Thursday, February 17, 2011

Somewhere / Algures (2010)


Um filme que vi e revi, que me proporcionou algo na primeira vez e que se evadiu quase completamente na segunda. Infelizmente.

Uma paisagem aberta, longíqua, um carro às voltas. Em algum lado, para algum lado, enfim, em lado nenhum e para lado nenhum. Solidião e aborrecimento, era o que, desde as entrevistas até esta primeira cena, aquilo que Coppola se propunha a retratar, algo que apenas conseguiu em alguns momentos. Podíamos ter tido uma série infinita de cenas silenciosas, lentas, (pseudo) metafísicas, sem grande relevância para as personagens e, consequentemente, para a história e para a nossa identificação com tudo o que se passa. Mas ainda contámos com coisas simples mas bem feitas, que docemente retratam a melancolia do dia-a-dia de Johnny - adormecer em pleno striptease de duas gémas loiras (grande cena, divertidíssima); chamá-las no dia seguinte para se redimir com um contentamento falsificado; adormecer a fazer sexo; divagar em festas.

Senti que houve certa naturalidade na forma como Sofia escreveu e filmou, sempre a uma distância de uma terceira pessoa, com planos delicados, conferindo a toda a peça uma atmosfera verité e bonita - no entanto, apesar de não deixar de captar esgares e sorrisos importantes, acabou por cobrir o filme de uma ligeira camada de aborrecimento, não das personagens, mas da audiência. Provavelmente por a falta de intensificação que coerentemente caracterizou todo o filme, um equilíbrio melancólico, ter partido da concepção da própria narrativa. Mas repito, há bons momentos - quando a rapariga se vai embora, Johnny tem de voltar a cozinhar para si, massa, simplesmente, em quantidades astronomicamente exageradas: ele não vive sem ela.

O final é muito mau e a serenidade que ainda se podia retirar dos pequenos bons momentos é substituída por total insalubridade.

3 comments:

  1. A Sofia desiludiu, portanto?
    Já agora, o que achaste de Stephen Dorff e da pequena Fanning?
    (Ainda não vi o filme)

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  2. Também concordo contigo, Diogo:

    O filme é deslumbrante quando o vemos. Mas pouco me ficou do filme desde então. É um esforço menor da Sofia Coppola em voltar a um terreno que conhece bem.

    Contudo, sinceramente, ela tem o meu coração depois de VIRGIN SUICIDES + LOST IN TRANSLATION + MARIE ANTOINETTE, por isso pode continuar a fazer SOMEWHEREs que eu não me importo.

    Cumprimentos!

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  3. Sim, já nos deu peças adoráveis. Mas vou querer que me surpreenda da próxima vez, e gostava mesmo que fugisse a este registo.

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