Wednesday, May 11, 2011

IndieLisboa'11: Attenberg (cobertura dia 6)

Desde que o filme abre que são óbvias as semelhanças estéticas com a belíssima anterior obra vinda da Grécia, Dogtooth. As cores claras e desgastadas, hospitalares, na verdade; a forma como a câmara espera por todas as acções e todos os movimentos e diálogos bizarros e estranhos dos personagens, sempre a uma distância mecânica de um plano americano (conferindo maior significação às aproximações aos rostos, planos bem bonitos); os enquadramentos autistas, planos, de uma realidade fechada e a duas dimensões. São os tons e a atmosfera do antecedente filme, realizador por Yorgos Lanthimos, que protagoniza aqui a figura do engenheiro.

Nestes termos, é muito interessante e adivinha, ou confirma, depende do que se seguirá e do ponto de vista com que se olha, a nova tendência do cinema grego, aqui pela mão de Athina Rachel Tsangari. Porém, narrativa e tematicamente não me deixou propriamente satisfeito e creio que é aqui que fica bastante aquém do outro filme, mesmo percorrendo a mesma lógica metafórica. Trata-se aqui a descoberta ou emancipação sexual de Marina, que praticamente vem de um ovo de ignorância e não sabe sequer beijar - aliás, deste perturbador plano inicial e ponto instigador da história, catapultam-se uma série de momentos, como afirmei, bizarros, tão realistas quanto surreais (e aí, por exemplo, a menção para a "árvore de pénis"). O contraponto é a sua amiga Bella, que retratando uma passividade semelhante, esconde uma leviandade contrastante ("(...) come toda a gente." - incluindo o pai de Marina).

Peca, parece-me, por certa falta de rumo. Terá uma estrada, mas não um caminho. Senti pouca utilidade em muitas das sequências a que assisti e tive dificuldade em que articular um desenvolver de um tema sem interrupções forçadas de tentativas de extra-realismo. Por vezes, socorre-se demasiado da simbologia, ora do gesto ora da palavra, e a ligação das cenas torna-se um pouco arty.

O filme esteve nomeado para o Leão de Ouro em Veneza e a actriz principal Ariane Labed venceu a Copa Volpi, destinada às melhores performances - de facto, gostei. De qualquer forma, um caso a analisar com mais detalhe, no futuro.

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