Friday, February 18, 2011

True Grit / Indomável (2010)


Depois de anos e anos a fugir à conceptualização dos filmes em géneros, viajantes por entre várias misturas e reedições dos muitos existentes, eis que os irmãos Coen chegam aos cinemas com uma peça mais concreta do que nunca: um puro e divertido western. E ainda assim não consegue, nem é suposto, ser um western totalmente convencional, já que à sua maneira o fazem renascer peculiarmente, através de uma bonita e empolgante musicalidade humorística que envolve o que se vai passando.

Na criação de personagens, como eles não há ninguém, creio, e aqui não fogem à regra. Desde o empertigado La Bouef, à indomável Mattie, de 14 anos, ao extraordinário Cogburn (mais um belo trabalho de Bridges), as personalidades em que se erguem seguem mais pelo quadrante cómico do que pelo negro, algo que também contribui para a sua afirmação como personagens mais clássicas e mais acessíveis à generalidade das audiências. São eles que conseguem conduzir um filme que peca por ter um plot relativamente fraco, uma falta de antagonismo que amassa o conflito até ficar pastel. Fazem-no sob o fundo de enquadramentos, movimentos de câmara e uma fotografia lindíssimas e perfeitamente narrativos, que captam com majestoso vigor todos os beats mais importantes da peça - são tão bem usados aqui os long-shots, como na cena da "caça nocturna" ou no duelo final. Mas fazem-no sobretudo através de diálogos magníficos (como a negociação inicial), que vão fazendo avançar as relações que cada um dos três tem com cada outro, numa crescendo de respeito e considerações mútuos, sempre banhado de um óptimo humor irónico.


Só é pena que Indomável se foque apenas na alteração da visão que cada personagem tem do outro, enquanto que a aventura é arrastada para segundo plano (os maus da fita são muito falados mas descurados em aparição e actuação), algo que poderia ter apimentado as coisas e ter resultado melhor para todos os lados. Não deixa de ser um belo filme.

4 comments:

  1. Que é para veres que não me esqueço de cá vir ao teu blogue, toma lá uma mão cheia de comentários :)

    Quanto ao TRUE GRIT:
    Eu adoro os irmãos Coen, o que faz com que já tenha visto uma quantidade generosa dos seus filmes. Este não tem a classe de um BLOOD SIMPLE ou um BARTON FINK, não tem o estilo de um NO COUNTRY FOR OLD MEN ou um FARGO ou o atrevimento de um BURN AFTER READING ou um O'BROTHER WHERE ART THOU?, mas é, ainda assim, uma peça indelével de qualidade na sua filmografia (que é, pura e simplesmente, uma das maiores e melhores do cinema - de sempre!).


    Jeff Bridges é fabuloso numa personagem que já valeu um Óscar a uma lenda dos 'westerns', trazendo uma visão fresca e 'Dude'-esca a este Rooster.

    Hailee Steinfeld é um excelente achado, uma boa interpretação mas não vou embandeirar no endeusamento que têm feito dela. Não achei assim TÃO impressionante.

    Josh Brolin e Matt Damon são fiáveis e nada mais. Também os papéis deles não eram nada de particularmente especial.

    A estrela aqui, para mim, é o argumento dos irmãos Coen. É de génio. Tão citável. Tão actual mesmo não o querendo ser.

    E a brilhante fotografia de Roger Deakins. Que ele é um génio, anyway, nós também já sabíamos.

    Cumprimentos!

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  2. Também sou um grande, grande fã dos Coen (entrariam num "top 10 realizadores") e contrapus este filme precisamente a essas obras a que te referiste, para mim as mais emblemáticas. De facto, não há o negrume cómico (antes apenas um "cómico), a seriedade irónica e bizarra, a punch-stupidity genial, a vilania macabra, original mas divertida a que estamos acostumados, mas há aqui muito Coen nestas personagens e diálogos.

    Hailee Steinfeld, grande surpresa, sem dúvida.

    Sobre os imensos comentários, agradecerei no teu blog ;)

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  3. Este filme deve levar-me às salas de cinema pois, como vocês, também sou fã dos irmãos Coen.

    Abraço
    Frank and Hall's Stuff

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  4. Eu gostei bastante deste filme, mas não sei porquê, acho que no conjunto da obra dos Coen acaba por ser um dos mais fracos. Isto apesar de o considerar um grande filme, atenção. Só considero que é demasiado perfeito para o universo dos manos, falta ali qualquer coisa.

    Cumprimentos.

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