Sunday, December 12, 2010

Darren Aronofsky - Top Filmografia

A cada dia que passa estamos um dia mais perto de ver estrear em terras lusitanas o badaladíssimo Black Swan, o ballet-thriller de Aronofsky que conta com Natalie Portman e Mila Kunis. Já conheço a premissa, já vi o trailer, já vi posters, já li entrevistas (convido-vos a lerem esta), e duvido que pudesse estar mais ansioso.

Achei, por isso, que estava na altura de fazer o meu balanço sobre a curta filmografia do "jovem" realizador, um dos meus favoritos, uma autêntica referência. Não sei se será por ainda ter feito poucos filmes ou não, mas não há um que eu coloque a baixo de "muito bom".


4. PI: FAITH IN CHAOS (1998)
Um dos membros daquele grupo de filmes a que se pode chamar de "primeiras grandes longas-metragens". É o primeiro mergulho no tratamento dos comportamentos mais obsessivos do ser humano, tema que vem a pautar toda a cinematografia do realizador até agora: aqui e em Requiem com a psicose e as drogas, em The Fountain com a morte, em The Wrestler com o wrestling e a companhia, em Black Swan com a perfeição. Aliás, é de um engendrar perfeito, a visualização deste filme e do seu segundo, seguidos - já aqui está a montagem frenética, ofegante, ansiosa, que distorce o tempo em que o impulso do vício toma conta das personagens. Há mais preto e cinzentos que branco, e é assim que retrata uma perturbação mecânica, analítica de um homem que ora está fechado, ora anda em círculos. Ou não fosse o seu problema precisamente a matemática, que, quer ele provar, funda a vida e a existência. Um crescendo do estudo e das descobertas muito bem construído, acompanhado pelo visível aumento do ritmo da sua insanidade e fraqueza em agarrar-se à realidade cujo fundamento procura desvendar. Uma câmara dinâmica e oblíqua faz-nos entrar nesta espiral de acontecimentos, dores e números. O final é extraordinário: um homem por fim feliz, esquecido, que abandonou de vez a inifinitabilidade do universo, que nunca poderia compreender.


3. THE FOUNTAIN / O ÚLTIMO CAPÍTULO (2006)
O seu argumento mais complexo, a sua concepção mais ousada. Três histórias de um homem e uma mulher, que são também três homens e três mulheres, que são também todos os homens e todas as mulheres, incluindo Adão e Eva. É incrível a forma como liga uma o passado ao presente e ao futuro através de saltos cronológicos cheios de paralelismos e simbologias como, de todas as vezes que chega a um dos sítios, ameaça ter-nos mentido, ao estabelecer novas conexões entre tudo, que desta vez seguem uma lógica simplesmente metafísica e sonhada - será que alguma daquelas história realmente aconteceu ? Qual delas ? Quais delas ? Será que se misturam ? Aqui a obsessão é a da morte, de um homem que quer a vida eterna para si e para a sua Rainha, de outros dois que querem a ressurreição da sua amada. Ciência e religião reunem-se como os dois bastiões da significação dos propósitos da nossa estadia neste mundo. Porém, se em Pi Aronofsky prima a redenção, aqui condena a ambição e quem nos mata é a própria árvore da vida, que é como quem diz, nós próprios. Visualmente, é um autêntico magistério dos sentidos, poderoso, vistoso, tão bonito como imaginamos ser a metafísica de quaisquer que sejam os nossos costumes.


2. THE WRESTLER / O WRESTLER (2008)
Uma viagem séria, compenetrada e incrivelmente bem estudada pelo mundo do wrestling faz com que Aronofsky crie um filme sobre um conflito interno de um só homem de forma extraordinária; do melhor do género, do que tenho visto. Aqui, a obsessão é criada de forma muito mais serena e sóbria do que nos três casos anteriores. A evolução é calma e é-nos dado, não s+o possibilidade mas também função, para tomar nos braços aquela extensão de tempo que o cobre de solidão e melancolia, de pobreza de perspectivas, de nostalgia das vivências que se vão diluindo. Sendo uma obsessão pelo wrestling, é uma obsessão por se ser alguém e por ter alguém. A interpretação de Rourke é extraordinária e complementa todo o trabalho do argumento em desenvolver com uma coerência e dramaticidade enormes a evolução dos dilemas da sua pobre alma. Conhecemos os seus profundos problemas, a sua passividade, a sua reacção à passividade, a inevitabilidade da queda, a resignação. Por fim, a revolta, o esgar de integridade. Um momento de auto-destruição que já se adivinhava, mas que surge de forma surpreendente, ao consumar e resultar do melhor que a vida arruinada conseguiu comportar.


1. REQUIEM FOR A DREAM /A VIDA NÃO É UM SONHO (2000)
Link para a crítica, escrita a 31 de Agosto de 2010.

5 comments:

  1. Meu top
    4 - The Fountain
    3 - Requiem for a Dream
    2 - The Wrestler
    1 - Pi

    Todos dentro da escala muito bom sem dúvida. Grande realizador, óptimas temáticas

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  2. Um dos melhores da actualidade. E se tivesse de fazer uma lista tinha exactamente a mesma ordem !

    Cumps

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  3. Curiosamente é um realizador que sigo atentamente, contudo PI para mim foi demadiado estranho

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  4. É um realizador excepcional, ainda me falta ver o Pi e coloco o Fountain acima do Wrestler. Aliás o requiem e o fountain é dificil para mim escolher um.

    Mas concordo que são todos muito bons, por enquanto tem um currículo imaculado.

    Abraço

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