Friday, April 29, 2011

Sala Manoel de Oliveira

A rebaptizada sala principal do emblemático Cinema S. Jorge, atitude recebida com emoção pelo histórico realizador português.

Thursday, April 28, 2011

5-Minute Film School

É só clicar na imagem. Boas lições !

Trailers: Harry Potter, parte 2

O primeiro foi inserido na edição da primeira parte para Blu-Ray; o segundo (que não foi possível incorporar, pelo que deverão seguir pelo próprio link), é o primeiro trailer oficial divulgado na internet. Não gostei tanto com dos da primeira parte, mas não odiei. Parece-me óbvio (e já se fazia antever) que irá perder o tom misterioso e subtil que ainda conseguiu ter nos primeiros 140 minutos, já que todo o filme será um autêntico terceiro acto (de uma saga), cheio de lutas e batalhas, feitiços e explosões, monstros e rasgos apocalípticos, a um ritmo frenético e exuberante. Adivinho-lhe maior melodrama (voltando, nessa dimensão, a descer de novo ao público mais juvenil) e uma continuação de um grandioso trabalho de Eduardo Serra.




TRAILER OFICIAL DIVULGADO NA INTERNET

Wednesday, April 27, 2011

IndieLisboa'11: os mais esperados - Parte 1

Aqui deixo a lista dos filmes que mais aguardo para esta 8ª edição do festival de cinema IndieLisboa, que decorrerá na capital entre 5 e 15 de Maio, nos cinemas São Jorge, . Deixo-vos o link para o site, onde podem saber tudo desde preços, a horários, a localizações, a seminários, a todas as novidades e. ainda, a programação completa.


COMPETIÇÃO INTERNACIONAL - CURTAS METRAGENS

La Fille & Le Chasseur, SUI, anim.
Os Milionários, POR, anim. (este é o que mais me atrai, de todo o festival)
On the Water, HOL, anim.
The Death of an Insect, FIN, anim.
Diarchia, ITA/FRA, fic.
Memme, BEL, anim.
Irma, MEX/EUA, doc.
House Wonders, Birds Water Full, ALE, anim.
1989 (When I Was 5 Years Old), DIN, fic.
Diane Wellington, FRA, fic.
Wakasa, POR, doc.
Pixels, FRA, anim.
Far From Manhattan, FRA, fic.
How To Pick Berries, FIN, doc.


COMPETIÇÃO INTERNACIONAL - LONGAS METRAGENS

Above Us Only Sky, Jan Schomburg, ALE, fic., 2010.
Attenberg, Athina Rachel Tsangari, GRE, fic., 2010.
O Céu Sobre os Ombros, Sérgio Borges, BRA, fic./doc., 2010.
Gravity Was Everywhere Back Then, Brent Green, EUA, fic., 2010.
Memory Lane, Michaël Hers, FRA, fic., 2010.


COMPETIÇÃO NACIONAL - CURTAS METRAGENS

Memórias de Cão, POR, anim.
Incêndio, POR/BRA, fic.
Homenagem a quem não tem onde cair morto, POR, fic.
Liberdade, POR, fic.
Alvorada Vermelha, POR, fic.

COMPETIÇÃO NACIONAL - LONGAS METRAGENS

O Barão, Edgar Pêra, POR, fic., 2010.
O Que Há de Novo no Amor, vários, POR, fic., 2010.
Swans, Hugo Almeida, POR/ALE, fic., 2010.


OBSERVATÓRIO - LONGAS METRAGENS

Carlos, Olivier Assayas, FRA/ALE, fic., 2010.
Essential Killing, Jerzy Skolimowski, POL/NOR, fic., 2010.
Homme au Bain, Christophe Honoré, FRA, fic., 2010.
Kaboom, Greg Araki, EUA/FRA, fic., 2010.
Meek's Cutoff, Kelly Reichardt, EUA, fic., 2010.
Mulberry St., Abel Ferrara, EUA, doc., 2010.
Robinson in Ruins, Patrick Keiller, ING, doc., 2010.
Tabloid, Errol Morris, EUA, doc., 2010.

A Personal Journey with Martin Scorsese through American Movies (1995)

Uma verdadeira e autêntica viagem pela genialidade, subtileza e brilhantismo da cinematografia clássica norte-americana. Dividido em três partes, numa duração total que fica entre as três horas e meia e as quatro horas, Martin Scorsese conduz-nos, com a clareza e a destreza de um rigoroso apaixonado pela sétima arte, pelas evoluções narrativas, técnicas e estilísticas do período. Aborda obras de realizadores venerados como Griffith, Ford Wilder ou Kubrick, passando, com o mesmo destaque, por aqueles que considera os "injustamente esquecidos", como Alad Dwan, Ilda Lupino, Samuel Fuller, Andre de Toth, entre muitos outros. Pega em grandes marcos de culto como "Birth of a Nation", "The Searchers", "Citizen Kane", "Double Indemnity", "The Band Wagon" ou "Barry Lyndon" e intercala-os com peças que ele próprio, tentando adivinhar, exclama que não conheceremos, admitindo que muitos deles terão até sido mais inspiradores - "The Naked Kiss", "Murder by Contract", "The Red House", para mencionar apenas alguns.

Ele próprio nos previne, ao anunciar que não conseguirá ser objectivo. Mas é por isso que os seus olhos brilham enquanto conta as histórias (das poucas vezes que o vemos), porque fala de tudo aquilo que o moveu, que o criou, que o construiu como o grande cineasta que é hoje. Mais do que muitíssimo bem explicado e estruturado, este documentário é uma jornada fantástica e emocionante,para os fãs do realizador, para que conheçamos mais a fundo as suas raízes e a sua obra, mas, mais do que isso, é uma aula, de um verdadeiro professor, para todos os amantes de cinema.

Saturday, April 23, 2011

Pérolas prontas a brotar



Andam sempre por aí umas certas pequeninas pérolas cinematográficas, obras recentes e fora da alçada das grandes produtoras, incrivelmente originais e que são muitas vezes os primeiros trabalhos de gente de quem não deixamos de falar nos anos que se seguem.

Costumo, sobre este assunto, pegar sempre no festival de cinema de Sundance, como fiz neste artigo, em que escrevi umas breves linhas sobre Another Earth, agarrada e não mais largada pela perspicaz Fox Searchlight Pictures: "No dia em que a comunidade científica descobre um novo planeta no sistema solar, uma ambiciosa estudante e um reconhecido compositor cruzam os seus caminhos num trágico acidente.".

Hoje, já há poster e trailer para este drama de ficção científica, escrito e realizado por Mike Cahill (ajudado no guião pela actriz principal, Brit Marling), técnico especializado em efeitos especiais (questionava-me sobre como teriam, com os poucos recursos da produção independente, levar avante uma imagem como esta). O dia em que a população mundial descobre que, algures no universo, sempre existiu um segundo planeta Terra, com uma segunda versão de si próprios - "There's another you out there".





Por outro caminho segue Sleeping Beauty, pelas mãos da Paramount, que estreará este ano em Cannes, e que surpreende por ser a primeira expedição de Julia Leigh no grande ecrã. Conta a história de uma encantadora rapariga que se decide aventurar no mundo da prostituição e que descobre uma bizarra estratégia para satisfazer um estranho fetiche de vários clientes: fazer sexo com uma mulher a dormir. De cada vez, toca droga para desmaiar e apenas acordar na manhã seguinte sem se lembrar de rigorosamente nada.

Tal como em "Another Earth", o material promocional chama por nós e tem como outro grande trunfo Emily Browning (Sucker Punch), que parece vir fazer parte da jovem geração de grandes actrizes que já se faz sentir. Anseio por ambos.



Friday, April 22, 2011

Ruiz volta a filmar em Portugal - será desta ?


Na altura escrevi no blog sobre a minha grande expectativa em relação a "Mistérios de Lisboa", produzido por Paulo Branco, escrito por Carlos Saboga, protagonizado por portugueses, apesar de ser realizado pelo chileno - obra lusitana, portanto. Questionei-me sobre se não seria o nosso primeiro grande épico. Da mesma forma, também na altura própria, manifestei o meu grande desagrado em relação ao filme, com os argumentos que apresentei neste mesmo espaço.

Chegou à poucos dias a notícia de que Raul Ruíz voltará a filmar em Portugal, de novo sob a alçada de Branco (que entretanto também está de volta de "Cosmopolis", de Cronenberg), o filme de título "As Linhas de Torres Vedras", sobre as invasões francesas em Portugal. Será este o título original e terá como tradução inglesa "The Lines of Wellington", e contará com monstruoso (para a nossa realidade) orçamento de quatro milhões e meio de euros.

Volto a ter grande expectativa e volto a depositar neste filme a esperança que depositei no outro, que, ainda assim, foi bem recebido. Com tamanho orçamento, não há razão para não se fazer um grande filme e estou certo de que o realizador estará à altura. A minha grande dose de cepticismo vai, enfim, para o argumentista, o mesmo, que também escreveu "Milagre Segundo Salomé", cuja crítica também já aqui deixei. Espero que, no mínimo dos mínimos, se dedique a uma exaustiva pesquisa ao estilo kubrickiano.

Tim Hetherington (1970 - 2011)

Tim tinha acabado de ter um ano em grande, depois do seu documentário sobre a guerra do Afeganistão, Restrepo, ter vencido o Grande Prémio do Júri para Melhor Documentário no festival de Sundance, em Janeiro passado, ter sido nomeado para Melhor Realizador de Documentário pela Director's Guild of America, e ter sido nomeado aos Óscares, nesta última edição. O jornalista já tinha alguma experiência com guerras, já tendo trabalhado com a CNN e até vencido, no contexto, o World Press Photo 2007. Neste momento, escrevia para a Vanity Fair e cobria a guerra na Líbia, onde não resistiu aos ferimentos (outro jornalista morreu e outros dois ainda tentam recuperar).

As minhas condolências, lembrando aquela que foi a última frase que terá escrito nas suas notas - "Na cercada cidade líbia de Misrata. Forças de Kadhafi bombardeiam indiscriminadamente".

Thursday, April 21, 2011

Cannes'11 e os pseudo-artistas

João Pedro Rodrigues fará parte do grupo de júris destinados a, no âmbito da Cinefoundation, no festival de cinema de Cannes'11, escolher três de dezasseis curtas-metragens de escolas e universidades de todo o mundo. É triste saber que uma pessoa com o currículo que o senhor tem, com alguns dos mais amadores, mal construídos e, em certas partes, nojentos filmes que andam para aí em relativa ribalta.

Saturday, April 16, 2011

Os próximos projectos de P.T.A. e Woody Allen

As atribulações que têm vindo a caracterizar o sucessor de "There Will Be Blood" são perfeito contraste da fluidez e do industrialismo dos trabalhos do nova-iorquino. Enquanto que Paul Thomas Anderson viu a Universal e Jeremy Renner abandonarem The Master, depois do processo ter estagnado devido ao seu "bloqueio criativo" (e, assim, por sua própria vontade), Woody Allen deu continuação à sua saga europeia, dando forma a "Midnight in Paris" (a estrear em Cannes'11), marcando o ritmo anual com que nos traz os seus filmes, sem quaisquer problemas de produção ou afins.

Mais tarde, e não há muito tempo, surgiram novas notícias em relação ao futuro de ambos. O primeiro estaria a começar a adaptar a mais recente obra literária de Thomas Pynchon, Inherent Vice, e Megan Ellison, filha do multimilionário Larry Ellison, anunciou estar pronta para garantir o financiamento do projecto, bem como o do adiado retrato do criador da cientologia. O segundo já teria mais uma encomenda "turística", Roma (já esteve, também, em Barcelona).

Pela data de hoje, tudo se confirma. Para Anderson, augura-se a dilatação das boas notícias até que vejamos as coisas na tela, já que surgiram vários nomes que podem completar o elenco de "The Master" - Joaquin Phoenix, Amanda Seyfried e Emma Stone. Em relação a "Inherent Vice", estarão em processo as conversações com Robert Downey Jr., para o papel de Don, um investigador privado, hippie, em plena LA dos anos 60. Para Allen, sem saber bem se é boa ou má esta ininterrupta corrente filmográfica, estão já garantidos Penélope Cruz, Alec Baldwin, Jesse Eisenberg e Ellen Page.

Como gigante fã de P.T.A., não será sequer possível ansiar mais por uma nova obra e estou certo de que todos os actores que se juntarem a qualquer dos seus projectos terão a perfeita consciência de que serão dirigidos pelo melhor (basta ver toda e cada interpretação que sacou aos actores, em todos os seus filmes). É também como grande admirador de Woody Allen que espero que volte com mais um grande guião (notando que os tempos de "Annie Hall" estão cada vez mais longe), embora ache que o senhor não sabe fazer maus filmes.

Divulgado vídeo sobre a rodagem de The Hobbit



"Please start shooting !", terminou Peter Jackson. A rodagem já começou e a estreia está agendada para meados de Dezembro de 2012. Por aqui, anseia-se para voltar a mergulhar no fantástico mundo de Tolkien (e de toda esta fantástica equipa de cinema).

Friday, April 15, 2011

Jack Sparrow no Festival de Cannes'11


Os Piratas abriram as velas e rumaram até França. O quarto filme da saga, On Stranger Tides, que contará com a participação de Penélope Cruz, terá estreia no festival de cinema de Cannes, fora de competição.

Thursday, April 14, 2011

Os seleccionados para Cannes'11


Foram hoje divulgados os candidatos seleccionados para a 64ª edição do festival de Cannes, numa edição que promete ser memorável. Com o júri constituído por Robert de Niro (Presidente do Juri), Emir Kusturica (Presidente da Un Certain Regard), Michael Gondry (Curtas-Metragens e Cinefoundation) e Jonn-Ho Bong (Presidente do "Câmara de Ouro"), os principais realizadores a marcar presença serão: Woody Allen (Midnight in Paris), a abrir; Terrence Malick (The Tree of Life); Pedro Almodóvar (La Piel que Habito); irmãos Dardenne (Le Gamin au Vélo), Aki Kaurismaki (La Havre); Nani Moretti (Habemus Papam), Lars von Trier (Melancholia), Gus Van Sant (Restless), Bruno Dumont (Hors Satan). Também Jodie Foster marcará presença, fora de competição, com The Beaver, protagonizado por Mel Gibson, num argumento que saiu da blacklist de Hollywood de 2009.

Saturday, April 9, 2011

Sidney Lumet (1924 - 2011)


"Apesar do objectivo de todos os filmes ser entreter, o tipo de filme em que eu acredito vai um passo mais além. Compele o espectador a analisar uma faceta ou outra da sua própria consciência. Estimula os pensamentos."

O fim do Mundo, segundo Lars von Trier

Foi ontem divulgado o primeiro trailer do novo filme do cineasta dinamarquês, Melancholia, com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbrourg, Alexander Skarsgaard e Kiefer Sutherland. Pessoalmente, adorei, e agora as expectativas estão altas.

Thursday, April 7, 2011

There Will Be Blood / Haverá Sangue (2007)


Há filmes que, de cada vez que os vemos, nos extasiam ainda mais do que da última vez, numa cada vez mais profunda percepção de toda a sua conjugação de imagens, sons e narrativa. Ontem à noite cheguei da Cinemateca, depois de mais uma visualização de Haverá Sangue, a segunda em ecrã de cinema, e, desde então, não consigo pensar noutra coisa. Haverá obra mais magnífica que esta ? Muito poucas, as equiparáveis.

O primeiro acto (acredito que é constituído por quatro) é o melhor setup de sempre. Da escuridão mineira e carbónica em que vemos Daniel pela primeira vez (que vai contrastar com a incendiária luz do sol), a batalhar com uma simples picareta contra a rocha inamovível, passamos por uma panorâmica vertical que liga, através do mais genuíno poder da imagem em movimento, com suspense e uma fotografia indescritível, a sua grave lesão à solução que tem para a ultrapassar - atravessar o deserto e as montanhas.

Em todos os domínios, em poucos minutos, sem qualquer diálogo, estão introduzidas todas as filosofias que vão enformar o filme. Tecnicamente, é a câmara fluída, participante, maquiavelicamente reveladora, misteriosa e tensa; é a cor, nos contrastes e no absoluto, com os tons maioritariamente quentes e desérticos e com as sombras e um negrume de arrepiar a alma (é em articulação com uma composição perfeita que vai deixar que haja planos que são autênticos quadros); é o som, milimétrico e rigoroso, que potencia em sinestesia a textura da imagem; é a música, gélida, cortante, que vai ser outra das faces do conflito e da personagem principal. Narrativamente, é na subtileza dos elementos, das acções, da composição e das expressões que se baseia o argumento (não obstante os diálogos inigualáveis). Tematicamente, é na clareza com que nos é apresentada aquela que talvez seja a mais ambiciosa e mais bem sucedida personagem que o cinema já conheceu.

Seguimos por um clássico encadeado entre a assinatura, por si só esmagadora, de Daniel Plainview, e as construções que já lhe pertencem (as suas mãos sujas de carvão; os esboços das máquinas). Rapidamente, descobre petróleo e é num plano magnífico que o seu louco regozijo nos é dado a conhecer - a palma da mão mergulhada no líquido e erguida para os céus. Está introduzida mais uma peça do conflito: a ambição de um homem do petróleo. O engendrar das máquinas, nos rigorosos grandes planos, com o som a transportar-nos directamente para o local, criam uma atmosfera de mecanização quase assustadora, até que sucumbe e resulta no acidente de um trabalhador (num plano que capta na perfeição a violência do embate, muito semelhante aquele em que Daniel cai, logo no início). Aliás, é precisamente aqui, numa mera fracção de segundo, que o sangue do homem se espalha pelo ar, como pó. A seguir, vemos mais um plano avassalador, um grande plano de Plainview, coberto de petróleo e sangue escuro. Nestes dois, eis que, pela primeira vez, o sangue se mescla com o combustível, aqui retratado com uma fidelidade impressionante, com uma textura mesmo viscosa. Se o título parecia adquirir, já aqui, um significado de grande abrangência, ainda mais quando o filho do homem é adoptado por Daniel (bebé que já tinha sido baptizado com uma marca do líquido), que o passará a acompanhar para sempre - o sangue, agora, representa também a família e está, finalmente, introduzido o drama da obra: um ganancioso que balança entre a sua ambição desmesurada pelo sucesso e dinheiro do petróleo e entre certos valores familiares.

A partir daqui, o negócio do nosso personagem floresce e leva-o de discurso em discurso, de cidade em cidade, de terrenos em terrenos, de população em população, Califórnia fora, procurando expandir o seu império. Nove anos passam, numa elipse muito bem conseguida, e Daniel compra uns terrenos em Little Boston, o espaço de todo o resto da acção. Também aqui faz o seu magnífico discurso, em que o subtexto nos revela tanto, tanto: por um lado, a eloquência com que fala do seu trabalho (oil man); por outro, o orgulho com que fala de seu filho e da importância que confere à família (family man), prometendo a construção de toda uma série de infra-estruturas, para aumentar a qualidade de vida da população. Uma vez mais, o conflito entre petróleo e família. Porém, note-se a subtileza dos planos aqui utilizados, a salientar o individualismo de um homem sem limites: começamos num plano aproximado de Daniel; passamos para um plano que nos revela os presentes; terminamos num plano afastado, em que vemos Daniel, o filho (H.W.) e algumas pessoas, seguimos em steadycam até vermos apenas os dois, com incidência no segundo, mas rapidamente reenquadramos para o magnata, voltando a aproximar-nos, terminando como no início. O seu olhar e a sua voz são arrepiantes.

Já a vila trabalha com gosto e vigor e o poço prepara-se para ser inaugurado. Eli, um pastor da Igreja da Terceira Revelação, um homem manipulador, sedento de poder e atenções, vê as suas intenções imediatamente identificadas por Daniel, ao pedir-lhe para que este lhe conceda um papel de destaque na tal inauguração (a parte final da missa, e toda a conversa final, acontece num só plano-sequência, de intensidade dramática magistral, em que se sente realmente um confronto de titãs). Daniel finge aceder, despedindo-se com "That was a goddam hell of a show!", referindo-se à sua "expulsão" de um demónio. O que vai terminar o primeiro acto, é a inauguração do poço pelo seu filho e pela sua pequena amiga, Maya, com um discurso altamente provocador e confiante, de Daniel, em relação a Eli - mais uma escalada no conflito, ao surgir a oposição de um homem que se atravessa na sua esfera de domínio social e económico, graças ao petróleo, sempre balançado pelo espírito familiar (quem ele escolhe para a inauguração).


Segue o segundo acto num crescendo de tensão que vai culminar no ponto de instigação da instabilidade deste homem. Caríssimos, esta sequência deixa-me de tal forma sem palavras que apenas conseguirei apontar algumas referências. A alternância entre a claridade do bonito dia e o abafado e a escuridão do fumo negro, o jorro do petróleo, imponente e incontrolável, as chamas que o envolvem e que nos deixam a contemplar o fogo, tal e qual como faz Plainview, pela sua beleza e não pela destruição que cria (ou pormenores como o plano desordenado e inclinado, quando Daniel sobe para ir buscar o filho). É aqui que H.W. fica surdo (e conectamo-nos com ele por várias vezes, ao som de Arvo Part) e é a partir daqui que o seu pai começa a perder o controlo. Tudo é criado criado de forma incrivelmente subtil e terminamos com três beats magistralmente elucidativos: 1) o fogo parece ter tido mais para aproveitar do que para lamentar, no que toca à exploração de recursos; 2) o enternecedor plano em que pai e filho dormem, abraçados, imundos de negrume (repare-se, com estes dois pontos, de novo e como sempre, petróleo e família); e 3) um insert de um grande plano de Eli, com as chamas a reflectirem-lhe no rosto, garantindo que não só a família (surdez) mas também os negócios terão uma fase mais dura.

Entramos no pedaço mais intenso do filme, a meu ver - o terceiro acto. Enquanto se debate com a negação do problema de H.W., Daniel é abordado pelos imperialistas da Standard Oil, que se propõe a comprar-lhe todas as propriedades por uma soma avultada, que acabam por cometer o erro de lhe sugerir a doença do filho, despoletando-lhe uma imensa raiva (novamente, petróleo e família)."You don't tell me how to run my family" está, assim, para a tensão que se sente entre ele e o que resolverá para o seu pequeno e, em claro subtexto, para a sua própria empresa - que não desafiem nem a sua família nem a sua ambição e prospecção de sucesso. Esta atitude estende-se a uma humilhação a que submete Eli, batendo-o e enterrando-o numa poça, uma reacção contra a impossibilidade de ninguém, nem Deus (em quem não acredita) poder curar o filho, e a afronta que o pastor representa, sobre o domínio de todas aquelas pessoas.

E eis que chega uma nova personagem, que vem dar um novo rumo à jornada emocional que Daniel vinha percorrendo - é Henry, seu (suposto) irmão. Aqui, há uma nova confrontação com os homens da Standard, num café, com um campo/contra-campo entre Daniel e os mesmos, quase westerniano, em que estamos prontos a vê-lo disparar a qualquer momento (a alternância entre a sua cara, os homens despreocupados, os copos na mesa) - anuncia que, ele próprio, construirá o seu oleoduto, sublinhando a rejeição da proposta de compra. Se já tínhamos um novo nível na sua esfera familiar, temos também outro nível na sua esfera profissional. Sendo algo que já estava eminente, Planiview envia o seu filho para longe, depois de este ter provocado um incêndio, aparentemente inexplicável, na sua própria casa, onde dormiam os dois, mais o aparecido tio - é o início de um desequilíbrio quanto à família. Pouco depois, apercebe-se de que será difícil adquirir os terrenos para construir o oleoduto (apesar da sua grande determinação, mostrada na brilhante sequência em que prega os ferros por todo o terreno, terminando num incrível contra-picado em cima de uma mesa no "escritório") - desequilíbrio quanto ao negócio.

Mas é depois de um incrível grande plano de Daniel, num grande trabalho de montagem e gestão da duração de planos, aquando de uma conversa com Henry, que desperta a dúvida sobre se será que estamos perante um verdadeiro irmão. O homem do petróleo encontra um diário do afinal impostor, meio queimado, que o seu filho havia descoberto e havia tentado queimar, para que o pai nunca descobrisse e pudesse viver com essa pequena alegria. Acaba por matar o viajante e enterra-o no próprio líquido viscoso, enterrando completamente o seu passado no seu presente sucesso - há até aqui um paralelismo coreográfico (Daniel a escavar com uma picareta) e musical com o início do filme, que me parece significar precisamente que, no lugar a que chegou, há apenas lugar aos dois elementos que têm vindo a equilibrar toda a narrativa (sendo que Henry se tentou aproveitar do negócio e a mentir sobre a família). Pela manhã, é descoberto por Barny, aquele a quem tem de comprar os terrenos e cuja única exigência, em concertação com Eli, é que Daniel se sucumba ao baptismo de Deus e à redenção dos seus pecados, na Igreja da Terceira Revelação, uma humilhação máxima para si (que pecados, pergunta Daniel, ao que o velho lhe estende a pistola com que ele matou o irmão, em mais um belo momento cinematográfico).

O turning point do terceiro acto surge precisamente com a redenção de Daniel, perante Eli e perante a Igreja. É uma das cenas mais perfeitas que já vi, conseguindo um balanço perfeito entre a humilhação que Plainview sente, em virtude da vingança de Eli, e a sua irascível inteligência ao saber que aquele acto lhe garantirá os terrenos para o oleoduto e entre os seus motivos - o profundo arrependimento por ter mandado o filho embora ("I abandoned my child!") e o utilitarismo da confissão ("There's an oil pipe!"). Plainview é esse mesmo homem que temos visto que é, grotescamente ambicioso mas sofredor pelo seu ente querido. Os valores narrativos "petróleo" e "família" voltam a estar positivos.
Uma pequena resolução ainda discorre brilhantemente - daqui passamos imediatamente para um travelling em que percorremos a construção do gigante tubo, em plano aproximado, e terminamos num plano geral do reencontro de Daniel e H.W., altura em que ouvimos as suas vozes, que, em contraste com a distância que a imagem transmite, nos dá a conhecer um buraco na relação, que terá um nível que nunca será fechado (uma vez mais, Daniel sempre dupla preocupação).

O último acto é um eloquente epílogo. Viajamos 20 anos para o futuro, altura em que Plainview vive numa gigante mansão, negra e assustadora, alcoólico mas riquíssimo, materialmente glorioso mas emocionalmente desequilibrado. O seu filho cresceu e casou com a sua amiga de infância, Mary, desde sempre a protegida do pai. A discussão que têm é intensa e Daniel Day Lewis entra no final do filme sem perder um pingo da sua interpretação global magistral. Não só os planos são magníficos como toda a cena é narrativamente bem construída, com diálogos incrivelmente profundos e reveladores de toda a relação que existe entre aqueles dois homens, sempre em subtexto. Desde a necessidade de existir um tradutor, pela barreira de entendimento física e concreta que já existe (com dimensão emocional), aos ataques do pai para que ele diga umas palavras, acabando por conseguir (a transposição). O melhor chega quando Plainview brame, irritado e desolado por fora, mas orgulhoso por dentro, que H.W. não é seu filho, pois está a deixa-lo para criar a sua própria companhia - é precisamente o contrário que está a sentir dentro de si: mais ninguém poderia ser mais seu filho do que alguém que ousasse competir consigo de tal forma. E, aqui, a necessidade de fazer um foreshadowing para o diálogo com o irmão, "I have the competition in me.", associando-o com o que diz ao filho, "You have nothing of me.".

A última cena é avassaladora. Eli visita Daniel e é espancado até à morte, num quase simbólico gesto de vingança por toda a oposição que representou para si, a todos os níveis, a determinada altura da sua jornada na terra - a ele, como a mais ninguém senão à sua família, admite ele competição, concorrência, negação, rejeição, defrontação. No fim da vida, Daniel Plainview, um capitalista monstruosamente ganancioso e ambicioso, consegue tudo o que quer, ao nível do negócio do petróleo, sem nunca abandonar os seus mais inconscientes valores familiares. Na sua completa destruição, é o homem com mais sucesso de sempre.

Peço imensa desculpa pelo maior testamento que alguma vez fiz neste blog mas a verdade é que escrevi isto quase como terapia - como disse, tenho estado extasiado com isto. Enfim, resta-me dizer que só conheço um cineasta que conseguia aglutinar a narrativa (plot, diálogos e personagens), o som, a música e a imagem de forma tão perfeita como Paul Thomas Anderson: Stanley Kubrick. E, respondendo à questão que por aí se discute, estabelecidas as necessárias divergências temáticas e de época, e apesar de ser grande, grande fã de muitos outros, sim, P.T.A. será o novo Kubrick.