Thursday, September 2, 2010

Almodóvar, o passado e as memórias: Los Abrazos Rotos (2009)

Fecho este pequeno ciclo de Pedro Almodóvar com o seu mais recente filme e com outros dos temas que lhe são mais caros, o passado e as memórias, presentes em toda a sua filmografia, ora como alicerce fundamental da estória, ora como principal ditador da pujança da mensagem. Anseio por voltar a falar dele, dessa vez com novidade, com o seu "La Piel que Habito", com data de estreia prevista para 2011.



Uma estória de amor e paixão, poder e possessão, desejo e fuga, traição e vingança, é isto que o realizador espanhol filma em Abraços Desfeitos. Uma estória que podia ter sido bonita, que devia ter sido bonita e que, vista e contada a partir do presente, produz, não a nostalgia poética de Tarkovsky, mas uma nostalgia colorida, musical, que não nos torna introspectivos mas que nos obriga a ter compaixão pelas personagens - se chorarmos, nunca será por nós, será sempre por eles, o que não serve para depreciar o filme, primacialmente emotivo, com um final feliz que faz lembrar a magistral montagem de beijos dos últimos segundos de "O Cinema Paraíso".
Uma vez mais, voltamos ao filme dentro do filme, com um argumentista cego que viu a sua vida sentimental e a sua carreira como realizador de cinema arruinadas por um homem que, por querer possuir uma mulher que, pertencendo-lhe apenas através da igreja e em nome de uma antiga gratidão (por lhe ter salvo o pai), não lhe pertencia em coração. Assistimos, assim, numa atmosfera pesada graças aos seus ângulos e à sua iluminação esfaqueante, mas sempre colorida, ao florescer desse amor proibido entre Mateo e Lena e afligimo-nos com o seu desenvolvimento, sob o olhar furtivo, omnipresente e videogravador do produtor Martel, marido ciumento, perseguidor e cruel, numa criação de um suspense e tensão muito bem conseguidas, exactamente como Hitchcock nos ensinou -saber mais do que as personagens, sempre através da imagem. Não escapa à crítica o subplot, já bastante mais melodramático, novelesco até, recuperando os passos já gastos do "filho ilegítmo com pai sempre presente", o que acaba por tirar ao filme um nível que tiveram outros do autor.

10 comments:

  1. Eu gostei do filme. Não compreendi a reacção tão negativa da crítica e do público, mas pronto. Essa subplot não ajuda, é certo, mas, ainda assim...

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  2. FLÁVIO: Não me interpretes mal, eu gostei do filme. Achei foi que perdeu por isso.

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  3. Belo texto, muito bem escrito! :)

    Poderá não estar no topo da filmografia de Almodóvar,(percebo essa questão do subplot) mas gostei imenso! Penélope é hipnotizante, numa história em que se revolvem sentimentos tão fortes e obssessivos, filmados nessa atmosfera contrastante e ultimamente nostálgica.

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  4. CATARINA: Muito obrigado. Sim, é bastante bom, mas não entra no meu top 3. A Penélope está fenomenal, concordo (apesar de eu me babar sempre com a Penélope, em geral).

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  5. O filme é bom, não um dos melhores dele, mas mesmo assim nada mau, como eu já referi no meu blogue na minha análise à persona que é Almodovar.

    E Penélope... Não sei, ela brilha com ele! É inexplicável! E ele ainda conseguiu com que o talento dela nas suas obras se espalhasse para outros filmes. Relembro que era uma actriz falhada, ninguém apostaria um tostão nela em 2004/2005, se se perguntasse "quem acha que na segunda metade da década vai ser a maior surpresa?". E cá está. A melhor interpretação dela, para mim, é no "Elegy" de Coixet. Mas esta é obviamente #3 atrás da de "Volver".

    Como a "sua" Maria Elena diria... GEE-NI-US!

    E quanto ao Almodovar... O filme é tão elegante, tão bem concebido... Não tem o spark de outros dele como "Hable con Ella" mas tem algumas cenas verdadeiramente inspiradas. Aquele final... as mãos na tela... Ui.


    Abraço,

    Jorge Rodrigues
    http://dialpforpopcorn.blogspot.com

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  6. JORGE: Sim, em poucas linhas, resumes o filme muito bem - elegante, primacialmente.

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  7. Provavelmente não vais concordar comigo mas foi o filme que menos gostei dele. A fotografia é FABULOSA! Mas achei este filme "europeu" demais. Senti falta de mais cenas "à Almodovar". Não sei se me consigo explicar...

    Que tens a dizer, Diogo?

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  8. DORA: Apesar de não compreender bem, concretamente, onde queres chegar, não acho que falte algo de tão evidente. Há um grande destaque das cores, com particular incidência no vermelho, há a tensão/suspense, por vezes irónico, provocado pelo nosso seguimento, atrás da câmara, de certas acções/eventos, há o argumento complexo, há o argumento complexo que trata um filme dentro do filme. Talvez estejas a sentir falta do drama familiar mais original e almodovariano e não tão novelesco, do retrato LGBT e de uma certa ousadia temática (como a pedofilia de La Mala Educación ou a violação de Hable Con Ella). Será isso ?

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  9. Gosto de ti porque me entendes :-)

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  10. DORA: Ora essa, fico contente, volte sempre ! :p

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