Os Miúdos Estão Bem é, juntamente com a surpresa chamada "Winter's Bone", um dos meninos de ouro do festival de cinema de Sundance de 2010, ao convencer a Academia em quatro categorias, depois de ter convencido exigentes audiências e desconfiadas distribuidoras, atentos ao cinema independente e promissor. Depois dos recentes Brokeback Mountain e Milk, a homossexualidade volta à grande noite de gala do cinema, mas com uma diferença que, a meu ver, comporta um arrojo que nos revela mais um passo muito positivo na ultrapassagem de certos "dilemas": o casal de lésbicas interpretado por Moore e Bening não são um veículo de revolta ou sensibilização para a tolerância; a sua homossexualidade não se define como potencial conclusão do filme (o seu triunfo), mas antes como premissa, como parte banal e rotineira da vida de uma família moderna - o filme ganhou muito com isso e o tratamento do tema dessa profunda instituição social só ficou mais sincero e eficaz (um maior sentimento de universalidade).
Parte, assim, de um argumento original não só por não se basear em qualquer material anteriormente publicado mas por tal qualificação se aplicar à sua própria génese. Depois, não só cumpre como surpreende, ao estar muito bem desenhado e estruturado, com uma evolução de personagens e dinamismo de conflito verdadeiramente envolventes, no tratamento de um tema complexo como a árdua tarefa de viver em família, um tema que facilmente redundaria num filme europeu mau (daqueles que, ao ser sobre "nada", pretendem ser sobre "tudo"). Uma abertura incrível no contar desta história, com as várias relações entre as várias personagens a avançarem com sentido e drama bem feito de estádio para estádio, em que apenas pecou, a meu ver, o desenvolvimento da personagem de Laser, o filho mais novo do casal. O final agridoce mas esperançoso comporta um sentimento e preenchimento que rejeita qualquer tipo de facilitismo melodramático.
De resto, uma realização muito interessante, em que se alterna entre uma câmara à mão na estaticidade dos problemas com uma câmara fixa mas deambulante na reacção ao desafio (como no primeiro telefonema feito a Paul), e em que a montagem cria uma excelente associação de eventos e cria, a certa altura, uma suave e doce atmosfera de suspense e tensão em relação ao futuro a curtíssimo prazo (também potenciado pelos grandes planos dos actores, muito bem filmados, pouco usuais neste tipo de filme, que ainda se classifica com um tom ligeiramente cómico). Os actores estão óptimos e acho que Moore até está melhor do que Bening.
Também gostei, foi um bom filme e estava com saudades de ver a Julianne Moore que também está muito bem como dizes.
ReplyDeleteO final é mesmo agridoce, apesar de tudo fiquei triste pelo desfecho da personagem do Mark Ruffalo.
Mas a personagem dele está muito boa.
Como tu sabes, é um dos meus filmes favoritos desta temporada.
ReplyDeleteAlém de um elenco fabuloso e um argumento fortíssimo, acho que a realização de Cholodenko, tal como em HIGH ART, tem o condão de nos proporcionar um ambiente de familiaridade com as personagens e depois nos dar uma grande reviravolta na história e tirar-nos o chão debaixo dos pés.
E Bening e Moore estão, sim, excelentes. Gostei da crítica :)
Cumprimentos!
Familiaridade, é isso. Ainda não vi "High Art", mas está na lista ;)
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