Monday, March 29, 2010
(500) Days of Summer (2009)
"Boy meets girl. Boy falls in love. Girl doesn't."
Depois de visto o filme, posso assegurar que é uma bela tagline; antes disso, juntamente com a informação sobre o género como sendo "uma comédia romântica", pode tornar-se pouco atractiva.
É, aliás, por aí que quero começar: não se entenda que é uma comédia romântica como aquelas a que estamos habituados a ver a um domingo à tarde (como aquelas com que o Ashton Kutcher nos costuma presentear). Nesses, a história gira basicamente à volta disto: 1) um homem e uma mulher estão profundamente apaixonados (sendo que, por vezes, ao início há uma certa hostilidade entre os dois); 2) a meio do filme há um turning point (provocado por um ex-marido, uma ex-namorada, a necessidade de mudar de cidade, um passado obscuro, por aí) e chega a fase da depressão/ódio (é aqui que, por vezes, acontecem certas situações que agravam a acidez da relação, coisa que só serve para dar mais hype ao ponto que se segue); 3) momento emocionante, com música emocionante, em que é prestada uma grande prova de amor; 4) fim.
Por isso, acho que a divisão que o IMDB faz é mais indicada: "Comédia/Drama/Romance".
A história é isto (e completando a frase com que comecei esta análise):
1. Rapaz (Joseph Gordon Levitt, como Tom Hansen) conhece rapariga (Zooey Deschanel, como Summer Finn).
2. Rapaz (acredita no amor e no destino) apaixona-se por rapariga (não acredita no amor nem no destino). Rapariga não se apaixona por rapaz.
3. Rapaz e rapariga são namorados. O que foi dito no ponto acima mantém-se.
4. Rapariga acaba tudo do nada - não gosta dele e não quer nada sério. Rapaz fica destroçado.
5. Rapaz esquece rapariga (deixa de acreditar no amor e no destino). Rapariga casa com outro rapaz (passa a acreditar no amor e no destino).
6. Rapaz segue com a sua vida e conhece uma rapariga chamada ... Autumn (Outono).
Uma frase que ilustra tudo isto que acabei de dizer faz, ela mesma, parte do guião do filme, logo nos segundos iniciais: "This is NOT a love story. This is a story ABOUT love."
É uma história engraçada, descontraída e que leva um rumo original e diferente. O final está particularmente pouco comum, mas sempre muito coerente. Depois tem umas piadas subtis, outras nem tanto, mas sempre muito bem concebidas. Gosto do modo como o filme é conduzido, andando para trás e para à frente, enquanto Tom desabafa com os amigos e com a irmãzinha.
Quanto aos actores, não achei o Joseph nada de especial. Já a Zooey, a primeira impressão é a de que passa muito despercebida; com a cara que está, parece que foi o "frete" filmar aquilo. No entanto, depois de pensar nisso à luz da história, fiquei a achar que era uma postura de "indiferença" que dá um toque especial à coisa.
Monday, March 22, 2010
Edge of Darkness (2010) - "Some secrets take us to the edge."
Já o tinha apresentado, há um par de dias, e eis que é o meu primeiro filme de 2010: Edge of Darkness (Fora do Controlo), um thriller sangrento que marca o regresso de Mel Gibson ao grande ecrã.
William Monahan (The Departed) conta-nos a história de um polícia que assiste à morte da própria filha, partindo em busca do assassino, julgando que ele próprio era o alvo. Parece-me um início bastante normal para um policial. Por esta altura, já tinha algumas coisas a criticar: 1) a primeira imagem (os três corpos a boiar, com o título em cima), que surge completamente descontextualizada de todo o filme, mais ou menos até metade - era dispensável; 2) talvez pudessem ter perdido mais algum tempo no build-up da relação entre Tom (Mel Gibson) e a filha (Bojana Novakovic) -tudo acontece muito depressa: vemos uma gravação antiga, dela, na praia, com um tom muito nostálgico; logo a seguir vemos uma adulta a ir ter com o pai; de repente, ela está doente e o pai, ainda que pareçam muito afectuosos, não sabe nada da vida dela; eis que leva um tiro; 3) se ele era o tipo de pai que nem visitava a filha (como nos vimos a aperceber) nem fazia a menor ideia da sua ocupação profissional, porque raio é que ela o tratava como se fosse o melhor pai do mundo ?; 4) poucos segundos antes de morrer, depois de dar claros sinais de doença, confessa ao pai que tem algo "que te devia ter contado" (e que, dado o contexto, tem a ver com o seu débil estado de saúde) - porém, esquecem-se completamente disto. Será que Tom nunca se lembraria do assunto ?
Segue-se a fase em que o detective resolve partir numa investigação paralela à da polícia (depois de ter convencido o superior de que deveria fazer parte da investigação) e em que começa a descobrir aquilo em que a filha estava envolvida. Surge uma complicadíssima teia de contactos e conhecimentos, entra o governo dos EUA, a "National Security", um Senador corrupto e uma gigante empresa que, alegadamente, produz armamento nuclear para fora do país. E, como dizer, todos juntos fazem um belo vaso - estão todos do mesmo lado. O problema, como já podem desconfiar, passa pelo facto de Emma (a filha) ter tentado denunciar tudo o que se andava a passar; agora, Tom, está a descobrir toda a trama que a filha já havia compreendido. Como reacção, para aniquilar qualquer suspeita, surgem dois feixes de acção, que se tentam equilibrar com acordos e cedências mútuas, o que acaba por não correr bem: de um lado, o monopólio impenetrável de segurança privada da própria empresa de investigação e desenvolvimento nuclear (o "feudo de segurança"), de outro lado, a mais prudente actuação da Segurança Nacional.
Também não é difícil de adivinhar que, feito este contexto, a cada prestação de informação sobre esta teia se segue uma morte. Não me lembro quantas foram, ao todo.
Mel Gibson parece-me perfeito para o papel, ainda que não tenha tido uma interpretação extraordinária e apesar da cena final, em que está "bêbedo de veneno", estar ridiculamente exagerada. É o polícia racional que tenta não lidar com a morte da filha para procurar respostas e, principalmente, vingança (ainda gostava de perceber porque é que ele nunca se assustou, ou achou estranho, com as visões que tinha da filha, em criança). Vai resolvendo a tramóia, mas acaba por não conseguir escapar ao fio fatídico que conduz o filme do início ao fim: morre enveneado, depois de matar o assassino da filha e o responsável pela empresa. Ao mesmo tempo, Jedburgh (Ray Winston), que havia sido enviado para tornar a investigação num quebra cabeças demasiado grande para se poder resolver, vira-se para o lado dos bons, assassinando o Senador e os membros da Segurança Nacional responsáveis pelo assunto. Logo de seguida, ele próprio, é morto por um simples polícia.
A confusão já não era pouca quando o filme termina com uma clara mensagem sobre a "afterlife" - Tom e Emma caminham, juntos, para a "luz" (literalmente). Foi estranho. E descontextualizado.
Thursday, March 18, 2010
Coisas Actuais.
Está na minha lista.
"Os homens que não amavam as mulheres" ou "A rapariga que brincava com o fogo".
Depois de Män som hatar kvinnor (Os homens que odeiam as mulheres ou A rapariga com a tatuagem do Dragão, título inglês/internacional e título americano, respectivamente) (para mim, nota A), a adaptação do primeiro livro da famosa triologia do falecido escritor sueco, Stieg Larson, com grandes interpretações de Naomi Rapace (A+) e Michael Niqvist (A), está prestes a chegar às salas de cinema o segundo volume da saga: Flickan som lekte med elden (Os homens que não amavam as mulheres ou "A rapariga que brincava com o fogo"). Aguardo ansiosamente.
Talvez se perguntem pelo porquê dos dois títulos diferentes. "Mania dos americanos". Bem, na verdade trata-se de algo bem mais curioso. David Fincher, realizador de Seven e Fight Club, pretende levar avante a inédita proeza de fazer um "remake" da história antes que esta tenha oportunidade de cair no mínimo esquecimento; na verdade, The Girl with the Dragon Tatoo ou A rapariga com a tatuagem do Dragão é o nome que o director pretende dar à sua versão da história, que já está em desenvolvimento. O rumor é de que veremos, ou poderemos ver, Carey Mulligan (An Education) no papel da brilhante Naomi.
Para já, é só.
A partir de agora, tenciono criar uma pequena rúbrica semanal (todos os Sábados), onde falarei sobre notícias deste género, dentro das que me parecerem mais relevantes.
Boa viagem.
Wednesday, March 17, 2010
Dead Poet's Society: "Carpe diem." (1989).
Está na hora de pôr umas rodas nisto. E parece-me bem, antes de começar com notícias e de me lançar nesta nova temporada cinematográfica, sempre com uns clássicos e uns old school pelo meio, dar a minha humilde opinião daquele que é um dos meus filmes favoritos: Dead Poet's Society (O Clube dos Poetas Mortos), 1989.
Escrito por Tom Schulman, actual Vice-Presidente da WGA (West), e realizado pelo australiano Peter Weir, o filme conta a história de um professor de literatura inglesa, numa escola secundária bastante conservadora (Robin Williams, como John Keating) que, através de uma metodologia de ensino muito pouco ortodoxa, luta por fazer brotar a criatividade, a cultura e a liberdade intelectual no espírito dos seus alunos. É o seu sucesso que dá nome ao filme, já que é Keating que motiva Neil Perry (Robert Sean Leonard, Wilson da série House MD), Todd Anderson (Ethan Awke), Knox Overstreet (Josh Charles), Charlie Dalton (Gale Hansen), entre outros, a fazerem reviver o secreto e místico clube de poesia do qual o professor havia feito parte.
Esta é, digamos, a main story. Paralelamente temos muitas outras (v.g. a relação entre Neil e o seu pai, extremamente conservador; o amor proibido entre Dalton e Gloria) que transmitem sempre a mesma mensagem, que foi, para mim, uma grande mensagem e muito bem transmitida: a valorização da liberdade intelectual, o cultivo de uma opinião crítica e de uma atitude pro-activa no combate ao sedentarismo ideológico e filosófico e aproveita a vida.
É uma história muito bem construída, com cada pormenor a contribuir para o tema fulcral do filme - um grande exemplo: ainda no início, Keating manda os alunos ler um texto aparentemente genial, de um PhD. qualquer, que adopta um método matemático de avaliação da poesia. E vai falando disso. Ao mesmo tempo, um dos alunos passa religiosamente tudo o que vai sendo escrito no quadro; até que o professor diz que está tudo errado e o mesmo aluno, sem piscar os olhos, risca imediatamente o que tem no caderno. Ou, como já referi algures em cima, a relação entre Neil e o seu pai - o primeiro, farto de ser impedido de realizar o seu sonho de representar, desobedece ao conservadorismo autoritário do segundo, sempre ciente das consequências; mas sempre ciente do que era certo - "aproveita o dia".
Neil, personagem que se assume com um grande relevo, para mim, sempre acompanhando a interpretação de Williams, acaba por se ver privado de tudo o que era importante para ele: os amigos, a poesia e o teatro. O fim é trágico (suicida-se), numa mensagem algo fatalista, mas é o que a torna firme e valiosa - num dia estamos cá, no outro já não. Carpe diem.
Não me quero alongar. Resta-me terminar dizendo que tem uma das mais intensas (arrepiei-me) cenas de cinema que já tive a oportunidade de ver (clicar) (nota: para sentirem o mesmo, ou algo próximo, não tenham dúvidas de que têm de ver o resto do filme primeiro).
Oh Captain, my captain.
Tuesday, March 16, 2010
"O início é a parte mais importante de todas as tarefas", Platão.
A Gente Não Vê.
Assim disse o senhor (aquele da frase "gira" do título). Bom, será, no mínimo, indispensável. Digo eu; pelo menos, não consegui encontrar uma forma de fugir a isso e, assim, tive mesmo de começar pelo princípio (nota: o problema desta última afirmação é que, se começasse pelo fim, estava, à mesma, a estabelecer um início).
No presente dia, em que inauguro este pedaço de realidade virtual, estive numa conferência (à socapa), em que o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, demorou quase 30 segundos, no tal início, a tecer considerações tais como:
"Caro senhor Reitor da Universidade de Lisboa; caro Vice-Reitor da Universidade de Lisboa, Prof. Barbas Homem; caro Director da Faculdade de Direito, Prof. Vera-Cruz Pinto; caros Professores; caros embaixadores; caros deputados; caros estudantes ... "
Parece-me pouco provável que me valha de muito dirigir-me desta forma a quem (e desde já um sincero agradecimento) se der ao trabalho de interpretar o conteúdo semântico dos símbolos linguísticos que aqui colocar (que é como quem diz, ler isto).
Assim,
Obrigado, meus caros.
É com sentimento de relativa normalidade que inauguro este pequeno blog. O nome, A Gente Não Lê, surgiu, basicamente, por dois contributos: 1) o intenso e trabalhoso primeiro semestre que resolvi ter na FDL; 2) uma música de Rui Veloso, de título "A gente não lê".
É verdade que Setembro-Fevereiro foi um grande semestre (em várias vertentes) e que tudo correu bastante bem. Mas também é verdade que, e talvez por ter sido o início, deixei de aproveitar o tempo para muitas coisas. Talvez demasiado. Talvez não. Talvez tenha sido bom para agora saber como gerir bem as coisas. Aquilo que mais me custou foi ter perdido tempo para o cinema, algo que me apaixona particularmente. É por isso que aquilo sobre o qual vou escrever maioritariamente vai ser cinema. Acho que será possível que, de vez em quando, apareça qualquer coisa sobre música, já que conto ter um convidado especial para o efeito - apresentar-se-à a seu tempo. E nada obsta a que de vez em quando encha isto com coisas que não têm nada a ver com estes tópicos ou quaisquer outros de que se possam lembrar - é o chamado "outros".
Rui Veloso lamenta-se do iliteracia do povo, que se contente com pouco mais do que ditados populares. A minha mensagem não é para o povo, é para mim. Não me quero contentar.
Sem mais, atenciosamente,
Diogo Figueira.