"Deixa-me Entrar - O remake que triunfou" é o título que abre a completa crítica feita pelo blog Ante-Cinema à versão americana do grande sucesso que foi o filme sueco Let the Right One In Cheguei agora do cinema e não podia estar mais em desacordo.
Num filme como estes, que se arroga de se classificar como terror/romance, há dois pontos essenciais, que precisam de ser tratados com o maior cuidado e coerência, como requisito para obter um bom resultado final: a atmosfera e os momentos altos (terror) e o desenvolvimento da relação entre as duas crianças (romance) - sendo óbvio que, no fundo, tudo contribui para a atmosfera. E, para mim, salvo pontuais excepções, das quais farei menção, foi justamente nestes aspectos que Let Me In não se conseguiu equiparar ao seu antecessor.
Contra uma atmosfera gélida, fria, apática, perturbadora, que se vive durante todo o filme sueco, com uma fotografia pálida e vaporizante, temos um alternar entre um frio mais bonito do que cru com um conforto laranja-dourado completamente descontextualizado. Este filme não podia ter zonas de conforto, que só me faziam pensar em lareira no natal em família, quebrando toda a soturnidade e tensão que antes se tinha (tentado) acumular. Quanto à música, bastante diferente, acaba por resultar bem - pinta os momentos das crianças de um romance completamente hollywoodesco, mas não funcionou mal de todo. A restante, foi uma boa construtora de ambiente. Continuo, aqui, a preferir o primeiro filme.
Em relação aos momentos altos, quero falar de três. O primeiro, é um dos momentos do filme de 2010, que nem acontece na versão anterior - o acidente de carro. Incrivelmente bem filmado, brutalmente envolvente, estonteante. O segundo, é a perda da mística que sofre a situação que dá o nome aos filmes - em Deixa-me Entrar, a situação de "deixa-me entrar" já aconteceu por duas vezes, uma com cada um, apesar de não ter acontecido nada, o que apenas lhe acrescentou alguma banalidade, em contraponto do incomodativo impacto que teve na película da Suécia.
O terceiro e que faz a ligação para a relação das crianças, e que tem a ver com a estrutura do próprio argumento americano, é a importância que é dada à morte do "tutor" de Abby/Eli, que, por ser o ponto de início in medias res, é banhado de uma relevância superior, por ser visto duas vezes e por ser inevitável senti-lo como gatilho de alguma coisa. Ora, a relação entre a pequena vampira e aquele homem, em nada interessam para este filme; apenas a sua relação com o rapaz - foi exactamente por isso que a versão sueca omitiu o tratamento do tema da pedofilia, deixando a natureza da cumplicidade de ambos em aberto (mas admito que gostei do tratamento dado por Reeves, que colocou o homem na mesma posição que o rapaz, com a diferença do passar dos anos).
Notas finais. Chloe é brilhante mas não serve para o papel, ou não serve tão bem como a actriz sueca. Gostei de McPhee no papel, por outro lado. Para além do acidente, outros dos momentos que achei bem conseguidos na versão americana foram o da primeira morte e o da aula de educação física no gelo -o da piscina esteve quase lá, mas faltou-lhe algum espasmo e sentimento de alívio, já no final. Um filme esteticamente irrepreensível não chega (e mesmo assim aqueles primeiros cinco minutos cheios de desfoque fizeram-me alguma confusão) - é necessário saber usar essa estética.
Partindo do facto de que não tive o prazer de ver a obra primogénita e tendo isso em conta ao longo de todo o meu comentário, admito que não fiquei de todo desiludido com o que vi.
ReplyDeleteÉ certo que nada sabia do filme e entrei na sala sem qualquer estudo prévio do que nos próximos 116 minutos iria ver. Mas o filme não deixa de conseguir, pelo menos parcialmente, atingir o fim para que foi realizado. É mentalmente e emocionalmente envolvente e no que toca aos momentos ditos de "terror" consegue ainda surpreender o comum espectador. Ainda que com muitos momentos "mortos" pelo meio.
A morte de Richard Jenkins teve sem duvida protagonismo a mais, tendo em conta que em nada releva para o clímax da narrativa, o qual acaba indubitavelmente por ser, o romance das duas crianças.
O fim surpreende, e uma vez mais aqui refiro o facto de não ter visto a versão sueca, pois coincide com o culminar de toda a história e com o reconhecimento por parte do miúdo de toda a verdade. Tanto acerca de Abby como do "pai" desta. O que acaba também por ser, em parte, uma surpresa para o publico tendo em conta que a identidade de Jenkins se encontrava até então desconhecida ou pelo menos oculta sobre o vêu de "pai".
A minha abordagem,
João Pedro
Caro João Pedro,
ReplyDeleteCompreendo o que dizes. A expectativa, no cinema, é um factor que pesa muito na avaliação de um filme. Eu ia, como todos os que viram a obra original (que em si já não é bem original), condicionado. Aliás, como referi no artigo, amigos meus, que foram nas mesmas condições que tu, gostaram bastante.
De qualquer forma, não acho que a envolvência que proporciona tenha sido bem abordada.
Muito obrigado por partilhares esta tua visão, especialmente de forma tão construtiva e sê muito bem vindo ao "A Gente Não Vê" ;)
PS: Porque é que quando selecciono o teu nome vou parar ao site da FDL ?