Depois de anos e anos a fugir à conceptualização dos filmes em géneros, viajantes por entre várias misturas e reedições dos muitos existentes, eis que os irmãos Coen chegam aos cinemas com uma peça mais concreta do que nunca: um puro e divertido western. E ainda assim não consegue, nem é suposto, ser um western totalmente convencional, já que à sua maneira o fazem renascer peculiarmente, através de uma bonita e empolgante musicalidade humorística que envolve o que se vai passando.
Na criação de personagens, como eles não há ninguém, creio, e aqui não fogem à regra. Desde o empertigado La Bouef, à indomável Mattie, de 14 anos, ao extraordinário Cogburn (mais um belo trabalho de Bridges), as personalidades em que se erguem seguem mais pelo quadrante cómico do que pelo negro, algo que também contribui para a sua afirmação como personagens mais clássicas e mais acessíveis à generalidade das audiências. São eles que conseguem conduzir um filme que peca por ter um plot relativamente fraco, uma falta de antagonismo que amassa o conflito até ficar pastel. Fazem-no sob o fundo de enquadramentos, movimentos de câmara e uma fotografia lindíssimas e perfeitamente narrativos, que captam com majestoso vigor todos os beats mais importantes da peça - são tão bem usados aqui os long-shots, como na cena da "caça nocturna" ou no duelo final. Mas fazem-no sobretudo através de diálogos magníficos (como a negociação inicial), que vão fazendo avançar as relações que cada um dos três tem com cada outro, numa crescendo de respeito e considerações mútuos, sempre banhado de um óptimo humor irónico.
Só é pena que Indomável se foque apenas na alteração da visão que cada personagem tem do outro, enquanto que a aventura é arrastada para segundo plano (os maus da fita são muito falados mas descurados em aparição e actuação), algo que poderia ter apimentado as coisas e ter resultado melhor para todos os lados. Não deixa de ser um belo filme.