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Sunday, January 16, 2011

Winter's Bone (2010)

Não conhecia nenhum trabalho de Debra Granik até ver a sua nova peça, que estreou e granjeou sucesso no Sundance Film Festival 2010, e é com satisfação que afirmo que farei por ver o resto. Winter's Bone é uma história de uma rapariga (Jennifer Lawrence, numa grande performance) que atravessa uma evolução muito bem contada entre a maturidade forçada e o desespero de uma mãe vigorosa, num retrato físico e psicológico, ao ter de embarcar na árdua jornada de procurar o pai para o entregar às autoridades, sob pena de ficar sem a grande quinta que enforma a sua vida, dos seus irmãos e da mãe doente. A comunidade em que se insere é pautada por teias de subtis foco de corrupção e controlo popular, isolada no sul dos EUA e a realizadora e a equipa de imagem fizeram-lhe grande jus, ao desenhar um ambiente remoto, pálido, gélido nos momentos tensos e verdadeiramente envolvente e mórbido na cena em que finalmente encontramos o pai de Ree. Para isso, pega num realismo que não se resigna ao documental, mas que faz uso da textura e da pintura das paisagens e do cenário country em que filma e usam uma câmara por vezes instável, de acordo com o desajuste daquela rapariga, daquela família, daquelas pessoas - a montagem é muito bem aproveitada, com cortes extremamente oportunos, narrativamente bem colocados e economizadores de tempo.

Saturday, September 4, 2010

Os melhores das décadas, 2000: Memento

É sem deslumbrar visualmente, sem uma fotografia ou uma câmara especialmente boas, que, sem pensar duas vezes, classifico Memento como um dos melhores filmes do ano 2000 e, como tal, da década. Uma original thriller de vingança, contado através de uma das mais brilhantes estruturas narrativas que alguma vez alicerçaram um filme, combinando uma explanação dos acontecimentos de forma cronologicamente inversa com uma outra, a preto e branco, cronológica, simplesmente. No entanto, não se entenda que se trata de um virtuosismo meramente formal, já que a mestria com que Nolan alia o seu guião às propriedades da montagem cria um claustrofóbico e misterioso cerco neuro-psicológico, que nos envolve a nós próprios numa intensa e contínua junção de peças e decifração de eventos, momentos, acções. Magnífico relato por entre as complexidades da memória, que não desafia apenas as personagens, mas também o espectador.

Thursday, August 19, 2010

The Ghost Writer / O Escritor Fantasma (2010)

A mestria do director não parece ter-se desvanecido nem turvado com todo o contexto em que volta a manifestar-se (a prisão domiciliária de Polanski), ou não fosse O Escritor Fantasma uma magnífica jornada pelos convencionalismos do thriller, algo feito de forma potencial e quase sempre alheia a clichés e conveniências narrativas.

A atmosfera é constantemente pesada, dura e avassaladora, com um céu de um cinzento carregado, a noite gélida e húmida, a chuva torrencial e crepitante, como o seu inimigo fogo. A fatalidade climatérica é uma fatalidade emocional, às quais se aliam os cenários perturbantemente fechados, isolados e distantes, do posto de de Adam Lang e equipa, da ilha, do barco, da casa de Paul Emmet. As transições entre uns e outros, o contraste com uma paisagem aberta e libertadora, mas ainda assim de cores mortas e com horizonte no mar, constroem uma incontornável conspiração entre mão do homem e a natureza, na confinação dos personagens a uma autêntica e omnipresente prisão psicológica e política


A câmara, ainda que não tanto como esperava e gostava, percorre connosco o trabalho, expressões, desconfianças, investigação e descobertas do fantasma (um delicioso pormenor - nunca chegamos a saber o nome da personagem protagonizada por Ewan McGregor), envolvendo-nos no mistério e na intriga, oferecendo-nos as peças para montarmos o puzzle, os recortes para fazermos o jornal, os dados para tirarmos as conclusões. A trama é intrincada e complexa, gentil no que toca a permitir-nos desconfiar de todos os interessados, em certo ponto; é reveladora, surpreendente e coerente com a inteligência que Roman permite ao espectador utilizar e faz-se acompanhar com óptima conjugação entre uma música ritmada, assertiva, alarmante e perfeita para momentos de suspense (que gostava que tivesse sido usada mais vezes) e o necessário som do silêncio, quase sempre no lugar certo.

Os minutos finais são passíveis de deixar qualquer audiência colada à cadeira, ao contarem com a solução que temos vindo a procurar desde o início e com duas grandes cenas finais - um close shot perseguidor do bilhetinho da revelação, com grande aumento da tensão e da expectativa (verdadeiramente thrilling) e o atropelamento, casual ou não, do homem que era uma pedra no sapato, como já o havia sido o seu antecessor, com as folhas do manuscrito a inundarem as frias ruas de londres - de quem são estas palavras ao vento ? Um mistério que, na estória para lá da que vemos, nunca será resolvido.

Notas para a excelente prestação de todo o elenco, com particular destaque para Ewan McGregor e Pierce Brosnan.

Saturday, July 24, 2010

Inception / A Origem (2010)

Foi longe da beleza visual de Fellini, da serenidade de Antonioni ou do surrealismo de Buñuel que vi aquela que me pareceu uma grande abordagem ao poder do sonho, desta vez com Christopher Nolan. Não sendo um filme que, como fazem as obras dos autores que mencionei, nos envolve de forma artisticamente crua e quase perfeita, é, como conjugação entre a exploração dos mistérios da condição humana e o puro entretenimento, fascinante.

A Origem é um thriller psicológico ao jeito do que já vimos no, para mim ainda superior Memento. Há a equipa dos bons, a (ou "as") equipa dos maus, há o plano, com muita acção, tiros, explosões e perseguições, há os previsíveis acidentes de percurso e há, concebida com uma originalidade desafiante, a controladora atmosfera psicanalítica. Uma viagem pelo mundo dos sonhos e pela sua representação, confusão e fusão com a realidade e pelo subconsciente, o mais profundo e impenetrável guardião de segredos que comporta a natureza humana e e a actividade cósmica, o núcleo fundamental da personalidade (o id de Freud), a origem de todas as ideias (o erro de Descartes ?).

Está sempre presente a intenção de vender o produto, de agradar às massas e daí que surja toda a clara trama hollywoodesca, um claro apelo ao pathos, como é evidenciado pela luta de Cobbs, que, ao contrário da sua equipa, não é apenas psicológica mas também emocional. Não é por isso que deixa de nos prender à cadeira, de nos impressionar pela fantasia em que vivemos ou pela sinceridade do sonho como fundamental meio de auto-conhecimento - o que é a realidade ?
A fotografia é belíssima, a começar pela imagem inicial do embate bruto das ondas contra as quase frágeis rochas, o mar que representa tudo aquilo que o Homem não sabe que é, e cujo vislumbre apenas faísca no limbo do ser e do não ser, da percepção e da ilusão, mas que nos envolve e erode de forma inevitável. Nota muito positiva para os efeitos poderosos da arquitectura dos sonhos e, especialmente, para uma montagem incrivelmente inteligente, emocionante, arrebatadora (como a cena inicial em que Cobbs é "empurrado" para a banheira e o que se passa no sonho), sempre acompanhada por uma música épica e uma câmara que pauta um ritmo ofegante e excitante.

Gostei das interpretações dos actores, especialmente das de Di Caprio e de Lewitt.

Monday, May 17, 2010

2001: Space Odyssey / 2001: Odisseia no Espaço (1968)

Não tenho dúvidas de que estou perante um dos títulos não-intelectuais (como, e recorrendo a um exemplo do mesmo autor, "Clockwork Orange") mais bem conseguidos que já li. "Odisseia". É a síntese perfeita para esta tão diferente experiência - é de uma pura deambulação anestética, um sentimento de completo envolvimento na esfera espacio-temporal da estória.

A chave para isto é o facto de estarmos perante uma obra essencialmente visual e musical, com pouquíssimos diálogos - os primeiros e os últimos vinte minutos do filme (num total de quarenta, aprox.) passam-se sem qualquer fala. Estamos a falar de um filme idealizado em 1965, quatro anos antes do homem chegar realmente à lua (21 de Julho de 1969), em que vemos naves de vários tipos, bases espaciais, fatos de astronautas, a interacção do homem e um espaço de uma perfeição admirável (não sou eu ninguém para avaliar isso mas 1) Kubrick convocou peritos para o aconselharem nos mais ínfimos pormenores; 2) é tecnologia que eu aceitaria perfeitamente ver num filme actual, sobre o espaço). Estamos a falar da existência de um computador (HAL) que tem um nível de inteligência equiparável ao homem e da inclusão daquilo a que hoje chamaríamos uma conversa por webcam (apesar de aqui ser através de um telefone). Estamos a falar de efeitos de cores e luz belíssimos aquando da chegada a Júpiter. Eu sei que o homem foi um grande visionário, mas não consigo deixar de ficar atordoado de cada vez que penso.


Falei em música, também: são duas horas do melhor que há de música clássica. Bom, se me dissessem que havia um filme com naves e afins, incessantemente acompanhada por Beethoven ou Mozart, talvez me risse. Pobre tolo. Inspirou-se nas valsas alemãs para, ao olhar para a nave mãe da sua estória, que tem uma estrutura em forma de circunferência e em permanente rotação, nos injectar com a famosa melodia de Johann Strauss II, O Danúbio Azul.

A harmonia entre a rotação das naves, os planetas redondos, as naves redondas, os astronautas às voltas, sempre que saem da nave, o design futurista de toques igualmente arredondados, a lentidão com que grande parte do filme se passa (efeito da gravidade) e esta fabulosa banda sonora transporta-nos para um certo estado de êxtase, se estivermos a conseguir apreciar tudo.

O argumento, a estória em si, também está muito interessante. Pode ser dividido em três capítulos:


1. Pré-histó
ria.
4 milhões de anos antes de 2001, em África. Sol, grandes pradarias. Vários animais. Duas tribos de macacos andam por ali, a fazer a sua vida - passamos algum tempo a assistir a isto. Numa manhã, um monolito negro caiu na Terra, para espanto e confusão dos primatas.
A partir do momento em que estão perante a sua presença, ter-se-à (é a interpretação que faço, e penso que é a correcta) desencadeado o processo de evolução, de onde surge o homem - depois do acontecimento, um dos macacos descobre as potencialidades que um osso pode ter (nomeadamente como arma). Logo de seguida, vemos os macacos a comer carne (já caçaram) e uma disputa sobre uma pequena "poça" de água que outrora partilhavam.


2.Viagem à Lua (2001)
Numa altura em que já nos podemos maravilhar com a criatividade futurista de Kubrick, Dr. Heywood Floyd (William Sylvester) chega a uma nave com o objectivo de dirigir uma expedição à lua onde havia sido encontrado um monolito negro, exactamente igual ao que caíra na Terra há 4 milhões de anos atrás (nota: a audiência está a par desse facto, não as personagens). Como é que esta sequência nos ajuda a perceber o poder que a pedra tem para gerar vida e despoletar a evolução ? Pelo facto das análises feitas ao bloco se puder afirmar que este havia sido enterrado deliberadamente. Uma informação que não se desenvolve e que, simplesmente, nos deixa divagar sobre que tipo de vida extra-terrestre existiu, porquê, como, e por aí adiante.

3. Viagem a Júpiter (2002)
O único vestígio que tinha sido retirado do monolito lunar que podia levar à descoberta da sua origem eram traços de uma comunicação radiofónica para ... Júpiter. A missão conta com o Dr. Dave Bowman (Keir Dullea), Dr. Frank Poole (Gary Lockwood) e três outros cientistas que estariam em modo de hibernação até à chegada ao destino. Passando por cima do conflito que surge no decorrer da viagem, Bowman acaba por ser o único a chegar ao distante planeta, onde encontra um monolito semelhante e um cenário completamente inacreditável, surrealista, deparando-se com sucessivas visões da sua pessoa em idade cada vez mais avançada (ele próprio, ao atravessar o "fluxo de energia" para entrar no planeta, envelhece alguns anos). De repente, estamos perante um Bowman velhíssimo e doente, deitado numa cama. É mesmo ele.
Um novo monolito negro aproxima-se e ele toca-o. A imagem seguinte, a última, é uma bola de luz verde, envolvendo algo que concluo ser um "bebé ET" a dirigir-se para a Terra.

Saturday, April 24, 2010

The Shining (1980)


Baseado na obra literária de Stephen King, com o mesmo título, trazido para o cinema por Kubrick, The Shining é outro daqueles que entra, imediatamente no segundo em que termina, para a minha lista de filmes favoritos.

Uma família, pai, mãe e filho, isola-se num grande hotel de luxo, nas montanhas, longe da civilização, durante sete meses. Jack Torrence (Jack Nicholson), o pai, é um escritor que precisa de um "retiro espiritual" onde possa beber inspiração para o seu trabalho, motivo que o leva a candidatar-se ao cargo de caretaker (zelador) do Overlook Hotel, onde o ar é puro, a paisagem é linda e o sossego não tem fim.

Porém, a vida não será fácil - a tragédia protagonizada pelo último caretaker antes de Jack surge como um forte indício de fatalidade. À medida que Jack enlouquece, Danny Torrence (Danny Loyd), o filho, vê constantemente, na sua cabeça, imagens passadas do que lá se passou e imagens futuras do que se virá a passar, num claro paralelismo feito entre o assassinato da família Grady e o possível massacre da família Torrence. A este dom da criança, ensina-lhe Dick Hallorann (Scatman Crothers), dá-se o nome de shining, também partilhado pelo simpático cozinheiro do hotel. Já Wendy (Shelley Duvall), a mãe, procura o conforto do marido, assistindo impotente à sua transformação violenta e o bem estar da criança, assistindo a impotente às perturbações causadas pelas suas visões.


O argumento está de um engenho de mestre. Senti que toda e qualquer cena teve grande significado. A construção do suspense é perfeita: a tragédia dos Grady, as visões de Danny, os diálogos com Dick e a sua voz grave, quase em tom de aviso, as expressões fantásticas de Nicholson, tudo isso nos faz antever que a tragédia final é inevitável. Porém, sendo uma das chaves do sucesso do filme, são poucas as cenas ao longo do filme em que acontece algo realmente fora do normal, assustador, mau - o que só contribui para acumular mistério e tensão (e aqui também as músicas e os sons têm uma importância fulcral).

Para mim, há três cenas fenomenais - uma qualidade que só se concebe com um grande argumento e grandes interpretações: 1) os diálogos imaginários de Jack com Lloyd, o empregado do bar e com Grady (no fundo são quatro cenas); 2) "Redrum"; 3) a invasão final de Jack ao quarto da família, como "mítico" machado.

Entrei nos actores, mas tenho pouco a dizer. Shelley faz um bom papel, que não achei extraordinário. O mesmo não digo quanto à criança. É provável que o cinema tenha perdido aqui um grande actor, quando Danny decidiu que não queria fazer do cinema a sua vida - hoje tem quase 40 anos e é professor de Ciências numa escola do Michigan. Por fim, por muito boa que esteja a história, por mais saborosa que seja uma realização do K. (vénia para uma parte que aparece várias vezes, a inundação de sangue), o filme não seria o mesmo sem Jack Nicholson.

Thursday, April 1, 2010