Agora que julgo estar perto de poder ir ver "Como Desenhar Um Círculo Perfeito", de Marco Martins, parece-me bem fazer uma pequena viagem ao seu outro muito reconhecido trabalho - nacional e internacionalmente.Alice, a filha de Mário (Nuno Lopes), desapareceu há quase 200 dias e o desespero e a quase-depressão dos pais assombram-nos todos os dias da sua vida. Mário, ao contrário da polícia, não descansa: todos os dias se levanta exactamente à mesma hora que no dia em que Alice desapareceu, come exactamente a mesma coisa, faz exactamente o mesmo percurso, vê exactamente as mesmas pessoas, faz exactamente as mesmas coisas (o simbolismo do cão de papel, que compra todos os dias a um mendigo, sendo a mesa cheia deles um dramático símbolo da inevitável passagem do tempo).
É suposto ser uma estória triste, um retrato de solidão, de loucura, de desespero. Consegue, perfeitamente. O grande buraco no argumento poderia ser a questão que acho inevitável colocar quando percebemos as intenções de Mário: "porque raio é que a miúda haveria de estar em Lisboa ?". No entanto, interpreto isso como sendo nada mais do que um sinal dessa loucura e obsessão de que trata o filme.
O final deixa-nos uma mensagem que nos cai como uma bomba na consciência. Parece mesmo que, naqueles segundos finais, Mário passa pela filha na rua, sem se aperceber. E naquela multidão de gente, com que começa e acaba o filme (e que tantas vezes surge, como as filmagens no metro), ao longo de quase um ano, quantas outras vezes terá Alice passado despercebida nas suas barbas ?Incrivelmente introspectivo.
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