todas elas surgem com sentido, com uma contribuição avassaladora para o progredir narrativo e para complementar o estado de espírito das personagens. Quando a isto se acrescentam dispositivos de direcção que nunca tinha visto serem usados num filme de Harry Potter, como a steadicam tremida que lhe confere um rasgo de realismo imediato, os extraordinários desenhos com que é contada a História dos Três Irmãos ou a cena completamente forjada e improvisada da dança entre Harry e Hermione, que acabo por ver como crucial, só posso fazer um balanço muito positivo.

Os efeitos especiais, feitos pelos melhores do mundo, são inafastáveis, de tão extraordinários que são, em todas as cenas a que a eles se recorra. O sector artístico está lá e está lá muito bem, fazendo um grande complemento à bonita fotografia que referi. A música, que desta vez passa bem mais despercebida, apesar de vir de Desplat, consegue criar o ambiente a que se propõe - de qualquer forma, podia ter dado ainda mais força ao filme.

Notas finais para os actores. Deliciosos momentos de humor, especialmente a cargo dos irmãos Phelps (os gémeos), Ruper Grint (Ron) e Toby Jones (Dobby). Emma Watson, melhor do que nunca, rouba completamente a cena do retorno de Ron e faz, pela primeira vez em dez anos, verdadeiro jus à personagem (depois de andar sempre lá perto) e afirma-a como uma das mais incríveis e importantes da história.

Por agora, vou esperar por Julho para tecer considerações mais completas, já que as duas partes formarão um só filme, altura em que não evitarei dissertar sobre os sete, fruto da nostalgia que me irá assolar o espírito.

Enfim, senhoras e senhores, Harry Potter e os Talismãs da Morte traz o primeiro troféu de óptimo filme, para a saga.

9 comments:

  1. Se há coisa que esta crítica me traz é esperança. Não vi o 5º e 6º filmes. Gostei imenso do AZKABAN. Talvez vá vê-lo ao cinema.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD – A Estrada do Cinema «

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  2. ROBERTO,

    Espero não que não te desiludas. Há momentos deparei-me com uma amiga que considera este o pior de todos os filmes. No entanto, acho que as opiniões pendem mais para este lado (o Pedro Ponte segue no mesmo sentido que eu).

    Talvez tenhamos mesmo os parâmetros parecidos, eu e tu, já que o único de que tinha gostado mais era o Azkaban.

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  3. Também estou bastante curiosa relativamente a este filme! Posso dizer que acompanhei desde de sempre o Harry Potter,li todos os livros e vi todos os filmes, é quase que como o fenómeno da minha geração, o que faz com que eu viva muito mais isto :P Ainda não tive oportunidade de ir ver o filme, mas estou com uma enorme curiosidade!

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  4. Isto fez me sentir ainda mais motivada!!
    Pelos trailers pareceu-me que desta vez este Harry Potter seria o melhor.
    Tenho pena é de só o poder ver lá para Dezembro :(
    Os filmes aqui chegam tão tarde...

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  5. Grande filme de facto!
    Eu sou em muito suspeito por todo e qualquer comentário que relativo à saga do Harry Potter faça, porque cresci a ler os livros e a ver os filmes e como é óbvio as emoções são motivo de subjectivismos favoráveis.

    Mas este, do ponto de vista da imagem, como disseste, é talvez o melhor. O recurso aos cenários muito visuais e especialmente bonitos correu muito bem. Muitos dos cenários nos quais "eles" acamparam eram simplesmente avassaladores.
    Contudo em 10 anos toda a tecnologia relacionada com o cinema evolui e em razão proporcional se altera o resultado final, em principio em sentido ascendente de qualidade. (nem sempre comprovável, como em muitos casos.)

    "Em termos de adaptação literária, com alívio por fazerem um filme de duas partes e pena por não o fazerem com cinco ou seis" - partilho da tua magoa.
    "Continuo a insistir que Severus Snape é uma peça fundamental em toda a história";
    "os extraordinários desenhos com que é contada a História dos Três Irmãos";
    Faço minhas as tuas palavras.

    Como nos tens vindo a habituar, boa critica.
    Cumprimentos,

    JLS
    P.S: Há muito que não lia jus no sentido português e não no sentido romano(ius), tu percebes lol

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  6. Qualquer dia tenho de ganhar coragem e vê-los todos porque nunca vi nenhum...

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  7. Muito de acordo com a tua crítica! Apesar de algumas falhas, saí muito contente da sala de cinema ao ver que finalmente uma adaptação à altura do livro estava em curso (como nunca tinha acontecido à excepção do Azkaban, também o meu preferido)! Vamos lá ver como a saga termina, ainda houve muitas pontas soltas e espero que a parte 2 consiga fechar em grande, dando, por exemplo, o devido ênfase a Snape, que até agora tem sido inexplicavelmente esquecido!

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  8. SARAH: Precisamente isso. Tão geracional, tão nostálgico.

    SARA: Ahahah, é estranho imaginar que há um desfasamento tão grande.

    DORA: Compreendo que não te tenha atingido. Mas, é como diz a Sarah: faz demasiado parte do nosso crescimento e desenvolvimento do nosso imaginário.

    CATARINA: Espero que sim, que feche mesmo em grande. Seria uma grande desilusão, especialmente depois deste.

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  9. JOÃO PEDRO: O mesmo que disse à Sarah: bom, todos somos suspeitos, porque todos partilhamos essa tua posição. Sim, nota-se uma grande diferença nesses dez anos. Fico contente por estarmos de acordo e obrigado pelo feedback ;) Sobre o "jus", nem tinha pensado nisso ahahah.

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