Saturday, September 11, 2010

Os melhores das décadas, 2000: Gladiator


Não me importo rigorosamente nada com vozes que bramem com a mais mortífera convicção de que Gladiador não passa de um aglomerado de texto previsível, fantasia e pseudo-comoção hollywoodesca, produzida, mecanicamente, em massa. Aliás, não concordo com isso. Não o classifico sequer como guilty pleasure, porque esses são aqueles filmes provavelmente maus, nomeadamente para a visão da generalidade da crítica, e dos quais gostamos sem saber bem porquê. Deste eu gosto, gosto muito, e sei bem porquê.
A fiabilidade histórica pura e simplesmente não existe, algo que não vejo como um erro de percurso, como uma desgraçada falta de preparação ou uma tentativa barata de ganhar uns trocos. O que Ridley Scott aqui faz é, partindo de outro épico, "Spartacus" (dir., Kubrick), criar uma estória com estrutura e conteúdo quase matematicamente clássicos, elevados a uma emotividade e magnanimidade envolventes e inspiradoras para os sentidos, mais do que para o intelecto. Maximus é, no fundo, um héroi literal, oposto a um anti-herói literal (os heróis não se fazem a eles; fá-los o povo, e, aqui, as pessoas do Coliseu falam por si), com objectivos e conflitos claríssimos e temporalmente distanciados de forma minuciosa, de uma calculabilidade de argumento tão evidente que, por paradoxal que seja, não consegue deixar de me envolver. É a genuína estória do bom contra o mau, contada com o recurso a uma civilização e cultura belíssimas, a uma fotografia muito bonita e a uma banda sonora incrivelmente bem conseguida, tornando não só aceitável como também necessárias as referências à afterlife.

10 comments:

  1. Grande escolha. Um enorme épico, uma história profunda e assaz emocional num contexto terrivelmente eficaz - Roma, digo.

    Texto bem explicativo daquilo que aprecias no filme, e identifico-me plenamente.

    abraço

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  2. Acho que foi o 1º e o último épico que vi. Embora não goste do género, sei admitir que este filme é muito bom.

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  3. O "Gladiator" é muito bom, começo já por dizer. Para já, porque é o único filme em que eu consigo achar que o Russell Crowe é dos melhores actores da geração dele. Depois, porque é dos poucos filmes do Ridley Scott que me dá vontade de pôr no DVD de novo e rever. E depois porque o filme é de grande qualidade. É um bom épico. É bem construído, é um argumento potente, emocionante e bem redigido e o filme é, de facto, bastante bom.

    Abraço,

    Jorge Rodrigues
    http://dialpforpopcorn.blogspot.com

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  4. Concordo na totalidade.
    Irritam-me profundamente aqueles pseudo-intelectuais de meia tijela que acham que o Gladiador não presta e o Ridley Scott é só Blade Runner.

    É um grande, grande filme. Que saudades do Joaquin Phoenix...

    Já agora, já viste O Reino dos Céus (versão de realizador)?

    Abraço

    P.S.- Vou adicionar-te à barra de blogues do Cinemajb ;)

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  5. Também gosto bastante do filme. Tal como o Jorge, identifico-me com a tua opinião.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - Há 2 Anos na Estrada do Cinema «

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  6. Fico contente por partilharem comigo este gosto pelo filme x)

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  7. JB: Muito obrigado, o teu já está na minha também ;)

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  8. Que bela escolha, um belíssimo filme.
    Um épico no real sentido da palavra.

    Abraço.
    http://vidadosmeusfilmes.blogspot.com/

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  9. Este é sem duvida um dos melhores filmes de sempre no que toca a épicos onde lá existe a figura de um herói que surge do meio do nada pra se tornar maior ainda que o Império, neste caso.

    Aliás é o único filme que eu por muitas vezes que veja me arrepio sempre na cena em que o Maximus revela a sua verdadeira identidade na arena. É uma cena brilhante mesmo!

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