Permito-me esta pequena incursão num tema alheio ao cinema por, ao mesmo tempo que vinha tendo várias discussões sobre o assunto, nos últimos dias, me ter deparado com declarações extremamente lúcidas, simples e directas sobre a natureza desta e outras reformas - poderão ficar a conhecê-las no vídeo que segue no final deste artigo.
Foi sob protestos de vanguardismo, progresso e fraternidade histórico-cultural que os determinados responsáveis máximos portugueses e brasileiros assinaram o novo acordo de unificação da língua portuguesa e é precisamente sob esses argumentos que se espreguiçam agora os seus defensores. A língua, ainda mais profundamente do que aquilo a que chamamos cultura, é a identidade máxima de um povo, ou não fosse a primeira o que nos permite construir, manter e aceder à segunda. É a mais genuína e desinteressada convenção social que erguemos, é a voz da pátria. É logo aí que merece desconfiança a pretensão legalista de forçar a evolução linguística, que aqui aconteceu tal como numa revolução: não se flui pelo presente mas rompe-se com um passado. É a parlamentarização da gramática, uma mesquinha manobra política a que muito bonita e correcta fica a atribuição do nome "democracia", que dogmaticamente logo nos remete para os ideais fascinantes da Revolução Francesa. E se política é, o que teremos nós a ganhar com isto ? A dissolução do português latino em detrimento do português sul-americano. Mero disfarce, que apenas retira força cultura a Portugal. Alguns pretendem salientar a força prática desta medida com o facto de que ora em diante os brasileiros poderão ler português e os portugueses brasileiro ou de que agora se escreve precisamente como se fala (sobre este último ponto, nem escreverei, remeto directamente para o vídeo). Para começar, deixemo-nos de demagogias. Um português que não consegue ler brasileiro ou um brasileiro que não consegue ler português têm um nome que é igual nas duas línguas: preguiçoso. Depois, este desleixado fato (refiro-me à roupa e não a uma verificação efectiva de determinada situação !), que se auto-proclama de pragmático e moderno, não quer saber, olhar ou ouvir o exemplo do verdadeiro pragmatismo: o anglo-saxónico. Teremos noção da quantidade de divergências verbais, morfológicas, sintáticas, que existem entre o chamado British e o American English ? A preocupação que uns, europeus, e outros, americanos, têm em relação a isto traduz-se, aliás, muito melhor no seu dialecto do que no nosso: who cares ? (um americano poderia trazer-nos algo mais intenso, who fucking cares ?)
Em suma, não digo que seja carnavalesco, mas é uma grande fantochada. Vejam o vídeo.
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