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Tuesday, October 26, 2010

Let the Right One In (2008) vs Let Me In (2010)

"Deixa-me Entrar - O remake que triunfou" é o título que abre a completa crítica feita pelo blog Ante-Cinema à versão americana do grande sucesso que foi o filme sueco Let the Right One In Cheguei agora do cinema e não podia estar mais em desacordo.


Num filme como estes, que se arroga de se classificar como terror/romance, há dois pontos essenciais, que precisam de ser tratados com o maior cuidado e coerência, como requisito para obter um bom resultado final: a atmosfera e os momentos altos (terror) e o desenvolvimento da relação entre as duas crianças (romance) - sendo óbvio que, no fundo, tudo contribui para a atmosfera. E, para mim, salvo pontuais excepções, das quais farei menção, foi justamente nestes aspectos que Let Me In não se conseguiu equiparar ao seu antecessor.

Contra uma atmosfera gélida, fria, apática, perturbadora, que se vive durante todo o filme sueco, com uma fotografia pálida e vaporizante, temos um alternar entre um frio mais bonito do que cru com um conforto laranja-dourado completamente descontextualizado. Este filme não podia ter zonas de conforto, que só me faziam pensar em lareira no natal em família, quebrando toda a soturnidade e tensão que antes se tinha (tentado) acumular. Quanto à música, bastante diferente, acaba por resultar bem - pinta os momentos das crianças de um romance completamente hollywoodesco, mas não funcionou mal de todo. A restante, foi uma boa construtora de ambiente. Continuo, aqui, a preferir o primeiro filme.

Em relação aos momentos altos, quero falar de três. O primeiro, é um dos momentos do filme de 2010, que nem acontece na versão anterior - o acidente de carro. Incrivelmente bem filmado, brutalmente envolvente, estonteante. O segundo, é a perda da mística que sofre a situação que dá o nome aos filmes - em Deixa-me Entrar, a situação de "deixa-me entrar" já aconteceu por duas vezes, uma com cada um, apesar de não ter acontecido nada, o que apenas lhe acrescentou alguma banalidade, em contraponto do incomodativo impacto que teve na película da Suécia.

O terceiro e que faz a ligação para a relação das crianças, e que tem a ver com a estrutura do próprio argumento americano, é a importância que é dada à morte do "tutor" de Abby/Eli, que, por ser o ponto de início in medias res, é banhado de uma relevância superior, por ser visto duas vezes e por ser inevitável senti-lo como gatilho de alguma coisa. Ora, a relação entre a pequena vampira e aquele homem, em nada interessam para este filme; apenas a sua relação com o rapaz - foi exactamente por isso que a versão sueca omitiu o tratamento do tema da pedofilia, deixando a natureza da cumplicidade de ambos em aberto (mas admito que gostei do tratamento dado por Reeves, que colocou o homem na mesma posição que o rapaz, com a diferença do passar dos anos).

Notas finais. Chloe é brilhante mas não serve para o papel, ou não serve tão bem como a actriz sueca. Gostei de McPhee no papel, por outro lado. Para além do acidente, outros dos momentos que achei bem conseguidos na versão americana foram o da primeira morte e o da aula de educação física no gelo -o da piscina esteve quase lá, mas faltou-lhe algum espasmo e sentimento de alívio, já no final. Um filme esteticamente irrepreensível não chega (e mesmo assim aqueles primeiros cinco minutos cheios de desfoque fizeram-me alguma confusão) - é necessário saber usar essa estética.

Sunday, May 9, 2010

The Silence of the Lambs (1991)

É o segundo filme de Jonathan Demme a entrar para a conta dos meus favoritos (o outro é "Philadelphia"). Sem cerimónia: mais um clássico.

Clarice Starling (Jodie Foster) é uma promissora estudante na Academia do FBI, recrutada como último recurso para se bater numa luta psicológica com Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), um serial killer encarcerado a sete chaves, por forma a desvendar a identidade de outro serial killer (Buffalo Bill, por Ted Levine). O brilhante psiquiatra, preso por canibalismo, acaba por engraçar com Clarice, estabelecendo uma peculiar relação de confiança (alicerçada no famoso quid pro quo - "I tell you things, you tell me things") e, por entre uma miríade de fantásticos e profundos diálogos, revelações extremamente subtis mas totalmente verosímeis vão surgindo, num delicioso acumular de tensão, que culmina no confronto final entre a agente e o criminoso, às escuras. Um final aberto, que deixava antever um segundo filme, que acabou por chegar 10 anos depois (contando com uma prequela, em 2002, "Red Dragon", e uma prequela da prequela em 2007, "Hannibal Rising"): "Hannibal".

Um bom thriller. O "excelente" não o retiro tanto da estória, mas sim dos diálogos, de toda a interacção e tensão psicológica que envolve os personagens principais e a construção dos mesmos (com grande contributo das prestações de Hopkins e Foster).

Uma vénia para o título, o qual se acaba por inferir de mais um (dois, aliás) brilhante momento em que Lecter perscruta a vida pessoal da jovem Starling.

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Monday, April 26, 2010

Re-Animator (1985)


Uma peça já antiga que passou hoje no Culturgest (INDIELISBOA) e que resolvi ver.

Um puro sci-fi/horror bem ao jeito que não costumo gostar e que me surpreendeu pela positiva. Veio da direcção do americano Stuart Gordon (não conheço nada dele) e trouxe-me aos sentidos toda a atmosfera cientológico-medieval que eu sentia experimentar de todas as vezes que via ou ouvia histórias relacionadas com o mito do Frankenstein - um cientista maluco encerra um extravagante laboratório no seu castelo nas montanhas e consegue ressuscitar um morto.

Desta vez não há castelo. Herbert West (Jeffrey Combs) é um estudante de medicina que julga ter descoberto um reagente que, aplicado à fórmula do seu ex-mentor, pode trazer os mortos de volta para o mundo dos vivos. Acaba ir viver para casa de um brilhante estudante de medicina, Dan Cain (Bruce Abott), em cuja cave encerra o tal característico laboratório.

Dan acaba por se tornar o seu parceiro na experimentação do produto. Porém, as coisas correm mal. Primeiro, Meg (Barbara Crampton) acaba por ser metida ao barulho, ao assistir, involuntariamente, a uma experiência com um gato (era algo, supostamente, secreto). Segundo, o Director da faculdade e grande admirador de Dan, ao saber, pela sua boca, do projecto de West, declara-o como louco, retira-lhe a bolsa e proíbe-o de ver a filha (Meg). Posteriormente, os resultados finais não se revelam o esperado - os novos vivos não são mais "pessoas". Não são racionais nem têm qualquer traço de personalidade - quando acordam, são pouco mais do que animais ferozes e descontrolados.

É a partir deste último problema que tudo se complica. Uma ressuscitação corre mal, morre o Director, a sua ressuscitação corre mal e entramos no comboio de criação de pseudo-zombies. No meio de tudo isto surge o nosso antagonista: Charl Hill (David Gale). Hill é um neurocirurgião brilhante que desde cedo se vê confrontado com as declarações de West, sobre a forma como todos os seus estudos são plágios. É onde surge o ódio pessoal entre os dois. O médico acaba por descobrir do projecto dos dois estudantes e vai até à famosa cave onde é morto. E ressuscitado.

E eis que se inicia um plano B: o plano do mau: ficar rico e famoso com a nova descoberta e deliciar-se com Meg. West e Cain conseguem o comeback para, na morgue, terem de enfrentar um exército de novos vivos.

O final é triste. Depois de todos estarem definitivamente mortos (incluindo Hill e West; este último, permitam-me, sufocado por um intestino com vontade própria, *risos*), o filme termina com Dan a tentar reanimar a namorada, sem sucesso, numa imagem semelhante à inicial (depois dos créditos), que transmitem, especialmente pelas reacções da médica supervisora, a inevitabilidade da morte.

Porém ... Dan ainda tem um frasco do antídoto.

A construção do filme não está nada de especial, aliás, com alguns cortes um bocado bruscos. Mas há imagens que superam em muito o nosso caro SAW. O argumento podia estar ridículo, mas, como disse, achei-lhe graça (com as devidas incongruências, mesmo num sci-fi, como por exemplo, uma cabeça a respirar sozinha). Houve coisas que ficaram por explicar mas houve uma que me chamou particularmente a atenção: porque é que todos os ressuscitados ficam irracionais e estúpidos e o Hill ficou "normal" ?

Por fim, deixem-me deixar uma nota para o facto de estar para sair, em 2010, o House of the Re-Animator. Pensei que fosse um remake. Porém, as personagens estão ligeiramente diferentes. Não elas próprias, mas sim o seu percurso. Ao que parece, Meg é Dama de Honor e contamos ainda com destaque para o Presidente e Vice-Presidente dos EUA. Dan e West estão presentes e serão interpretados pelos mesmo actores, bem como a ex-namorada do médico. Se assim for, ou é uma versão totalmente nova ou, no fim de contas, este primeiro filme teve um final feliz.

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Saturday, April 24, 2010

The Shining (1980)


Baseado na obra literária de Stephen King, com o mesmo título, trazido para o cinema por Kubrick, The Shining é outro daqueles que entra, imediatamente no segundo em que termina, para a minha lista de filmes favoritos.

Uma família, pai, mãe e filho, isola-se num grande hotel de luxo, nas montanhas, longe da civilização, durante sete meses. Jack Torrence (Jack Nicholson), o pai, é um escritor que precisa de um "retiro espiritual" onde possa beber inspiração para o seu trabalho, motivo que o leva a candidatar-se ao cargo de caretaker (zelador) do Overlook Hotel, onde o ar é puro, a paisagem é linda e o sossego não tem fim.

Porém, a vida não será fácil - a tragédia protagonizada pelo último caretaker antes de Jack surge como um forte indício de fatalidade. À medida que Jack enlouquece, Danny Torrence (Danny Loyd), o filho, vê constantemente, na sua cabeça, imagens passadas do que lá se passou e imagens futuras do que se virá a passar, num claro paralelismo feito entre o assassinato da família Grady e o possível massacre da família Torrence. A este dom da criança, ensina-lhe Dick Hallorann (Scatman Crothers), dá-se o nome de shining, também partilhado pelo simpático cozinheiro do hotel. Já Wendy (Shelley Duvall), a mãe, procura o conforto do marido, assistindo impotente à sua transformação violenta e o bem estar da criança, assistindo a impotente às perturbações causadas pelas suas visões.


O argumento está de um engenho de mestre. Senti que toda e qualquer cena teve grande significado. A construção do suspense é perfeita: a tragédia dos Grady, as visões de Danny, os diálogos com Dick e a sua voz grave, quase em tom de aviso, as expressões fantásticas de Nicholson, tudo isso nos faz antever que a tragédia final é inevitável. Porém, sendo uma das chaves do sucesso do filme, são poucas as cenas ao longo do filme em que acontece algo realmente fora do normal, assustador, mau - o que só contribui para acumular mistério e tensão (e aqui também as músicas e os sons têm uma importância fulcral).

Para mim, há três cenas fenomenais - uma qualidade que só se concebe com um grande argumento e grandes interpretações: 1) os diálogos imaginários de Jack com Lloyd, o empregado do bar e com Grady (no fundo são quatro cenas); 2) "Redrum"; 3) a invasão final de Jack ao quarto da família, como "mítico" machado.

Entrei nos actores, mas tenho pouco a dizer. Shelley faz um bom papel, que não achei extraordinário. O mesmo não digo quanto à criança. É provável que o cinema tenha perdido aqui um grande actor, quando Danny decidiu que não queria fazer do cinema a sua vida - hoje tem quase 40 anos e é professor de Ciências numa escola do Michigan. Por fim, por muito boa que esteja a história, por mais saborosa que seja uma realização do K. (vénia para uma parte que aparece várias vezes, a inundação de sangue), o filme não seria o mesmo sem Jack Nicholson.