Wednesday, September 22, 2010

A Análise da Cena, no. 1: O início do ciclo

Da cena, da sequência, não interessa. Fica a intenção.

Abro a rubrica, há muito anunciada, com uma das muitas cenas do épico filme O Rei Leão de que não conseguirei deixar de falar. Aliás, só sabia que queria começar com este filme. Não conseguia era escolher uma cena. Acabarão por aparecer todas.



Uma das cenas mais bonitas, de um dos filmes mais magníficos a que já assisti. São três minutos que abrem com um nascer-do-sol cor-de-fogo, em tons de vermelho, laranja carregado e um vivo amarelo, acompanhados por um fulgurante grito tribal, que de imediato nos despertam os sentidos para assistir a uma obra inesquecível. Os primeiros animais erguem-se ao som das primeiras notas, numa sincronia majestosa, numa devoção respeitável, enquanto se desenvolve a primeira música de uma brilhante banda sonora, recheada de vozes doces e misteriosas, acalentada por uma flauta belíssima, com uma letra a saber de cor. Juntam-se os sons da selva, as onomatopeias incríveis. Do céu-fogo passamos ao céu-luz, e é sob esses já estabelecidos raios de luz da manhã que vemos desfilar uma imensa variedade de fauna, da girafa que descobre o céu, ultrapassando o monte, aos elefantes que se aproximam, grandiosos, em grande plano, aos antílopes que saltitam pelo nevoeiro, num longo plano, às formigas que, minúsculas, acompanham as zebras que salpicam a água com um fervor caloroso. Daí, seguimos Zazu até ao imponente Rei Mufasa, para onde também converge Rafiqui, cuja mística é-nos logo apresentada pelo corredor solene que o reino animal lhe faz, que tem como fundo uma brilhante luz, e assistimos ao emblemático baptismo do filho do rei. Fabuloso crescendo da música simples, criança, mas bonita, tal como Simba, voltando a transformar-se num intenso ribombar de sonoridade quando vemos um longo plano inclinado do rochedo, primeiro passo para a evidência da sua simbologia - o trono. Terminamos com uma rotação de câmara, misturada com um ligeiro tilt, na figura do pequeno leão, introduzindo, de forma pausada uma fragilidade destinada, destinada à solenidade, à luta, à bravura, à devoção e à adoração, pois esta é a cria que será guerreiro, o rejeitado que será salvador. E eis um zoom in rapidamente cortado por um zoom out e um festejo glorificante de toda a savana, numa combinação muito bem realizada da majestade do evento em si e da própria pequena personagem. A benção do céu chega, também, com um bonito raio de luz.

2 comments:

  1. Um grande filme, uma magnífica obra no campo da animação e um feito extraordinário, na minha opinião. Jamais se fez um filme com tamanha emoção, divertimento, visualmente e musicalmente assombroso...enfim de extrema qualidade.

    A confluência de registos está muito bem feita, articulada e doseada de forma bem certeira. Essa cena inicial é das melhores de toda a película.

    O meu filme de animação preferido, e um dos que me define nesta arte.

    abraço

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  2. Belo texto ;)

    O Rei Leão é certamente o filme maior da minha infância e ainda uma autêntica referência! Uma obra-prima emocionante, divertida, sombria, visual e musicalmente extraordinária, definitivamente inesquecível, enternecedora, mágica!
    Todas as cenas são memoráveis e esta abertura é algo de transcendente, pela música, pelas imagens, pela mística, por tudo!

    Uma rúbrica deveras interessante!

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