Depois de um grande Maio (que a meio ainda teve um acrescento de grande peso, a antestreia de Tree of Life) um grande Junho. As razões para estas programações supõe-se conhecidas e terão que ver com os recentes dilemas financeiros que a Cinemateca enfrenta. O mês é dedicado a Liz Taylor e a Sidney Lumet, com algumas das suas mais sonantes obras, como Twelve Angry Men e Network, também com particular destaque para Joseph L. Manckiewicz. Em foco estará também o cinema coreano contemporâneo, nomeadamente com Hahaha, vencedor do Grande Prémio do Júri em Cannes'10. Deixo alguns destaques.
1 de Junho (quarta-feira): One, Two, Tree (Billy Wilder) e Suddenly Last Summer (Joseph L. Mankiewicz). 2 de Junho (quinta-feira): Wild Strawberries (Ingmar Bergman) e Twelve Angry Men (Sidney Lumet). 3 de Junho (sexta-feira): The Social Network (David Fincher) e Canção de Lisboa (Cottineli Telmo). 4 de Junho (sábado): Peter Pan e A Woman's Face (George Cuckor). 6 de Junho (segunda-feira): Reflections in a Golden Eye (John Huston). 7 de Junho (terça-feira): Viridiana (Luis Buñuel). 8 de Junho (quarta-feira): Murder on the Orient Express (Sidney Lumet) 9 de Junho (quinta-feira): Tri Presni O Lenine (Dziga Vertov). 14 de Junho (terça-feira): Lola (Jacques Demy) e Cat on a Hot Tin Roof (Richard Brooks). 16 de Junho (quinta-feira): A Letter to Tree Wives (Joseph L. Mankiewicz). 17 de Junho (sexta-feira): The Man Who Knew Too Much (Alfred Hitchcock). 18 de Junho (sábado): José e Pilar (Miguel Gonçalves Mendes). 20 de Junho (segunda-feira): Hahaha (Hong-Sang soo). 21 de Junho (terça-feira): The Hustler (Robert Rossen) e A Barefoot Dream (Kim-Tae gyun). 25 de Junho (sábado): Yellow Submarine (George Dunning) e Les Enfant du Paradis (Michael Carné). 27 de Junho (segunda-feira): Network (Sidney Lumet) e Dog Day Afternoon (Sidney Lumet). 28 de Junho (terça-feira): Jules et Jim (François Truffaut). 19 de Junho (quarta-feira): Bird of Paradise (King Vidor).
Não tenho muito para dizer e vou restringir-me ao essencial: não estou desapontado. O plot é fraco, tem buracos, é atolado de clichês e, não fosse o que se segue, seria irritantemente previsível. Porém, só fui ao cinema por quatro coisas: (Cap.) Jack Sparrow, Penélope Cruz, Hans Zimmer e cómicas cenas de acção envolvendo os três elementos anteriores. Não podia sequer esperar por mais - nunca igualaria o grande The Curse of the Black Pearl (como nenhum dos outros o fez), nem tão pouco alguma vez acreditei que o Barba Negra pudesse ser Davy Jones. Portanto, diverti-me e apenas reclamo com o elevado preço do bilhete, que dissipa admirações com a decrescente afluência às salas (aqui o 3D piorou as coisas, se bem que não só em termos económicos). Deixo destaque para a fotografia e para a sequência das belíssimas sereias.
Ao que parece, foi divulgado durante o festival de Cannes'11 e refere-se ao filme não-oficialmente intitulado de The Master que, depois de turbulências de produção que levaram ao cancelamento das rodagens e à perda do financiamento, parece estar mesmo em marcha. Nada menos que excitante.
Depois da aplaudida estreia de Midnight in Paris, de Woody Allen, na abertura do festival de Cannes'11, no passado dia 11 de Maio, já é altura de passar a revisão à opinião geral que se vai formando, particularmente construída pela prestigiosa crítica internacional que todos os anos se concentra religiosamente às portas e nas cadeiras das sessões.
No segundo dia destacou-se We Need to Talk About Kevin, adaptação do livro de Lionel Shriver, vencedor de um dos mais importantes prémios literários no Reino Unido, o Orange Prize. É a história de uma mãe, interpretada pela maravilhosa e granjeadora de excelentes críticas no papel, Tilda Swinton (recentemente a prestar visita a Portugal, gravando um anúncio publicitário nos Restauradores, em Lisboa), que tem de lidar com a dor e angústia de uma relação com o filho, responsável por um massacre na escola, que tira a vida aos colegas e professores. O trabalho da realizadora, Lynne Ramsay ("Morvern Callar", "Ratcacher") foi particularmente elogiado, com garantia de força e intensidade visual e temática.
Restless, o primeiro filme de Gus Van Sant desde o Oscar pickMilk, conhece observações que foram apontadas ao filme de 2008, de mãos dadas com o mainstream (como também já tinha sido "Good Will Hunting", em 1997), eventualmente desiludindo os religiosos fãs da sua obra mais reflexiva, social e alternativa ("My Own Private Idaho", "Gerry", que muito deve a "Werkmeister Harmonies", de Tárr ou "Elephant"). As maiores reticências ficaram para o argumento, demasiado simplista e linear, talvez demasiado doce em contraste com a sua visão mais amarga dos anteriores filmes de culto. Bem recebido foi o trabalho do cinematógrafo Harris Savides, e as prestações dos protagonistas Mia Wasikowska e Henry Hopper (filho do falecido Dennis Hopper). A história é a de uma peculiar história de amor entre uma jovem doente terminal e um rapaz que gosta de assistir a funerais acompanhado do seu amigo fantasma, outrora um piloto japonês da II Guerra Mundial.
No terceiro dia chegou Habemus Papam, julgado como uma inteligente, "bem escrita, e surpreendente comédia mainstream do realizador italiano Nanni Moretti, sem descurar as várias considerações filosóficas. Michael Picolli (actor de culto, tendo trabalhado com alguns dos mais importantes realizadores da história do cinema, nas mais diversas correntes e estilos) é, contra a sua vontade, o recém-eleito Papa (de onde vem a expressão latina do título). Moretti interpreta o psiquiatra que o irá a ajudar a ultrapassar o pânico, criando uma aparentemente incrível história sobre poder, fragilidade e solidão que, se obviamente caiu mal colo da igreja, chega a ser acusado de não ser suficientemente irreverente. A sensibilidade do filme também mereceu destaque, com referências à fotografia e à direcção artística.
Das possíveis surpresas, Toomelah, da Austrália, surge com problemas de ritmo e energia, Miss Bala, do México, sobre tráfico de droga, consegue mais algum interesse mas sem fugir a vários clichés e o mais interessante parece ter sido Hard Labor, na secção Un Regard, o primeiro trabalho de Juliana Rojas e Marco Dutra, do Brasil, que traz a interessantíssima conjugação do terror e das dificuldades económicas.
No quarto dia chegou, com a presença de Johnny Depp e Penélope Cruz, a maximizar o mediatismo do festival junto de um público mais vasto, a quarta parte da saga Pirates of the Caribbean (On Stranger Tides) e dividiu opiniões. No entanto, as mais positivas ficam-se por "um bom filme" ou "um bom regresso de Jack Sparrow", por vezes "um filme divertido", com elogios à visão do novo realizador, Rob Marshall e não conseguem fazer frente às acusações de repetitividade, aborrecimento, previsibilidade e falta de mecanismos narrativos capazes de prender o público à cadeira.
A grande surpresa do dia veio de Michael, realizado pelo director de casting de Michael Haneke, Marcus Shleinzer, também austríaco. Um filme cru e realista, que vincadamente dividiu opiniões, como faz sempre o realizador de "The White Ribbon", retrato de uma relação entre um pedófilo e uma criança, ora congratulado por ser "um triunfo de um cinema difícil", ora acusado de ser completamente sem escrúpulos.
Os irmãos Dardenne fizeram furor no quinto dia e já há quem profetize a sua terceira Palma de Ouro ("Rosetta", em 1999) e "L'enfant", em 2005). Com Le Gamin au Veló, protagonizado com vigor e poder por Cécile de France e Thomas Doret, é a história de um pequeno rapaz de procura apoio numa mulher, depois da morte do seu pai. O filme foi considerado "fresco" e capaz de tocar a esfera mais mainstream.
Talvez a maior revelação do festival seja The Artist, do francês Michel Hazanavicius. A história passa-se na Hollywood de 1927 a 1931, em plena studio era, e retrata a queda de uma estrela de cinema e a ascensão de outra, respectivamente, ele e ela. Até aqui, já me soava a algo suficientemente interessante. Partindo, depois, de um belíssimo poster, chega a noção do arrojo do realizador: este é um filme sem som e foi considerado como uma peça extremamente divertida, emocionante e capaz de captar todos os trejeitos do cinema mudo, em óbvia e respeitosa homenagem aos filmes da altura. Para já, o filme será distribuído em França pela Warner Bros. France e nos EUA pela Weinstein Company. Após a sua estreia, é já considerado um fortíssimo candidato a vencer a Palma de Ouro e a chegar aos Óscares em 2012.
Na quarta feira, chega Melancholia, de Lars von Trier, do qual já há um novo clip.
Para terminar, relembro que hoje é o grande dia; provavelmente o dia mais esperado neste edição do festival. Ao fim de muitos anos de tropeções de produção, Terrence Malick chega com Tree of Life, cujas imagens deixam antever um incremento de intensidade e beleza na forma como o autor filma a natureza e a faceta mais bonita deste nosso mundo. Deixo-vos o novo clip, que é o mais próximo que a maior parte de nós estará de ver o filme esta noite.
Os cerca de 3000 mil jornalistas que estão presentes no festival, no âmbito das sessões a eles especialmente dedicadas, já viram o filme e as apreciações são múltiplas e divididas. Como exemplo, talvez sirva a divergência nacional entre Vasco Câmara e João Lopes: o primeiro condena o filme por fazer uso da voz off para passar o que de outra forma não consegue; o segundo acredita que é imperativo a Palma calhar ao norte-americano, considerando o filme "uma experiência inédita".
Teve ontem encerramento oficial a 8ª edição do festival de cinema independente IndieLisboa com The Ballad of Genesis and Lady Jaye, realizado por Marie Losier, por ter vencido o Grande Prémio "Cidade de Lisboa" (Longa-Metragem). Era um dos filmes que eu gostava de ter ido ver, apesar de depois ter ficado a conhecer algumas críticas negativas, nomeadamente a de Flávio Gonçalves, em O Sétimo Continente. Ainda assim, o dia de hoje oferece muitas e expectantes opções de filmes, qual dénouement, ao mostrar alguns dos premiados ("Prémio do Público", "Curtas Premiadas", "Cidade Lisboa (Longa-Metragem)", "Melhor Competição Nacional"), peças do Director's Cut como Johnnie Got His Gun, Flooding With Love for the Kid, Eden (documentário português, premiado) e A Letter to Elia, de Martin Scorsese. Destaco também Meek's Cutoff, de Kelly Reichardt (realizadora do badalado "Wendy and Lucy") e a homenagem aos filmes de série B, Rubber, de Quentin Dupieux, sobre um pneu roadster assassino. Consultem aqui o programa completo para este último dia, em que há vontade de ver muitos filmes, mas em que não há o cinto da Hermione.
Deixo-vos os premiados.
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL
Grande Prémio Cidade de Lisboa para Longa-Metragem The Ballad of Genesis and Lady Jaye, de Marie Losier
Menção Honrosa (Longa-metragem) La BM du Seigneur, de Jean Charles Hue
Grande Prémio para Curta-Metragem The Story of Elfranko Wessels, de Erik Moskowtiz e Armanda Trager
Menção Honrosa (Curta-metragem) Diane Wellington, de Arnaud des Pallières La Fôret, de Lionel Rupp The Painting Sellers, de Juho Kuosmanen
Prémio de Distribuição Morgen, de Marian Crisan
COMPETIÇÃO NACIONAL
Prémio CGD para Melhor Longa-Metragem Portuguesa Linha Vermelha, de José Filipe Costa
Prémio Pixel Bunker para Melhor Curta-Metragem Portuguesa Alvorada Vermelha, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata
Prémio TAP para Melhor Longa-Metragem Portuguesa de Ficção O Que Há de Novo no Amor?, de Hugo Martins, Hugo Alves, Mónica Santana Baptista, Patrícia Raposo, Rui Santos e Tiago Nunes
Prémio TAP para Melhor Documentário de Longa-Metragem Português Eden, de Daniel Blaufuks
Prémio Restart para Melhor Realizador Português de Curta-Metragem Gabriel Abrantes por Liberdade & Marco Martins e Filipa César por Insert
Prémio Novo Talento FNAC Patrick Mendes por Homenagem a quem não tem onde cair morto
Prémio AIP de Melhor Imagem para Longa-Metragem Portuguesa Carlos Lopes "Cácá" por América Menção Honrosa (Longa-metragem) Luís Branquinho por O Barão
Prémio AIP de Melhor Imagem para Curta-Metragem Portuguesa Takashi Sugimoto por Wakasa
Prémio SIGNIS - Árvore da Vida La Ilusión Te Queda, de Márcio Laranjeira e Francisco Lezama
Menção Honrosa Swans, de Hugo Vieira da Silva Os Milionários, de Mário Gajo de Carvalho
Prémio RTP Pulsar do Mundo I Will Forget This Day, de Alina Rudnitskaya
Menção Honrosa Pallazo Dele Aquile, de Stefano Savona, Alessia Porto e Ester Sparatore
Prémio RTP2 Onda Curta Diane Wellington, de Arnaud des Pallières How To Pick Berries, de Elina Talvensaari I Don't Blame The Beautiful Game, de Christopher Arcella Nuit Blanche, de Samuel Tilman
Prémio Amnistia Internacional Cleveland Contre Wall Street, de Jean-Stépahne Bron Menção Honrosa I Will Forget This Day, de Alina Rudnitskaya
Prémio do Público Pepsi para Melhor Longa-Metragem Cleveland Contre Wall Street, de Jean-Stépahne Bron
Prémio do Público Pepsi para Curta-Metragem Paris Shangai, de Thomas Cailley
PRÉMIOS INDIEJÚNIOR
Prémio Melhor Filme IndieJúnior My Good Enemy, de Oliver Ussing
Menção Honrosa Les Mains En L'Air, de Romain Goupil Cul de Bouteille, de Jean-Claude Rozec
Prémio do Público IndieJúnior Things You'd Better Not Mix Up, de Joost Lieuwma
Peço desculpa por estes dois dias de interregno, numa altura em que queria ter mantido o blog o mais actualizado possível no que toca ao IndieLisboa'11 (cobertura e antevisão) e ao Cannes'11 (notícias e reacções). Problemas de conexão, problemas de ligação à internet, enfim. Deixo-vos com breves palavras, por hoje, e amanhã conto voltar ao ritmo.
Tive ontem a oportunidade de assistir, no Teatro do Bairro, a um delicioso documentário sobre o trabalho de Ingmar Bergman, ...But Film is my Mystress, realizado por Stig Björkman. A película atravessa vários filmes do mestre sueco, como Autumn Sonata, Chries and Whispers, After the Rehearsal, e conta com os apaixonados e admirados comentários de distinguidas personalidades como a emocionada Liv Ullman, Olivier Assayas, Martin Scorsese, Bernardo Bertolucci e Woody Allen. No final, por ser muito curto, sabe a pouco, mas é muito interessante. Ficamos a conhecer um pouco mais dos seus temas, do trabalho do realizador com o argumento e, especialmente, com os actores, com todas as suas intimidades e, particularmente enternecedor, com toda a saudade que ele sentia deles. Vemos imagens belíssimas, como a de Bergman de braço dado com o seu fidelíssimo director de fotografia, Sven Nykvist, a passearem, eventualmente discutindo alguma das suas obras. No final tivemos direito a ver respondidas algumas questões, cujas respostas complementaram o que acabávamos de ver - a incrível boa disposição de Ingmar, contrariamente ao que se pode pensar depois de ver um dos seus (muito bem apelidados por Stig) austeros e duros filmes, à sua paixão e respeito pelo trabalho e pelas pessoas à sua volta. Um dia depois ao seu maior admirador de sempre, Woody Allen, ter pronunciado, em plena conferência de imprensa em Cannes, que "nunca será um grande realizador", ficámos nós lembrados, agora sem considerações sobre o nova-iorquino, de que Ingmar Bergman foi um dos maiores de sempre, e sempre o será. A nostalgia fica, particularmente pautada pelas declarações finais do autor de Annie Hall. Sem Fellini, sem Kurosawa, sem Bergman, sem Ford, sem...
Para um acompanhamento destes dois últimos dias em França, sugiro-vos a consulta d'O Sétimo Continente, ou do Split Screen, que destaca Habemmus Papam, de Nanni Moretti, Restless, de Van Sant e The Sleeping Beauty, de Julia Leigh. Entre tantos outros, The Tree of Life está cada vez mais perto.
O novo filme de Woody Allen, que abriu a presente edição do festival, é uma comédia romântica e uma carta de amor a Paris e aos escritores clássicos dos anos 20, recheada de estrelas - Owen Wilson, Rachel McAdams,Adrien Brody, Carla Bruni, Marion Cotillard, entre outros. Lamentado por muitos o facto do realizador insistir em lançar um filme por ano, algo que tem vindo a comprometer a qualidade de algumas suas obras, assim é globalmente entendido, afirmando na conferência de imprensa sobre o filme que "nunca irei realizar um grande filme", Allen foi bastante bem recebido em Cannes'11.
No nosso linguajar, João Lopes (Diário de Notícias) escreve que "Woody Allen puxa pelos galões de argumentista/realizador e faz um filme que, partindo de um cliché — o apelo romântico da capital francesa —, consegue transcende-lo através da complexidade emocional e narrativa de um romanesco seduzido por um discreto fantástico.". Vasco Câmara (Ípsilon) vai mais longe e afirma que "é a sua melhor comédia em vários anos".
Lá fora, Andrew Pulver (The Guardian) descreve a atmosfera fairytale e afirma que "Talvez este seja o seu lugar". Michael Philips (Chicago Tribune) escreve que "É um bom filme.", destacando-o como um dos melhores filmes que Woody fez nos últimos vinte anos. Todd McCarthy (The Hollywood Reporter) elogia o retrato de um charme parisiense, quase um sonho, transversal à imaginação e aos sonhos das pessoas, destacando o papel de Wilson, mas duvida que tal sentimento passe para quem está mais distante de Hemingway, Fitzgerald ou Gertrude Stein. Tal como Todd, Peter Bradshaw (The Guardian) compara o filme com The Purlpe Rose of Cairo, afirmando que Allen voltou às ideias dos seus tempos mais jovens e evidencia a mesma atmosfera jovial do filme. Sem mais, Stephanie Zacharek diz que "é o melhor filme de Woody Allen em 10 ou 20 anos".
Robert de Niro (Presidente do Juri), Emir Kusturica (Presidente da Un Certain Regard), Michael Gondry (Curtas-Metragens e Cinefoundation), Jonn-Ho Bong (Presidente do "Câmara de Ouro").
Woody Allen (Midnight in Paris), Terrence Malick (The Tree of Life); Pedro Almodóvar (La Piel que Habito); irmãos Dardenne (Le Gamin au Vélo), Aki Kaurismaki (La Havre); Nani Moretti (Habemus Papam), Lars von Trier (Melancholia), Gus Van Sant (Restless), Bruno Dumont (Hors Satan), Jodie Foster (The Beaver), Julia Leigh (The Sleeping Beauty). Piratas! E muitos, muitos outros.
Começa hoje a 68ª edição do mais consagrado festival de cinema do mundo, abrir com Midnight in Paris, de Woody Allen. Infelizmente, não estarei lá, mas estarei atento.
Desde que o filme abre que são óbvias as semelhanças estéticas com a belíssima anterior obra vinda da Grécia, Dogtooth. As cores claras e desgastadas, hospitalares, na verdade; a forma como a câmara espera por todas as acções e todos os movimentos e diálogos bizarros e estranhos dos personagens, sempre a uma distância mecânica de um plano americano (conferindo maior significação às aproximações aos rostos, planos bem bonitos); os enquadramentos autistas, planos, de uma realidade fechada e a duas dimensões. São os tons e a atmosfera do antecedente filme, realizador por Yorgos Lanthimos, que protagoniza aqui a figura do engenheiro.
Nestes termos, é muito interessante e adivinha, ou confirma, depende do que se seguirá e do ponto de vista com que se olha, a nova tendência do cinema grego, aqui pela mão de Athina Rachel Tsangari. Porém, narrativa e tematicamente não me deixou propriamente satisfeito e creio que é aqui que fica bastante aquém do outro filme, mesmo percorrendo a mesma lógica metafórica. Trata-se aqui a descoberta ou emancipação sexual de Marina, que praticamente vem de um ovo de ignorância e não sabe sequer beijar - aliás, deste perturbador plano inicial e ponto instigador da história, catapultam-se uma série de momentos, como afirmei, bizarros, tão realistas quanto surreais (e aí, por exemplo, a menção para a "árvore de pénis"). O contraponto é a sua amiga Bella, que retratando uma passividade semelhante, esconde uma leviandade contrastante ("(...) come toda a gente." - incluindo o pai de Marina).
Peca, parece-me, por certa falta de rumo. Terá uma estrada, mas não um caminho. Senti pouca utilidade em muitas das sequências a que assisti e tive dificuldade em que articular um desenvolver de um tema sem interrupções forçadas de tentativas de extra-realismo. Por vezes, socorre-se demasiado da simbologia, ora do gesto ora da palavra, e a ligação das cenas torna-se um pouco arty.
O filme esteve nomeado para o Leão de Ouro em Veneza e a actriz principal Ariane Labed venceu a Copa Volpi, destinada às melhores performances - de facto, gostei. De qualquer forma, um caso a analisar com mais detalhe, no futuro.