O novo filme de David O. Russel não fez por mim mais do que já carregavam as projecções das minhas expectativas: noventa minutos para ver Christian Bale garantir, finalmente, um Óscar.
Tem uma realização interessante - câmara à mão, com a instabilidade que também caracteriza a família que estamos prestes a conhecer; estilo altamente documental, a fazer até um paralelismo bem conseguido com o documentário inicial sobre Dicky, que se transmuta na história da vida de Mick. Há um bom arranjamento da qualidade da fotografia durante os combates, conferindo-lhes um granulado de memórias televisivas gravadas em vídeo e funciona bem a opção pelo realismo, face, por exemplo, ao dramatismo de "Raging Bull". Whalberg não está nada de especial; Bale esta excelente; Amy e especialmente Melissa fazem um bom trabalho,
O argumento é o principal problema, já que o arco da história quase não e existe (uma evolução pouco expressiva, sentida; não é sequer progressiva). Não há um verdadeiro conflito entre Whalberg e Bale, nem entre Whalberg e a família, nem entre Whalberg e ele mesmo. Os irmãos são demasiado superficiais, já que a dualidade de sentimentos e emoções que lhes deveria dar profundidade é completamente afastada (onde raio ficou a verdadeira inveja do irmão mais velho ?), culminando num conto previsível, sem sal e moralista.
A meu ver, e apesar de se basear no que se baseia, esta seria a história, não de boxe, mas de dois irmãos. A história de como dois homens, tão próximos em sangue, vivências e sonhos, lutam um contra o outro e contra si próprios para se afirmarem perante si mesmos, a sociedade e o resto da família, mas, mais importante, para conseguirem provar a si mesmos e aos outros que tudo aquilo que pretender afasta-los um do outro correrá o risco de os fazer perceber de que os seus laços são inquebráveis.
Esta não consegue ser nem uma história de boxe, nem uma história de dois irmãos.
George O. Russell é um dos meus realizadores favoritos. É ainda melhor que o David O. Russell!!!!!
ReplyDeleteMy bad, obrigado !
ReplyDeleteEstou bastante curiosa em relação ao filme :D *
ReplyDeleteEste filme arrebatou-me. Quer pelo estilo intimista, quasi-comédico, documental da película, quer pelo ambiente sempre tenso que paira no filme, quer pelo brilhante trabalho do elenco, em particular Christian Bale e Melissa Leo, eléctricos, poderosos, fabulosos. Mas para mim Amy Adams foi a revelação.
ReplyDeleteNada a ver com outras personagens dela, conseguiu dar-lhe uma 'swagger' que me surpreendeu imenso. Gostei.
É um dos meus filmes favoritos do ano e concordo contigo: pouco fala de boxe. A dicotomia entre a vida dos dois irmãos é tão mais interessante. E fico feliz que tenha sido O'Russell e não Aronofsky a fazer este filme. É que o primeiro percebeu imediatamente que era por aí que tinha que pegar nesta história, enquanto Aronofsky queria fazer uma espécie de 'mix' do Requiem com o Wrestler.
Ainda bem que não o realizou, porque assim tivemos BLACK SWAN e THE FIGHTER no mesmo ano.
Cumprimentos!
A sério ? Não diria. Como vês, não gostei particularmente; esperava bem mais e acho que falha mesmo a nível de argumento. Por exemplo, enquanto que no "The Social Network", ao contrário da forma como me expressava, não posso dizer que o problema seja o "argumento", já que os diálogos e as personagens estão muito bons, mas sim do resto do "plot" - os conflitos, os eventos, a sua estruturação, etc. Mas aqui, acho que há aí mesmo uma falha.
ReplyDeleteO Scorsese também recusou, por já ter feito um filme sobre boxe, ahah.