Sunday, May 30, 2010

The Circle / O Círculo (2000)

Já por mais do que uma vez falei aqui em Jafar Panahi, cineasta iraniano preso por alegadas ilicitudes, argumento que apenas serve para disfarçar motivos políticos, em mais um atentado aos Direitos do Homem nos países islâmicos. Já depois de ter iniciado uma greve de fome, várias personalidades do mundo do cinema conseguiram a libertação do realizador, que ainda assim teve de pagar uma multa avultada.

É indiscutível a enorme influência socio-psicológica que o cinema tem e sempre teve na sociedade - é um veículo movimentador de massas. Porém, é com o alastrar da filosofia neo-realista que as luzes se começam a focar em problemas sociais, económicos e políticos de forma crua, realista, com um tom documentarista. A gritar "Intervenção!". É precisamente desta corrente que emerge Panahi, com uma filmografia dedicada à defesa dos Direitos Humanos, com particular intensidade no que toca aos direitos das mulheres, e é exactamente isso que deixa os dirigentes iranianos receosos.

The Circle, muito premiado em vários festivais de cinema (cinco prémios em Veneza), assim como muitas das outras obras do director, é o primeiro que aqui vos trago. Conta a estória de quatro mulheres e a forma como lhes são negadas certas liberdades e certos direitos que, por serem tão básicos e tão óbvios na sociedade ocidental, quase não merecem sequer lugar no nosso pensamento.

A cena inicial é curta mas esclarecedora. Solmaz (Solmaz Panahi) (nunca a chegamos a ver) é uma rapariga que acabou de dar à luz uma menina, quando o ultrassom havia revelado que seria um menino e quando toda a família do noivo exigia um menino. A consequência será o divórcio e o desrespeito.
Segue-se a jornada de Nargess (Nargess Mamizadeh) e Arezou (Maryiam Palvin Almani) que, acabadas de sair da prisão, tentam arranjar dinheiro para comprar um bilhete de autocarro para fugirem daquela cidade e voltarem às origens da segunda, o que seria o começo de uma nova vida. Esta é presa por tentar vender um colar, exactamente para arranjar dinheiro, mas Nargess, ainda que a muito custo (não tinha identificação para provar que era estudante, podendo assim viajar sozinha, nem ia acompanhada de um homem), compra um bilhete. Infelizmente, não chega a embarcar na viagem, com medo da polícia que revistava as bagagens (podia ter de voltar para a prisão).
Falhados os seus intentos, Nargess vai procurar Patri (Fereshte Sadre Orafaiy), também acabada de sair da prisão. Não chega a conseguir falar com a amiga, já que esta se vê forçada a fugir de casa quando os irmãos, dois "brutamontes", chegam para "falar" com ela. Patri vai ter com Ellah (Ellah Saboktakin), enfermeira e igualmente ex-condenada, implorando-lhe que o seu marido, médico, a ajude com um aborto que não pode fazer, por não ter a autorização de nenhum homem (pai ou marido). Sem sucesso, acaba a deambular pelas ruas, sem poder ir para um hotel por não ter identificação, deparando-se com uma mãe que abandona uma criança, esperando que alguém a adopte e lhe garanta uma vida melhor e uma prostituta que vê ser presa.

Pelo meio, assistimos a inacreditáveis obrigações das mulheres, como a de terem de se cobrir com um manto para entrar em certos sítios.

A cena final é de uma mestria incalculável. As várias mulheres que ficámos a conhecer estão na prisão e alguém telefona a perguntar por uma tal de Shomalz (da cena inicial). No final de contas, estamos presos num círculo vicioso de onde não parece haver maneira de sair - uma constante violação à dignidade humana das mulheres que parecem condenadas à opressão.

É um filme alarmante. Os diálogos são poucos, o que alio às expressões constantemente assustadas e tristes das mulheres (grandes interpretações) para concluir que há uma intenção nisso mesmo - o retrato da falta de liberdade de expressão. Todas as falas são particularmente incisivas, como se não devessem mesmo dizer mais do que o essencial. O argumento é bastante simples, no final de tudo, e julgo que consegue abranger uma série de pequenos aspectos que nos deixam com um nó na garganta que nos vai fazer reflectir. Notem que não se trata de tortura, de sangue, de violência - estamos a falar de pequenas coisas, como o direito de passear livremente, e é exactamente daqui que parte o problema. Além disso, a imagem está bastante realista, balançando entre a ficção e o documentário, pelo que cumpre na perfeição o seu objectivo de ser um retrato da crua realidade.

Dennins Hopper


Faleceu ontem Dennis Hopper, que marcou o cinema de Hollywood com "Easy Rider", cortando com o passado e instituindo a rebelde Hollywood new wave, que vai impulsionar os trabalhos de grandes directores que hoje conhecemos, como Coppola, Scorcese ou Spielberg. Não será esquecido.

Saturday, May 29, 2010

Quentin Tarantino - Top 7


Bem sei que sete é um número estranho. Mas sendo esse o número de filmes que Quentin Tarantino realizou enquanto profissional, faço o jeitinho de não me reduzir a uns meros cinco, ou tentar alargar para dez.


6. Deathproof / À Prova de Morte (2007)
Um dos mais recentes, que tenta recuperar os clássicos road movies dos anos 70, com um argumento dividido em duas estórias quase totalmente autónomas: numa, Stuntman Mike (Kurt Russel) persegue um grupo de raparigas, à noite, com o objectivo de as matar, provocando um sádico e intencional acidente de carro; noutra, que se passa depois da primeira, Stuntman Mike persegue um grupo de raparigas, (...). Ia repetir-me, praticamente, à excepção da parte final. O único mérito parece-me ser salvaguardado por um diálogo hilariante e pela melhor colisão de automóveis em movimento que alguma vez vi (é na primeira perseguição; que perfeito que ficam as várias cenas, com os vários ângulos, mostrando, sem espinhas, a brutal morte que cada uma das raparigas tem). A segunda perseguição também fica particularmente interessante com a participação da dupla de cinema Zoe Bell, a fazer dela própria, numa cena bastante arrojada e a pancada no fim também sabe bem, para quem consegue gostar do estilo de Tarantino. De resto, achei pouco estimulante. Além disso, começa por ser interessante a edição propositadamente deficiente, até com alguns minutos do filme a preto e branco, mas é algo que acaba por ser esquecido, perdendo-se alguma da sua essência.



5. Jackie Brown (1997)

É uma boa estória, com muita acção, diálogos com muita piada (mais uma excelente interpretação que Tarantino arranca a Jackson), e muito interactiva - consegue pôr o espectador a querer prever qual será a próxima manobra, e de quem, ou de que forma é que X vai enganar Y.
Um filme sobre meio milhão de dólares e sete pessoas que entram numa corrida para ficar com eles. Jackie (Pam Grier) é uma hospedeira de voos de pouca categoria, que movimenta o dinheiro (em sentido físico e não electrónico) de Ordell Robbie (Samuel L. Jackson) entre os EUA e o México. Ordell é um traficante de armas que pretende juntar um milhão de dólares no México, altura em que se reformará. Pela altura em que assistimos ao filme, vive com Melanie (Bridget Fonda), uma rapariga que passa o dia a ver televisão e a fumar erva, que lhe faz coisas como atender o telefone (que cena genial, logo no início) e que serve para sexo. A estes dois junta-se Louis (Robert De Niro), acabado de sair da prisão, prestes a começar a trabalhar nuns esquemas de Ordell. A certa altura é-nos introduzido Max Cherry (Robert Forster), fiador de fianças a quem Ordell recorre para tirar Jackie da prisão (uma prisão que apenas durou algumas horas) e a dupla Ray/Mark (Michael Keaton e Michael Bower), dois polícias que escondem o verdadeiro objectivo de deitar abaixo o traficante de armas através da prisão da personagem que dá nome ao filme. A certa altura, é tempo de esquecer o milhão e mandar vir o que há: meio milhão.
Deu para perceber a sopa ? Não adianta falar sobre a trama em si. Digamos que todos eles têm um momento em que, consigo mesmos, se regozijem de alegria por terem conseguido o dinheiro. Mas nunca é bem assim.



4. Reservoir Dogs / Cães Danado
s (1992)
Reservoir é o filme que lança definitivamente Tarantino, depois do primeiro fracasso com My Best Friend's Birthday (uma curta, ainda amadora), com a introdução daqueles que serão os ingredientes principais dos filmes que se seguem, presentes em quase todos: violência, crime (mais ou menos organizado), pop culture, diálogos brilhantes e com grande peso para as estórias, (mais do que a imagem) e narrativa não linear. Por ter sido o primeiro a juntar tudo isto, e apesar de ter sido bem recebido pela crítica da altura, foi considerado por muitos como demasiado chocante. Vários relatos há de personalidades do mundo do cinema que saíram da sala a meio, deixando aquela particular admiração para um certo número de fãs que vai tornar este o primeiro grande filme de culto do realizador.
Seis homens, com um plano para assaltar uma loja de diamantes em bruto, vêem-se em maus lençóis quando um deles perde as estribeiras e desata aos tiros, provocando o fracasso da operação. Os sobreviventes, um a um, vão chegando ao armazém onde haviam combinado encontrar-se no final da missão, acabando por se aperceber que a sua vida está mesmo complicada: dois deles morreram, um deles est
á gravemente ferido, um deles é louco e um deles (este não se sabe quem) colaborou com a polícia para os apanhar.
Uma tensão crua e bicuda, muito bem const
ruída através da localização espacial claustrofóbica e de um conjunto de reacções precipitadas e impulsivas de vários criminosos que, antes de profissionais, são seres humanos que também temem pelo seu "coiro". Interessante twist final, mas que podia ter sido levado mais além.




3. Kill Bill: Volume 1 (2003)
& Kill Bill: Volume 2 (2004)
Em primeiro lugar, não consigo contar estes dois como filmes diferentes. Ainda que o sejam, contam a mesma estória, dividia em dois.
Basicamente, temos uma noiva, Beatrix Kiddo (Uma Thurman, vénia para ela), que foi brutalmente espancada durante um ensaio do seu casamento. O noivo e os amigos morreram. Agora, assistimos a uma estória de vinganç
a bruta e crua, em que ela fará tudo o que for preciso para matar todos os que lhe fizeram mal. (humoristic thing: ela tem um papel quadriculado, num cadernito, onde tem apontados os nomes daqueles que tem de matar, e vai riscando).
O interesse vai sempre subindo a pique, continuando nesse sentido no segundo volume. Ou diria, especialmente no segundo volume. Entram em jogo componentes que muito mais nos envolvem, por tudo fazer mais sentido, por todo o background de Beatrix ter de significar qualquer coisa (aquele click em que me apercebi de que os treinos do murro na madeira lhe iam servir para sair do caixão), pela maior intensidade dramática que acrescenta (a sua filha e o amor que no fundo sente por Bill, o que vai culminar num final perfeito). Apenas duas notas menos boas: penso que Ellen era uma personagem que merecia melhor desenvolvimento (apesar de ter protagonizado uma sequência muito boa, matando Budd com a cobra e ficando sem o segundo olho) e o facto do director, a certa altura, se ter esquecido que a noiva levou um tiro de shotgun no peito.
Provavelmente o filme que melhor retrata o realizador no que toca à comunicação visual*, fez-me também aperceber-me de uma coisa: é preciso gostar do seu humor negro, muitas vezes alcançado através do recurso a situações que ficam no limite entre o extraordinário e o ridículo. Ora, nesta obra, pensei por várias vezes que o que estava a ver era uma ridícula genialidade (tem de se saber entrar no jogo, e tem de se gostar de jogar).
Por mim estava perfeito assim, mas não posso deixar de ficar expectante quanto ao terceiro volume, que aí vem em 2014.
Por último, deixo uma breve nota para o facto de ter cortado com o conceito de crime organizado à volta de uma certa quantia de dinheiro, com várias personagens a disputa-lo, que até agora vínhamos a ver, estancando o vício que poderia ter vindo a dar azo a uma filmografia enjoativa.


*a maior importância dada a este aspecto pode confirmar-se pelo facto de um capítulo do primeiro filme ser em manga style. Delicioso, o pormenor.




2. Inglorious Basterds / Sacanas Sem Lei (2009)

Chamem a polícia. Este filme foi totalmente roubado na última edição da entrega dos prémios da Academia, quando perdeu Melhor Filme e Melhor Argumento Orignal para o The Hurt Locker. Bem, começo condicionado pelo meu certo fanatismo por filmes ligados a esta época e a acontecimentos históricos que a rodeiam. Porém, julgo que um filme em que o Hitler morre queimado numa sala de cinema é qualquer coisa que merece ser visto, logo a priori, pela originalidade. Violência, sangue, humor e um evento final (o final da II Guerra) para o qual vão contribuir dois planos de acção diferentes (o plano dos EUA, levado a cabo por Aldo e os seus soldados; o plano de Shoshana), bastante bem desenvolvidos, com suspense, piada e conflito permanente.
Aqui a vénia não pode deixar de ser distribuída para outra pessoa, que não o guionista/director: Christoph Waltz. A primeira cena do filme é cinema do mais bem feito que há, de uma mestria, de uma subtileza incríveis, com uma extraordinária intensidade dramática, sempre com o seu tom cómico. Para mim, marcou o filme e seria difícil não gostar a partir daí. O que é verdade é que Waltz, como Hans Landa, rouba completamente o espectáculo a Brad Pitt ou qualquer outro - dei por mim quase colado ao ecrã de cada vez que o homem falava, babado com qualidade da forma como expressava as suas impressões, fazia os seus avisos, maravilhado com a forma como manejava três línguas de forma perfeita, sempre expectante de ver algo acontecer.




1. Pulp Fiction (1994)

As pulp magazines eram umas revistas bastante populares nos anos 20, que contavam histórias particularmente caracterizadas pela sua ultra-violência. Portanto, quando no início somos confrontados com a definição de pulp, directamente retirada de um dicionário, não se pense que se refere à "espécie de líquido", ainda que também pudesse ser uma referência ao banho de sangue a que assistimos. Um dos melhores argumentos que já vi. Uma estória de tráfico de influências, traição e lealdade entre manda-chuvas e employees, corrupção ao jogo, coacção, dinheiro, violação, tortura, tiros, muitos tiros. Um autêntico Grand Theft Auto.

Para mim o ponto alto dos diálogos de Tarantino, enquanto importância e brilhantismo. Assistimos a longas conversas, dissertações filosóficas, em que ficamos a conhecer, compreender ou odiar as personagens ou até a assistir às radicais mudanças da sua personalidade ou estilo de vida. Posso dizer que os dois segmentos em que S. L. Jackson cita o 21:17, da Bíblia, da primeira vez para o mal, da segunda para o bem, são dos mais fantásticos pedaços de conversação a que já assisti num filme - e são monólogos. Além de tudo isto, a sequência desordenada dos "capítulos" dá-lhe um subtil toque de mestre e, a mim, de fullfilment, quando começo a sentir a estória toda a ficar bem preenchidinha - revigorante.

Não posso deixar de destacar as excelente prestações de quase todos: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis (apesar de este ter apenas sido ele próprio, quase) Maria de Medeiros.

Thursday, May 27, 2010

O Estado vai ao Cinema


Última actualização do post: 09 de Julho de 2010

Os Filmes dos Presidentes - Aníbal Cavaco Silva
Os Filmes dos Presidentes II - Jorge Sampaio
Os Filmes dos Presidentes III - Mário Soares
Os Filmes dos Presidentes IV - António Ramalho Eanes

O Estado vai ao Cinema. Mesmo. É uma iniciativa da Cinemateca portuguesa, que convidou o actual e os antigos Chefes de Estado de Portugal a escolherem o seu filme preferido, filmes esses que serão transmitidos no local, com a presença de cada um deles. Cavaco Silva escolheu "The Pianist" / "O Pianista", de Roman Polansky, sessão que está a decorrer neste preciso momento (27 de Maio, 21h30min); Jorge Sampaio escolheu "Il Gatopardo" / "O Leopardo", de Luchino Visconti (8/6, 21h30); Mário Soares escolheu "O Milagre Segundo Salomé", de Mário Barroso (23/6, 21h30) e Ramalho Eanes, que não podia deixar escapar um desses brilhantes filmes de guerra que por aí andassem, elegeu "Saving Private Ryan" / "O Resgate do Soldado Ryan" (29/6).

O Presidente da República e os seus antecessores estarão presentes na sessão correspondente ao filme que escolheram.

Pessoalmente, achei uma iniciativa excelente. Ninguém consegue escapar à magia da 7ª arte.

Jafar Panahi libertado


Jafar Panahi, um dos maiores cineastas da nova vaga iraniana, foi hoje libertado ao fim de 3 meses de prisão. Depois de, durante as eleições legislativas, ter manifestado a sua oposição a Ahmadinejad, e já com os seus filmes proibidos no país, acabou por ser detido, por alegados "delitos". É mais do que óbvio que as motivações foram tudo menos jurídicas; antes políticas e artísticas. Para a sua libertação terão contribuído vários artistas de renome internacional, tais como Steven Spielberg, Martin Scorcese, Robert De Niro, Kiarostami e Juliette Binoche (estes dois últimos, ainda em Cannes, festival a que Panahi iria atender como membro do júri).

Uma excelente notícia.

Sunday, May 23, 2010

CANNES'10: Balanço diário e Vencedores

Foi com uma lenda que o maior festival de cinema do mundo abriu as suas portas, a 12 de Maio: Robin Hood. Envolto num mar de expectativa e mediatismo, porém, o regresso da dupla Scott/Crowe tem deixado, pelos olhos em que passa, um rasto psicológico de desilusão. Diz a generalidade da crítica que, não sendo propriamente um flop, grita "HOLLYWOOD!" por todos os lados, acabando por se tornar demasiado comercial.

No segundo dia, houve destaque para O Estranho Caso de Angélica (dir., Manoel de Oliveira), muito bem recebido pelo júri e pela crítica, como uma obra bela, profunda e madura, ainda que com ficções no que tocou à opinião do público. No mesmo dia, grande destaque e grandes aplausos para Tuesday, After Christmas (dir., Radu Muntean), um drama sobre uma vida em família, deixando nova marca de qualidade do cinema romeno, depois da limpeza feita por 4 Meses, 3 Semanas e 2 dias (dir., Cristian Mungu).

A 14 de Maio, tivemos um novo blockbuster - Wall Street II: Money Never Sleeps, a sequela do clássico de Oliver Stone, da década de 80, que traz, pela primeira vez, as promessas Carey Mulligan e Shia LaBeouf a Cannes. Não obstante algumas vozes críticas sobre os vestígios hollywoodescos da produção, as críticas acabaram por ser positivas, com louvor para a influência que o filme pode ter, depois do primeiro ter tido na comunidade financeira, numa época de problemas financeiros.
O cinema romeno volta a dar nas vistas com a sequela de A Morte do Sr. Lararescu, Aurora. Cris Puiu realiza e protagoniza o filme, uma crítica à violência, que se segue à crítica ao funcionamento da administração pública, mais especificamente, da saúde, na Roménia.
Em competição, directamente da Coreia do Sul, sempre em destaque no festival da cidade francesa, tivemos uma empregada doméstica (Jeon Do-yeon, com uma excelente interpretação, diz-se) que se torna amante do chefe de família, acabando por levar à destruição da família - é The Housemaid, de Im Sang-soo, um remake de uma versão de 1960.

A 15 de Maio, estreia You Will Meet a Tall Dark Stranger, de Woody Allen e Another Year, de Mike Leigh. O primeiro, com Naomi Watts, Josh Brolin, Anthony Hopkins e Gemma Jones, mal recebido pela crítica, é uma análise à infidelidade e ao envelhecimento, sempre através de um peculiar toque humorístico. O segundo, com Jim Broadbent e Ruth Sheen, conta a estória de um casal que procura imunizar-se das desgraças que vão acontecendo aos seus próximos, tratando também o tema do envelhecimento, bem como uma reflexão profunda sobre a felicidade. Ao contrário de Allen, a peça de Leigh estava em competição e a crítica reforçou o seu favoritismo.
Ainda destaque para o jovem realizador canadiano, Xavier Dolan, que na passada edição do festival limpou três prémios (J'ai tué ma mere) e desta vez, "já" com 21 anos, volta a surpreender e a conseguir calorosas críticas - Les Amours Imaginaires.

No dia seguinte, tivemos um drama histórico sobre religião, traição e amor, que dividiu as opiniões, La Princese de Montpensier (dir., Bertrand Tavernier) e I Wish I Knew (dir., Zhang Ke Jia, que conta a estória da forma como Shangai se tornou um grande local de troca e comércio.

O sexto dia do festival foi um dos mais aguardados, pelas obras de Iñarritu, Kitano e Godard: Biutiful, Outrage e Film Socialism, respectivamente. Os dois primeiros, parecem representar um corte com o passado: o mexicano volta a trabalhar de forma totalmente independente e desvia-se do registo de Babel, 21 Gramms e Amores Perros; o japonês volta ao drama e ao crime, depois de vaguear por outras bandas. Já a peça do francês foi recebida de forma bastante peculiar: não é possível destruir o ímpeto com que chegou nem erguer um edifício de elogios, já que não é possível compreender bem de que se trata o filme.

No dia 18 chega o favoritíssimo Copie Conforme, um filme iraniano-franco-italiano, dirigido por Abbas Kiarostami, que recebeu excelentes críticas, bem como a actriz principal, Juliet Binoche, que viria a ganhar o prémio. Conta a estória de um cantor de ópera inglês e de uma estrela de cinema, que circulam pela Itália onde se deparam com discussões sobre temas como o amor, as relações, a arte e, enfim, a vida. Em relação a esta participação, foi marcante o momento em que Kiarostami se pronunciou sobre Jafar Panafi, cineasta iraniano preso, por censura, que havia, nesse dia, iniciado greve de fome, em jeito de protesto. Foi com pesar e tristeza, mas especialmente com força, indignação e irreverência que Abbas se manifestou contra uma das muitas violações dos direitos fundamentais da pessoa perpetradas no Irão.
Segue-se aquele que acaba por ser um dos vencedores da noite, Des Hommes et des Dieux, uma estória sobre sete monges franceses torturados em África por extremistas islamitas - um retrato cativante que aborda o tema da religião, que recebeu críticas muito positivas.

No oitavo dia, começamos com Poetry, de Lee Chang-dong. Depois de ser muitíssimo bem recebido em 2009, com Mother, o coreano estreia uma obra sobre uma avó que tenta escrever um poema enquanto luta por contornar as debilidades do envelhecimento e tenta lidar com um neto irresponsável e "mandrião". Também este foi extremamente bem recebido, e acabaria por ganhar um prémio. Além deste, tivemos também a longa, digo, gigante-metragem de 5h30min, dividia em três partes, de Olivier Assayas: Carlos, um filme biográfico sobre um terrorista marxista venezuelano, que coleccionou consideráveis elogios.

A 20 de Maio, quase a terminar, passa o primeiro e único filme americano: Fair Game, de Doug Liman. Mais uma estória com fortes conotações políticas, também no género biográfico, ficamos a conhecer uma agente da CIA (Naomi Watts), encarregue de uma missão relacionada com armas de destruição maciça no Iraque, que acaba por ser "lixada" pela própria Casa Branca, para desacreditar o seu marido (Sean Penn), por um artigo seu, publicado no jornal, numa grande conspiração que envolve a administração de Bush. Primeiro e único foi também La Nostra Vitta, por Itália, de Daniele Luchetti, mal recebido pela crítica mas que acabou por valer um prémio ao realizador, na pele de actor, em ex aequo com Javier Bardem (em Biutiful - era ele o grande favorito, já agora).

A um dia do fim do festival, em competição, aparece Hors-la-loi, de Rachid Bouchareb. Indigénes, do mesmo director, nomeado para a palma e para os Óscares, é a estória que dá origem a esta. Três soldados argelinos combateram pela França, na II Guerra Mundial e, agora, em 2010, são três irmãos que residem em França e lutam, como terroristas, contra uma sociedade que desrespeita os direitos e liberdades das minorias argelinas - uma nota para o facto dos três actores serem os mesmos, bem como os nomes das personagens (Jamel Debbouze, como Säid; Roschdy Zem, como Messaoud; Sami Bouajila, como Abdelkader). Toca no ponto sensível para os anfitriãos, tendo gerado, no mínimo, alguma controvérsia. A recepção da crítica acabou por ser muito boa, recebendo elogios como "histórico" e chegando a ser classificado melhor do que o que o precedeu.
Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives (dir., Apichatpong Weerasethakul), é o comprido título daquele que viria a ser o grande vencedor do festival, do já premiado tailandês (que foi até júri do festival, 2009), aclamado no circuito independente, e que desta vez conta a estória do homem moribundo que contacta com a mulher e o filho, já falecidos, que lhe aparecem sob a forma de animais. Uma reflexão profunda sobre a reencarnação, um tema caro à cultura de onde o director emerge.
Houve ainda lugar para o terceiro filme coreano - the last, but no the least, diga-se (vem a ganhar, nessa noite, o prémio Un Certain Regard). Hahaha (digam lá que não está "um título divertido") é de Hong Sang-soo e, dramatizando e "comediando" revela as experiências de dois amigos (um realizador de cinema e um crítico de cinema), que visitaram a mesma cidade, estiveram nos mesmos sítios, falaram com as mesmas pessoas, mas nunca se encontraram um ao outro.

Foram estes, em geral, os balanços feitos pela crítica, que não conseguiu prever alguns vencedores, constantes da lista que se segue:


Competição Oficial

Palme d’Or (Longa-Metragem)

“Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives” de Apichatpong Weerasethakul (Tailândia)

Grand Prix
“Des Hommes Et Des Dieux” de Xavier Beauvois (França)

Prix de la Mise en Scene - Melhor Realizador
Mathieu Amalric por “Tournée” (França)

Prix du Scenario – Melhor Argumento
“Poetry” de Lee Chang-Dong (Coreia do Sul)

Camera d’Or – Melhor Primeiro Filme
“Año Bisiesto” de Michael Rowe

Prix du Jury – Prémio do Júri
“A Screaming Man” de Mahamat-Saleh Haroun (França)

Melhor Interpretação Feminina
Juliette Binoche por “Certified Copy”

Melhor Interpretação Masculina
Javier Bardem por “Biutiful” e Elio Germano por “La Nostra Vita”

Palme d’Or (Curta-Metragem)
“Chienne d’Histoire” de Serge Avedikian

Competição Un Certain Regard

Prize of Un Certain Regard
“Ha Ha Ha” de Hong Sangsoo

Jury Prize
“Octubre” de Daniel Vega & Diego Veja

Special Prize
Adela Sanzhez, Eva Bianco e Victoria Rapos por “The Lips”

Queer Palm Award
“Kaboom” de Gregg Araki

Quinzena dos Realizadores

Art Cinema Award
“Pieds nus sur les limaces” de Fabienne Berthaud (França)

Prix SACD/SACD Prize
“Illégal” de Olivier Masset-Depasse (França)

Label Europa Cinemas
“Le Quattro Volte” de Michelangelo Frammartino (Italia)

PRIX SFR
“Cautare” de Ionut Piturescu (Roménia) e “Mary Last Seen” de Sean Durkin (EUA)

Semana Dos Críticos

Grand Prix Semaine de la Critique
“Armadillo” de Janus Metz

SACD Prize
“Bi, dung so!” de Phan Dang Di

ACID/CCAS Support
“Bi, dung so!” de Phan Dang Di

OFAJ (Very) Young Critic Award
“Sound of Noise” de Ola Simonsson & Johannes Stjaerne Nilsson

Canal+ Award - Melhor Curta-Metragem
“Berik” de Daniel Joseph Borgman

Kodak Discovery Award – Melhor Curta-Metragem
“Deeper Than Yesterday” de Ariel Kleiman

Prémios FIPRESCI

Cannes Competition

“Tournee” de Mathieu Amalric (França)

Un Certain Regard
“Pal Adrienn,” de Agnes Kocsis (Hungria)

Director’s Fortnight/Critics’ Week
“Todos vos sodes capitans” de Olivier Laxe (Espanha)

Friday, May 21, 2010

Alice (2005)

Agora que julgo estar perto de poder ir ver "Como Desenhar Um Círculo Perfeito", de Marco Martins, parece-me bem fazer uma pequena viagem ao seu outro muito reconhecido trabalho - nacional e internacionalmente.

Alice, a filha de Mário (Nuno Lopes), desapareceu há quase 200 dias e o desespero e a quase-depressão dos pais assombram-nos todos os dias da sua vida. Mário, ao contrário da polícia, não descansa: todos os dias se levanta exactamente à mesma hora que no dia em que Alice desapareceu, come exactamente a mesma coisa, faz exactamente o mesmo percurso, vê exactamente as mesmas pessoas, faz exactamente as mesmas coisas (o simbolismo do cão de papel, que compra todos os dias a um mendigo, sendo a mesa cheia deles um dramático símbolo da inevitável passagem do tempo).

Por toda a cidade de Lisboa, em casa de vários conhecidos, monta câmaras de filmar, cujas cassetes muda todos os dias, para à noite assistir à movimentação de todos aqueles sítios, não vá a sua filha passar pelo perscrutador olho das objectivas. Toda esta premissa é muito interessante e para isso vêm a contribuir 1) os dois actores principais, Nuno Lopes e Beatriz Batarda (a mãe, Luísa), com interpretações de grande nível; 2) uma narrativa construída essencialmente em expressões faciais e corporais, em reacções, em imagens, em pormenores, em cores (o filme é, todo ele, em tons de azul, preto, cinzento e branco, o que reforça a ideia da tristeza e solidão) - muito intuitivo, muito visual.

É suposto ser uma estória triste, um retrato de solidão, de loucura, de desespero. Consegue, perfeitamente. O grande buraco no argumento poderia ser a questão que acho inevitável colocar quando percebemos as intenções de Mário: "porque raio é que a miúda haveria de estar em Lisboa ?". No entanto, interpreto isso como sendo nada mais do que um sinal dessa loucura e obsessão de que trata o filme.

O final deixa-nos uma mensagem que nos cai como uma bomba na consciência. Parece mesmo que, naqueles segundos finais, Mário passa pela filha na rua, sem se aperceber. E naquela multidão de gente, com que começa e acaba o filme (e que tantas vezes surge, como as filmagens no metro), ao longo de quase um ano, quantas outras vezes terá Alice passado despercebida nas suas barbas ?

Incrivelmente introspectivo.

Thursday, May 20, 2010

Megan Fox, Blake Lively e Jemaine Clement


MEGAN FOX: Despedida (diz que se demitiu) do elenco de Transformers III.

BLAKE LIVELY: Enquanto protagoniza com classe a série norte-americana Gossip Girl (Serena van der Woodsen), a actriz será uma das personagens principais no filme Green Lantern (2011), mais uma adaptação de BD, por parte de Martin Campbell (que vem do flop que foi o Edge of Darkness) e está a filmar e é também uma das protagonistas da mais recente obra de Ben Afflec, The Town (2010).

JEMAINE CLEMENT: O próximo vilão de MIB III.

Um dos piores posters de sempre

Existem inúmeras classificações recheadas de grandes posters - "não podemos morrer sem os ver" (por exemplo, os melhores cartazes de 2009)

Mas também existe o reverso da medalha. Absolutamente deprimente, a falta de originalidade do poster do filme Eclipse (da saga Twilight), ofusca (ou eclipsa) o pior trabalho de um desastrado aluno de E.V.T.

EDIT: A pedido de algumas famílias, justifico a minha opinião:

1. Através de um termo de comparação (com outros posters, como, por exemplo, o link que deixei sobre os melhores de 2009). Está de uma originalidade desastrosa. Tem um fundo e três renders, as três personagens principais. Só isto. É impossível retirar daqui qualquer interpretação sobre o que é o filme, qualquer sentido, que é algo que considero bastante importante. A única coisa que fazem é desenhar um fundo negro terrorífico e espetar com as imagens dos três gajos que falam mais, em poses compenetradas. Tem algum jeito ? Para mim não.

2. As próprias poses estão péssimas - nota-se que não houve qualquer pensamento sobre este poster, que não há qualquer ideia directora por trás dele. Arrisco-me a dizer que atiraram para aqui três fotos de forma quase aleatória. Não há harmonia na colocação das imagens.

3. Os renders (recortes de uma imagem em particular, para se colocar sobre um fundo) dos actores estão colocados de forma incrivelmente amadora - nota-se perfeitamente que há uma sobreposição de uns aos outros, é claro que houve um "cut, paste". Again, não há harmonia.

4. Factor empírico. Soa mesmo mal à vista.

Tuesday, May 18, 2010

Os Nazis construíram uma base lunar

É verdade. Em 1945 os Nazis construíram uma base na lua e pretendem voltar em 2018.

Pois.

É esta a genial premissa no novo "Iron Sky", filme independente finlandês, de Timo Vuerensola, que teve a sorte de começar a ser comentado na internet, dada a sua originalidade (para já, tiro o chapéu).

Vejam aqui as imagens que me deixaram a ansiar por mais.

Monday, May 17, 2010

2001: Space Odyssey / 2001: Odisseia no Espaço (1968)

Não tenho dúvidas de que estou perante um dos títulos não-intelectuais (como, e recorrendo a um exemplo do mesmo autor, "Clockwork Orange") mais bem conseguidos que já li. "Odisseia". É a síntese perfeita para esta tão diferente experiência - é de uma pura deambulação anestética, um sentimento de completo envolvimento na esfera espacio-temporal da estória.

A chave para isto é o facto de estarmos perante uma obra essencialmente visual e musical, com pouquíssimos diálogos - os primeiros e os últimos vinte minutos do filme (num total de quarenta, aprox.) passam-se sem qualquer fala. Estamos a falar de um filme idealizado em 1965, quatro anos antes do homem chegar realmente à lua (21 de Julho de 1969), em que vemos naves de vários tipos, bases espaciais, fatos de astronautas, a interacção do homem e um espaço de uma perfeição admirável (não sou eu ninguém para avaliar isso mas 1) Kubrick convocou peritos para o aconselharem nos mais ínfimos pormenores; 2) é tecnologia que eu aceitaria perfeitamente ver num filme actual, sobre o espaço). Estamos a falar da existência de um computador (HAL) que tem um nível de inteligência equiparável ao homem e da inclusão daquilo a que hoje chamaríamos uma conversa por webcam (apesar de aqui ser através de um telefone). Estamos a falar de efeitos de cores e luz belíssimos aquando da chegada a Júpiter. Eu sei que o homem foi um grande visionário, mas não consigo deixar de ficar atordoado de cada vez que penso.


Falei em música, também: são duas horas do melhor que há de música clássica. Bom, se me dissessem que havia um filme com naves e afins, incessantemente acompanhada por Beethoven ou Mozart, talvez me risse. Pobre tolo. Inspirou-se nas valsas alemãs para, ao olhar para a nave mãe da sua estória, que tem uma estrutura em forma de circunferência e em permanente rotação, nos injectar com a famosa melodia de Johann Strauss II, O Danúbio Azul.

A harmonia entre a rotação das naves, os planetas redondos, as naves redondas, os astronautas às voltas, sempre que saem da nave, o design futurista de toques igualmente arredondados, a lentidão com que grande parte do filme se passa (efeito da gravidade) e esta fabulosa banda sonora transporta-nos para um certo estado de êxtase, se estivermos a conseguir apreciar tudo.

O argumento, a estória em si, também está muito interessante. Pode ser dividido em três capítulos:


1. Pré-histó
ria.
4 milhões de anos antes de 2001, em África. Sol, grandes pradarias. Vários animais. Duas tribos de macacos andam por ali, a fazer a sua vida - passamos algum tempo a assistir a isto. Numa manhã, um monolito negro caiu na Terra, para espanto e confusão dos primatas.
A partir do momento em que estão perante a sua presença, ter-se-à (é a interpretação que faço, e penso que é a correcta) desencadeado o processo de evolução, de onde surge o homem - depois do acontecimento, um dos macacos descobre as potencialidades que um osso pode ter (nomeadamente como arma). Logo de seguida, vemos os macacos a comer carne (já caçaram) e uma disputa sobre uma pequena "poça" de água que outrora partilhavam.


2.Viagem à Lua (2001)
Numa altura em que já nos podemos maravilhar com a criatividade futurista de Kubrick, Dr. Heywood Floyd (William Sylvester) chega a uma nave com o objectivo de dirigir uma expedição à lua onde havia sido encontrado um monolito negro, exactamente igual ao que caíra na Terra há 4 milhões de anos atrás (nota: a audiência está a par desse facto, não as personagens). Como é que esta sequência nos ajuda a perceber o poder que a pedra tem para gerar vida e despoletar a evolução ? Pelo facto das análises feitas ao bloco se puder afirmar que este havia sido enterrado deliberadamente. Uma informação que não se desenvolve e que, simplesmente, nos deixa divagar sobre que tipo de vida extra-terrestre existiu, porquê, como, e por aí adiante.

3. Viagem a Júpiter (2002)
O único vestígio que tinha sido retirado do monolito lunar que podia levar à descoberta da sua origem eram traços de uma comunicação radiofónica para ... Júpiter. A missão conta com o Dr. Dave Bowman (Keir Dullea), Dr. Frank Poole (Gary Lockwood) e três outros cientistas que estariam em modo de hibernação até à chegada ao destino. Passando por cima do conflito que surge no decorrer da viagem, Bowman acaba por ser o único a chegar ao distante planeta, onde encontra um monolito semelhante e um cenário completamente inacreditável, surrealista, deparando-se com sucessivas visões da sua pessoa em idade cada vez mais avançada (ele próprio, ao atravessar o "fluxo de energia" para entrar no planeta, envelhece alguns anos). De repente, estamos perante um Bowman velhíssimo e doente, deitado numa cama. É mesmo ele.
Um novo monolito negro aproxima-se e ele toca-o. A imagem seguinte, a última, é uma bola de luz verde, envolvendo algo que concluo ser um "bebé ET" a dirigir-se para a Terra.

Saturday, May 15, 2010

Kick Ass (2010)

"Kick Ass", que estreou em Portugal a 22 de Abril, é o mais recente projecto de Matthew Vaughn (na direcção, guião e produção), Jane Goldman (no guião e produção) e tantos outros, mais ou menos conhecidos (como Brad Pitt, na produção).

As críticas, em geral, não são animadoras:

- é impossível gostar disto se não formos fãs da banda desenhada [em que se baseia o filme], nomeadamente porque não percebemos muitas das piadas;

- é um filme pretensioso que, ao auto-intitular-se como 'realista', rapidamente se torna numa 'fantasia' ;

- é de um irrealismo quase ridículo a partir do momento da entrada em cena da Hit Girl;

- a voice off com piadas irritantes.

Não podia discordar mais.

"With no power comes no responsibility. Except that wasn't true." - É esta a estória do filme.

A primeiríssima cena do filme está muito engraçada. A meu ver, lança logo um aviso quanto à forma, ou quanto a uma das formas, com que temos de encarar os 120 minutos que se seguem: sempre com a noção de que é suposto sentir-se um certo rasgo de comicidade, reconhecer um certo tom jocoso em cada cena. Trata-se de um sujeito, com um fato de super-herói e umas asas, a cair a pique de um arranha céus, qual Ícaro, perante uma multidão extasiada e a aplaudir, acabando por se espetar de cabeça em cima de um carro. Tudo isto em breves segundos, enquanto a tal voz off anuncia a premissa principal: porque é que nunca ninguém se lembrou de se tornar um super-herói que, ainda que sem poderes, combatesse o crime ? Porque é que não podem haver heróis sem poderes ?

Dave Lizewski (Aaron Johnson) é um rapaz de 17 anos que se interroga sobre isso. A sua vida é semelhante à de muitos super-heróis, antes de o serem (buzina a tocar *Peter Parker*, repetidamente). É um geek das bandas desenhadas (as piadas sobre o Batman, Homem-Aranha e Super-Homem são recorrentes, durante o filme -primeira crítica relativamente desmontada, já que nunca li bandas desenhadas dos senhores), com óculos, incrivelmente excitado com qualquer rapariga (seios são a sua principal fraqueza) e apenas se dá com dois rapazes iguais a ele. O seu único poder é "ser invisível para as miúdas". É incrivelmente indiferente para a sociedade.

A tudo isto se junta a inalterabilidade das suas rotinas (a sua mãe morre à mesa do pequeno almoço, com um aneurisma, para sua quase indiferença, numa cena fantástica em que o cenário em nada se modifica; apenas a mãe desvanece e os cereais continuam os mesmos) e a passividade das pessoas no combate ao crime (ele os amigos são assaltados várias vezes pelos mesmos rufias, sendo que na cena que vemos, há alguém a observar da janela, impotente).

Eis que Dave se decide a por fim a tudo isto e encomenda o seu fato verde e amarelo, a sua máscara, cria a sua página no myspace (afinal, é um herói das novas gerações) e se intitula de "Kick Ass". As suas primeiras intervenções não correm bem e acaba por ser brutalmente espancado, acabando no hospital.

Deixo aqui mais uma nota: ao tom cómico que evidenciei à bocado, entra aqui a faceta ultra-violence do filme. É pancada a sério.

Por esta altura, Katie Deuxma (Lyndsy Fonseca), a rapariga dos sonhos de Dave, assim como o resto da escola, julga que ele é gay (teoricamente, havia sido encontrado espancado e sem roupas, o que não foi verdade) - se antes não lhe ligava, agora, como todas as raparigas da nossa realidade, "i've alwas wanted a friend like you.". Os seus amigos convencem-no a manter o disfarce, para se aproximar dela. A sua vida começava a mudar.

Porém, o grande turn é quando, em Kick-Ass mode, ajuda um homem que estava a ser espancado por outros três - uma luta intensa, duradoura e bem filmada (como disse, pancada a sério). Alguns "espectadores" aplaudiram, deliciados, fez manchete dos jornais, apareceu nos telejornais e no youtube e alcançou os 16.000 amigos no myspace (contra uns míseros 38 da página de Dave, ele próprio).

Mas vejamos: trata-se de um tipo desajeitado, que não sabe lutar, sem experiência em nada de nada. Acaba por se meter em sarilhos e ser salvo pelo Big Daddy (Nicholas Cage) e pela Hit Girl (Chloe Grace Moretz). Quem são estes ? Big Daddy é um sujeito com um fato do Batman que esteve preso por causa do gang de Frank D'Amico (Mark Strong), algo que a sua mulher não aguentou, acabando por morrer, mas sem antes deixar uma filha. Hit girl é ... a filha. Com um esconderijo repleto de armas de todo e qualquer tipo, Damon Macready treinou arduamente a filha, Mindy Macready (assistimos a uma das sessões, chamemos-lhe "resistência a tiros") tornando-a numa 12 year old cold-hearted invincible ninja bitch.

Nova nota. A rapariga tem 12 anos e manuseia com mestria e precisão qualquer tipo de faca, arma de fogo e afins. É ela que vai espetar, rasgar, cortar, mutilar, fuzilar, enfim, destruir e matar tudo e todos a partir de agora. Revejam as críticas de que falei no início. Parece-me que uma visão como as tais só é possível se admitirmos que há uma verdadeira pretensão de realismo no filme, que, a meu ver, não há - o tal tom jocoso que devemos sempre levar em conta, torna esse realismo num pseudo-realismo, numa ironia saborosa.

É por isso que, daqui para a frente, experimentamos uma estranha mistura entre um humor-parvo subtil (cá vai mais um exemplo, vejam a segunda cena de "sexo" entre Dave e Kate, ou a frase que ela diz antes de o irem fazer, para ... as traseiras de um café) e uma violência explícita e surrealista. A mim caiu-me bem. Entreteve-me e fez-me rir. Mas é claro que chovem comentários e piadas com comparações em relação ao Jackie Chan.

A certa altura acaba por entrar em cena um outro super-herói: Red Mist (Christopher Mintz-Plasse). Trata-se de Chris D'Amico, filho do vilão Frank D'Amico, que tem como função atrair, primeiro Kick Ass e, depois, Big Daddy e Hit Girl, para as garras do pai, já que eram eles os responsáveis pelas mortes de dezenas dos seus homens. Inicialmente indeciso entre o bem e o mal, acaba por, nos segundo finais, se converter ao mal, lançando as sementes para a sequela (que chega em 2012), provavelmente adoptando uma postura de vingança da morte do pai.

Morte do pai ? Sim, é verdade. No climax, assistimos a uma autêntica carnificina essencialmente perpetrada pela pequena rapariga (vingando a morte de Damon, que acontece umas cenas antes). Porém, a certa altura, também para ela as coisas correm mal. É quando surge Kick Ass, finalmente a fazer alguma coisa de jeito, no seu jet-pack (quem já jogou GTA ?), acabando por utilizar a tão requisitada bazuca, num só homem.

O final é feliz, mas não o será por muito tempo. Dave parece até estar a adivinhar o que lhe espera num futuro próximo - "Kick Ass was gone. But not forgotten.".

Em suma: 1) gostei bastante; 2) acho que há uma inteligente intencionalidade em fazer o filme balançar entre o cómico-estúpido e a violência bruta; 3) acho que a Hit Girl é mesmo para ser encarado nessa perspectiva (ponto 2), como algo incrivelmente irrealista e impossível; 4) sinto dificuldades em ver Mintz-Plasse fora do McLovin; 5) boas músicas e excelente ligação com as imagens 6) grande louvor para Chloe, também grande responsável por achar que o papel da personagem resultou tão bem (grande promessa do cinema), outro para Aaron.

"Porque é que eles não se movem ?" *

Já é tradição: investido da sua imagem de 30 anos mais novo, Manoel de Oliveira é habitual presença no maior festival de cinema do mundo. Hoje, terceiro dia da 63ª edição, o emblemático e reconhecido realizador português viu estrear o seu último filme (o mais recente e que, ao mesmo tempo, assinala o final da sua carreira): "O estranho caso de Angélica".

Foi com boa disposição e vitalidade que, numa conferência, falou sobre a obra, ora em português, ora em francês. A premissa principal, que o assolou em meados da década de 40, já depois da II Guerra Mundial, é o relato da vida de um fotógrafo, Isaac, que fotografa a falecida Angélica, acontecimento que acaba por lhe assombrar a vida, quando a rapariga ganha vida no visor da sua câmara e despoleta uma grande paixão.

"A morte é uma condição. Desde que nascemos só temos uma certeza: a morte." (Manoel de Oliveira)

* A frase é de George Méliés, cineasta de tempos já há muito idos, num momento de inspiradora indignação face ao aspecto imóvel de uma imagem de uma fotografia. O próprio realizador português admite ter buscado inspiração neste bela síntese da incessante (e muitas vezes inconsciente) busca do homem pela fantasia.

Wednesday, May 12, 2010

Christoph Waltz no papel de um vilão clássico


Christoph Waltz, o mais recente oscarizado na categoria de Melhor Actor Secundário, depois de um brilhante papel em Inglorious Basterds, que catapultou Hans Landa para a lista dos maiores vilões de cinema de sempre, e já depois de voltar a ser" o mau" em The Green Hornet, vai interpretar a personagem de um clássico vilão, que surge em 1844, em França: o Cardeal Richelieu.

A nova adaptação da obra literária "Os três Mosqueteiros" (já protagonizada em 1903, 1948, 1973, 1993 e, de certa forma, em 1998), desta vez em 3D, passa pela direcção de Paul W. S. Andersson e conta, para o resto do elenco, com Ray Stevenson (Porthos), Luke Evans (Athos), Logan Lerman (D'Artagnan), Matthey Macfadyen (Aramis), Milla Jokovic (Milady), Mads Mikelssen (Rochefort) e, eventualmente, Orlando Bloom (Duque de Buckingham).

Produtor português com o próximo filme de Colin Farrel e Marion Cotilard

Paulo Branco é um distinguido produtor de cinema que começou no curso de Eng. Química, no Instituto Superior Técnico, sem acabar o curso, acabando por se mudar para Paris, onde iniciou os primeiros contactos com o mundo de cinema.

Em 1999 foi membro do Júri no Festival de Berlim, mesmo ano em que recebeu uma distinção do Parlamento Europeu de "Melhor Produtor da Europa". Em 2005 foi membro do Júri do Festival de Veneza e foi condecorado com a medalha Oficial da Ordem das Artes e das Letras da República Francesa. É, além disso, o produtor que mais filmes apresentou nos dois referidos festivais, acrescendo para a conta o Festival de Locarno e o Festival de Cannes.

Actualmente, trabalha em Portugal e em França e conta com mais de 200 filmes produzidos (nos últimos dez anos, produziu cerca de 50 filmes portugueses).

Feita esta introdução, cabe falar do assunto que motiva esta mensagem: Paulo Branco vai produzir "Cosmopolis", um filme que vai ser dirigido por David Cronenberg e protagonizado por Colin Farrel e pela oscarizada Marion Cotilard. O filme é baseado na obra de Don DeLillo e conta a estória de um multimilionário de 28 anos que decide atravessar Manathan de limousine, para ir cortar o cabelo, o que acaba por o levar à falência. Soa a qualquer coisa de interessante.

Tuesday, May 11, 2010

CANNES FILM FESTIVAL'10


Começa hoje (já passa da meia noite) o maior festival de cinema do mundo, que decorrerá durante 11 dias, até 23 de Maio.

Juliet Binoche no poster, Tim Burton na presidência do Júri e Russel Crowe com Cate Blanchet na abertura (em Robin Hood). Let the rumble begin !

Valentine's Day / O Dia dos Namorados (2010)


Parece-me importante ter sempre, como recurso, um filme para ver numa altura em que não nos apetece pensar absolutamente nada. Não estendo estas considerações ao intelectualismo com que nos brinda Lars Von Trier, não vou tão longe. Falo daqueles momentos em que nem nos apetece fazer associações e descobertas mirabolantes, num thriller qualquer, de que nos orgulhamos nos dias seguintes. Este filme é paradigmático para esses momentos.
O recheio do bolo é especializado na categoria "le romance": Ashton Kutcher (para mim, como já dei a entender há uns tempos, o pai deles todos), Jessica Alba, Julia Roberts (e para este trouxe a irmã, Emma Roberts), os Gray's Patrick Dempsey e Eric Dane (Dr. Shepherd e Dr. Sloan, respectivamente), Taylor Lautner (Jacob, da saga Twilight), entre outros.

A história: super previsível (claro que não esperava que a personagem de Julia Roberts fosse ter com o filho, mas era óbvio que não ia ter com um homem; única surpresa foi a homossexualidade do seu companheiro de avião) e muito pouco aliciante para um dia normal. Namora, não namora; casa, não casa; ama, não ama; destino, não destino; felizes para sempre. Bla, bla bla. Mas é a tal coisa: parece-me adequado para ir ver com a namorada, do tal dia.

É um filme que não vou esquecer (nem ia, já que vai passar a dar na TVI várias vezes por ano): é, para mim, o grande bastião dos "filmes de domingo à tarde".

Monday, May 10, 2010

EM PRODUÇÃO: Men in Black III

Em 1997, a partir de uma banda desenhada pouco conhecida (de Lowell Cunningham), surge um inesperado sucesso de bilheteira com o diferente e divertido: "Men in Black". O que dizer de uma polícia altamente avançada, equipada com tudo o que se pode e não pode imaginar no que toca a apetrechos tecnológicos, que reserva para si a (banal) tarefa de lidar com os conflitos que envolvem extra-terrestres - muito especialmente se se tratarem de extra-terrestres terroristas ? Relativamente surreal. K (Tommy Lee Jones), um dos agentes da organização top-secret, recruta James Edwards (Will Smith), agente da N.Y.P.D, que passa a ser J, e juntos (agora sim, nos seus fatos e óculos escuros, "os homens de negro") têm de impedir uma catástrofe intergaláctica.

Em 2002, um grande inimigo nosso de outro planeta resolveu fazer o obséquio de nova visita. J, sentado à secretária, está por si só e consigo mesmo, apenas. Só tem uma coisa a fazer: procurar K e restaurar-lhe a memória de agente MIB, depois de esta lhe ter sido apagada, processo obrigatório antes da reforma de um agente.

Bem, e agora ? Eis que em 2012, pela terceira vez com Barry Sonnenfeld no volante da nave da direcção do projecto, com Etan Coen no guião (não confundir com Ethan Coen) e com Smith, Lee Jones e ainda Josh Brolin (no papel de young K), os MIB vão dar umas voltas no tempo, indo até 1969, aquando dos primeiros contactos de K com os extra-terrestres.

No fundo, vai ser quase como que uma prequela, já que anda agora na moda. Nunca vai ser bem aceite pela crítica, digo eu, e corre os inevitáveis riscos que correm e cumprem quase sempre todas as continuações não planeadas de sucessos de bilheteira. Mas acredito que me entretenha. Lá estarei.

Sunday, May 9, 2010

The Silence of the Lambs (1991)

É o segundo filme de Jonathan Demme a entrar para a conta dos meus favoritos (o outro é "Philadelphia"). Sem cerimónia: mais um clássico.

Clarice Starling (Jodie Foster) é uma promissora estudante na Academia do FBI, recrutada como último recurso para se bater numa luta psicológica com Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), um serial killer encarcerado a sete chaves, por forma a desvendar a identidade de outro serial killer (Buffalo Bill, por Ted Levine). O brilhante psiquiatra, preso por canibalismo, acaba por engraçar com Clarice, estabelecendo uma peculiar relação de confiança (alicerçada no famoso quid pro quo - "I tell you things, you tell me things") e, por entre uma miríade de fantásticos e profundos diálogos, revelações extremamente subtis mas totalmente verosímeis vão surgindo, num delicioso acumular de tensão, que culmina no confronto final entre a agente e o criminoso, às escuras. Um final aberto, que deixava antever um segundo filme, que acabou por chegar 10 anos depois (contando com uma prequela, em 2002, "Red Dragon", e uma prequela da prequela em 2007, "Hannibal Rising"): "Hannibal".

Um bom thriller. O "excelente" não o retiro tanto da estória, mas sim dos diálogos, de toda a interacção e tensão psicológica que envolve os personagens principais e a construção dos mesmos (com grande contributo das prestações de Hopkins e Foster).

Uma vénia para o título, o qual se acaba por inferir de mais um (dois, aliás) brilhante momento em que Lecter perscruta a vida pessoal da jovem Starling.

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Friday, May 7, 2010

Harwood vai escrever guião sobre Martin Luther King Jr.


Ronald Harwood, vencedor do Óscar da Academia para melhor guião adaptado com The Pianist, foi contratado pela DreamWorks Studios para escrever uma história, em jeito de biografia, sobre o bastião dos direitos civis dos negros: Martin Luther King, Jr. O aclamado guionista já escreveu tantos outros filmes que passaram em Portugal, como Oliver Twist, Love in the time of Cholera, The Diving Bell and the Butterfly (valheu-lhe nomeação para Óscar) ou Australia.

Tuesday, May 4, 2010

Life During Wartime / A Vida em Tempo de Guerra (2009)

Mais um que vi no IndieLisboa'10, mesmo para terminar. E posso dizer que fiquei contente. Não foi brilhante, mas saí do cinema bastante bem disposto. Não conhecia nada do director, Todd Solondz, mas tenho tendência a gostar de melodramas cómicos, estilo que o caracteriza. Esta peça não fugiu à qualificação - e ainda bem, diga-se, já que é isso que salva o filme.

Temos duas personagens a partir das quais se desenrola a estória: as irmãs Trish (Allison Janney) e Joy (Shilrey Henderson - qualquer pessoa que tenha visto os filmes de Harry Potter identifica a rapariga, já que aquela voz não engana absolutamente ninguém: Murta-Queixosa). A primeira vive um novo amor com um homem mais velho, a perfeita figura paternal para os seus filhos, depois de ver o marido condenado à prisão por pedofilia (os dois filhos mais novos pensam que morreu; o universitário sabe de tudo, já que ele próprio terá sido abusado). A segunda vem ter com a primeira, deixando, em New Jersey, o seu trabalho numa penitenciária e os fantasmas do seu passado (entenda-se, um fantasma a sério, um homem problemático com quem havia tido uma relação e um fantasma metafórico, um homem problemático, vivo, com quem tinha uma relação que estava em "stand by", além de todas as suas inseguranças e dramas internos).

Às tantas, o marido de Trish é libertado e, paralelamente, o filho pré-adolescente (Dylan Snyder) descobre a verdade sobre o pai, entrando numa espiral paranóica quando à pedofilia e ao perdão que merecem os pedófilos - é esta sua visão assustada da patologia que arruína a relação da mãe com Harvey (Michael Lerner) e a possibilidade de voltarem a ser uma família "normal" (adjectivo a que Trish recorre por diversas vezes - ela só queria uma vida normal). Assistimos também à decadência irreversível do ex-condenado, Bill (Ciaran Hinds), que acaba por pedir perdão ao filho, antes de "morrer numa sarjeta".

Ao mesmo tempo, os fantasmas de Joy voltam a assombra-la, levando-a à loucura, que, por sua vez, a leva a tentar agarrar-se à única coisa que lhe resta: o homem que deixou em "stand by". Este acabava de suicidar-se.

Um filme que segue uma linha um pouco diferente do normal: em vez de partir da desgraça para a esperança, parte da esperança para a desgraça. Uma verdadeira espiral descendente.

A premissa é interessante. Porém, achei a estrutura do argumento um pouco desconexa e com algumas cenas a soarem a aleatórias (quer o seu fim, para a estória, quer a sua inserção no todo, como conjunto coerente - não obstante, ganhou melhor argumento em Veneza). Houve coisas mal explicadas, além disso - compensaram os diálogos, que estão qualquer coisa. Muito, muito engraçados. Todo o cinema soltou várias gargalhadas. Foi, de facto, o ponto forte. Quanto aos actores, tenho pouco a apontar. Ninguém esteve particularmente mal, o único que se destacou foi o rapaz, Dylan. A realização deixou um pouco a desejar, em alguns pontos: houve duas ou três cenas cortadas de forma brusquíssima e, na "introdução" da casa da família, na parte do belo jardim, era sempre a mesma filmagem.

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Sunday, May 2, 2010

INDIELISBOA'10: prémios e algumas críticas

Está a chegar ao fim o festival de cinema independente da cidade de Lisboa. Os prémios foram atribuídos na última noite e, do que tive a oportunidade de ver (o que não foi muito, infelizmente), o balanço é positivo.

Curtas das quais gostei particularmente: I Love Luci, Ella, Tigre, Dreams From the Woods, La Harde.

Au Voleur (dir., Sarah Petit, França, 96')
Bruno (Guillaume Depardieu) é um ladrão amador que se envolve numa relação com uma professora, Isabelle (Florence Loiret Caille), ligeiramente frustrada com o rumo que a sua vida e a sua carreira estão a levar (a mediocridade da "Substituta"). A certa altura, a polícia corre atrás de Bruno e o casal foge para uma floresta, onde, passando por sítios muito bonitos, vivem umas férias quase perfeitas - têm até comida, que roubaram de uma casa nos arredores. A dificuldade surge perto do final, quando se atrevem a ir a uma festa popular e Bruno é reconhecido por um polícia, iniciando-se um tiroteio que acaba com a morte do segundo e com os ferimentos do primeiro. No final, Isabelle consegue salvar o seu homem, deixando-o estendido no chão enquanto chega a ambulância e foge, a pé, a andar. Está engraçado.

The Robber (dir., Benjamin Heisenberg, Alemanha/Áustria, 97')
A história de Johann Retenberger (Andrea Lust) que, acabado de sair da prisão onde se entregou a uma intensiva preparação física, se entrega ao roube e à maratona. Ao mesmo tempo que assalta bancos, a certa altura apenas por adrenalina, bate o record nacional da corrida dos 42km e tem um caso com Erika (Franciska Weiz). Tudo vai por água a baixo quando Johann, no final de mais uma das suas corridas, assassina de forma não premeditada um comissário encarregue de escrever os relatórios sobre a sua reintegração na sociedade. Ao mesmo tempo, Erika descobre que o namorado é o responsável pelos mediáticos assaltos a bancos, que têm vindo a ocorrer nos últimos tempos. O atleta é preso, consegue fugir e corre sem parar durante horas e horas a fio, acabando por roubar um carro e se fazer à estrada. Porém, uma facada que sofreu quando ainda estava a mote a pé, acaba por ser fatal, em plena autoestrada.
O conceito e os traços gerais da estória tinham tudo para dar um excelente filme. Desiludiu-me, porém. Assistimos, basicamente, a uma correria incessante (quer seja em provas, quer seja a correr do banco para o carro). O próprio actor foi-me indiferente.

Le jour ou Dieu est parti en voyage (dir., Philippe Van Leew, França/Bélgica, 100')
A localização espacio-temporal é a dos terríveis massacres do Ruanda. Jacqueline (Ruth Nirere), numa interpretação de tirar o chapéu, trabalha numa casa de uma família francesa, que consegue fugir, ajudada pelo exército. Nirere esconde-se em casa, assustada, enquanto ouve os rebeldes entrarem e destruírem tudo o que podem, acabando fugir, na manhã seguinte. A partir daqui, é a estória de uma mulher fugida e perseguida, que se esconde numa floresta, onde encontra um homem ferido, na mesma situação que ela. Trata dele (de forma muito pouco ortodoxa - quer dizer, com os recursos que tem) e juntos vivem quase como marido e mulher durante vários dias, sobrevivendo de caça rudimentar, sementes e água de um pequeno riacho. Raramente trocam uma palavra. A certa altura, passamos a assistir a um retrato da loucura a que Jacqueline não conseguiu fugir, um retrato perfeito de toda uma época, num final tocante, de entrega à submissão. A pergunta que fica no ar é "O que farão com ela ?".

10 to 11 (dir,. Pelin Esmer, Turquia, 110')
Uma ficção semi-biográfica (a personagem principal é o tio da realizadora; o próprio actor interpreta-se a si próprio) de um homem, Mithat Esmer, que vive obcecado em coleccionar tudo, na bela cidade de Istambul (como dizem as críticas, esta é a "verdadeira personagem principal"). Certo dia, depara-se com o obstáculo da sua vida: o seu prédio terá de ser demolido. Enquanto que todos os seus vizinhos já se estão a mudar, Mithat, qual velho do restelo, recusa-se firmemente a abandonar o seu barco - enquanto isso, numa propositada indiferença, quase ingénua, continua a sua colecção, sem que possa faltar sequer um único jornal do dia. Os diálogos de Mithat são soberbos e a interpretação (que recebeu uma menção honrosa) está fantástica. A fotografia é bonita.

Guerra Civil (dir., Pedro Caldas, Portugal, 90')
Saí da sala de cinema, inspirei e esbocei um sorriso. Foi revigorante ver que o cinema português sabe mesmo contar (bem) boas histórias. Durante o final do verão de 1982, Rui (Francisco Belard), um adolescente que tem de estudar para os exames de Outubro, vive fechado no seu eu - tem um rato de estimação, quase não fala para a mãe, não vai à praia, ouve música em altos berros, acompanhada de danças estranhas, e faz desenhos de mulheres nuas. Ao mesmo tempo, Joana, animada e descontraída, puxa por ele - dá-lhe nova música (Orange Juice, nomeadamente), enche-o de perguntas engraçadas e desconfortantes sobre a sua vida e os seus desenhos, leva-o até à praia. A rapariga dá-lhe todos os sinais; ele fica sempre de pé atrás. Ele gosta dela, ela quer ... bem, divertir-se. A insegurança e hesitação de Rui levam-no a aperceber-se de que Joana não está verdadeiramente interessada nele - numa festa, por não receber um beijo do nosso "autista", leva outro rapaz pela mão. Engraçado está o facto de Rui encontrar vários casais, ao ir atrás deles, mas nunca vemos quem ele quer. Ao mesmo tempo, a falta de atenção que o seu pai dá a sua mãe, leva-a a procurar a paixão num rapaz muito mais novo. Um escaldante caso de verão, que não termina quando o marido chega, assistindo e contribuindo para a deterioração daquela família, após tentativas frustradas de se aproximar do filho. A estruturação do argumento está particularmente deliciosa: a perspectiva de Rui, a perspectiva da sua mãe. Tiro também o chapéu aos três actores principais. Maravilhosa fotografia, excelente iluminação e banda sonora. O filme que mais gostei, dos que vi, deste Indie'10.


Prémios:

Grande Prémio Cidade de Lisboa

«Go Get Some Rosemary», de Ben Safdie e Josh Safdie (EUA)

Prémio de Distribuição Caixa Geral de Depósitos

«La Pivellina», de Tizza Covi e Rainer Frimmel (Itália/Áustria)

Prémio Tobis para melhor Longa-Metragem Portuguesa

«Guerra Civil», de Pedro Caldas (Portugal)

Prémio AIP/Kodak de Melhor Imagem para Longa-Metragem Portuguesa

«Sem Companhia», de João Trabulo (Portugal) – Fotografia: Miguel Carvalho

Menção Honrosa para Melhor Interpretação

Mithat Esmer, actor de «10 to 11», de Pelin Esmer (Turquia)

Curtas-Metragens

Grande Prémio Inatel – ex-aequo:

«Cocoon», de Till Kleinert e Tom Akileminu (Alemanha)

«La Neige Cache l’Ombre des Figuiers», de Samer Najari (Canadá)

Menção Honrosa

«La Harde», de Kathy Sebbah (França)

Prémio Media Recording para Melhor Curta-Metragem Portuguesa

«A History of Mutual Respect», de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt (Portugal)

Menção Especial

«Fuera de cuadro», de Márcio Laranjeira (Portugal)

Prémio Restart para Melhor Realizador Português de Curta-Metragem

Sandro Aguilar, por «Voodoo» (Portugal)

Prémio Novo Talento Fnac (para o realizador da competição nacional de curtas-metragens que se revele um talento emergente)

«Carne», de Carlos Conceição (Portugal)

Prémio AIP de Melhor Imagem para Curta-Metragem Portuguesa (Participação no XVIII International Film Festival of the Art of Cinematography, em Lodz, na Polónia):

«O Verão», de João Dias (Portugal) – Fotografia: Daniel Neves

Prémio RTP 2 Onda Curta

«Enterrez nos chiens», de Frédéric Serve (França)

«Cyclist», de Marc Thuemmler (Alemanha)

Prémio do Público para Melhor Longa-Metragem

«Pelas Sombras», de Catarina Mourão (Portugal)

Prémio do Público para Melhor Curta-Metragem

«Cities on Speed: Bogota Change», de Andreas Mol Dalsgaard (Dinamarca)

Prémio Fipresci

«Castro», de Alejo Moguillansky (Argentina)

Menção Honrosa

«Au Voleur», de Sarah Leonor (França)

Prémio RTP Pulsar do Mundo

«Les Arrivants», de Claudine Bories e Patrice Chagnard (França)

Menção Honrosa

«Barbe Bleue», de Jeanne Gailhoustet e Anne Paschetta (França)

Prémio Amnistia Internacional

«Les Arrivants», de Claudine Bories e Patrice Chagnard (França)

Menção Honrosa

«Ilha da Cova da Moura», de Rui Simões (Portugal)

Prémio Signis – Árvore da Vida

«Pelas Sombras», de Catarina Mourão (Portugal)

Menção Honrosa

«Nenhum Nome», de Gonçalo Waddington (Portugal)

Prémio IPJ para o melhor filme da secção IndieJúnior

«The Six Dollar Fifty Man», de Louis Sutherland e Mark Albiston (Nova Zelândia)

Menção Honrosa

«Plank», de Billy Pols e Liedewij Theisens (Holanda)

Menção Honrosa

«Jacco’s Film», de Daan Bakker (Holanda)

Prémio do Público IndieJúnior Pais & Filhos

«Summer Wars», de Mamoru Hosoda (Japão)

SAPO/IndieLisboa

Saturday, May 1, 2010

Batman III no verão de 2012


Anunciou a Warner Bros. que Christopher Nolan e Christian Bale vão voltar a trabalhar juntos num bat project. Ainda sem data precisa, estima-se que o sucessor de The Dark Knight apareça nos cinemas no verão de 2012, numa altura relativamente próxima de outros geek hits como The Avengers, Startrek II ou um remake do Spiderman em 3D.

Trailer de Buried


Paul Conroy (Ryan Reynolds), americano, está a fazer um trabalho no Iraque quando há um ataque perpetrado por soldados iraquianos. É a última coisa de que Paul se lembra, agora que recuperou a consciência e se vê preso dentro de um caixão com apenas um isqueiro e um telemóvel - está iniciada uma grande corrida contra o tempo.

Ainda se fazem grandes trailers.